quarta-feira, dezembro 30, 2020

Servorum 2020: Confiando no Deus que nos conforta.

"O Consumador da Fé", Abraham Hunter




    Quais palavras marcariam o ano de 2020? Como ele ficou e será conhecido daqui para frente? Em tempos de redes sociais e rápido compartilhamento de informações, o ano de 2020 ficou marcado como um ano onde a rotina de vida, de trabalho, social como um todo, fora afetada. Todos estavam se adaptando a uma nova realidade, inclusive em utilizar os recursos midiáticos. O blog Servorum Dei esteve muito mais presente em sua página no Facebook, com as chamadas “lives” (contando com a participação de todos os seus colaboradores) do que em artigos escritos. Esse ano também foi taxado pelos comentários sociais como um ano a ser esquecido, obliterado de nossas biografias, pois foi um ano de dor e sofrimento para muitos e grandes dificuldades e das mais variadas perdas para outros. Mas, como cristãos, devemos nos perguntar: É exatamente assim que devemos pensar? Podemos encontrar uma parte da resposta no Eclesiastes, de Salomão.

    O livro de Eclesiastes, segundo a imensa massa de comentários judeus e cristãos antigos, fora escrito no final da vida de Salomão, quando este, já no final da vida, olha para trás e tenta transmitir a um (ou vários) discípulos não simplesmente o propósito da vida, mas a utilidade das coisas que usamos para viver. Aparentemente, tudo o que Eclesiastes vê é “vaidade”, a vida humana repleta de coisas vãs, como nuvens passageiras, sem sentido, sendo determinada. Como disse J. I. Packer, por “ciclos periódicos na natureza que parecem não ter propósito”. Todavia, Packer prossegue nos dizendo que o que o Eclesiastes quer é que vejamos as dificuldades e aparente futilidade da vida sem nossos óculos cor-de-rosa, sem nosso achismo de achar que estamos no “centro de comando” de nossas vidas, entendo todos os propósitos de Deus e discernindo o tempo inteiro como sua mão providencial age. Quando nos despojamos de tais pretensões, começamos a enxergar mais claramente e começamos a aprender como viver, sendo que Salomão começa a dar vários conselhos práticos para isso.

    Dentre os conselhos que ele aponta, importa destacar o que está presente no capítulo 7.10:


“Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta”.


        Não devemos entender Salomão erroneamente aqui. É claro que há coisas boas e virtuosas que existiam tempos atrás e que experimentamos em nossas vidas e que a geração presente parece desconhecer (ainda que esquecer virtudes e boas ações são esquecidas  não é uma característica única dessa geração). Mesmo na igreja por vezes devemos orar e desejar para que aquilo que Deus fez no passado por seu povo se repita hoje (Hc 3.1-19). Salomão não é contra a nostalgia, a busca por virtudes esquecidas e muito menos pelo clamor por avivamento. O que Salomão se coloca contra é a tolice de um coração murmurador e amargurado, que de maneira ingrata, por vezes atenta para um passado idealizado (por melhor que fosse, também teve sua poção de angústia e males para lidar), que se esquece que o Deus que agiu naquela época é o mesmo Deus que age em favor de seus filhos hoje. O qual deu boas dádivas para seus filhos ontem é o mesmo que dá boas dádivas para seus filhos hoje, pois Deus é o mesmo ontem, hoje e será para sempre.

    Quantas expectativas, sonhos e projetos foram feitos para 2020 e quanto disso se realizou? Ainda que saibamos de certa forma essa reposta, devemos também, como crentes em Jesus Cristo, termos os olhos abertos para todas as bênçãos e livramentos que o Senhor nos concedeu durante esse ano. Pois só assim teremos condições de orarmos e prestar sábio auxílio para aqueles que experimentaram tantas tragédias este ano, mostrando que, mesmo em meio a tudo, Deus é Santo e Bom, nosso socorro bem presente na hora da angústia e que nos consola mesmo em meio ao vale da sombra e da morte.

    No fim, diante de todos as coisas e aparentes ciclos absurdos da vida, há um Deus que é bom e conduz todos as coisas para o bem daqueles que pertencem a Ele (Rm 8.28). Vivamos para a glória de Deus hoje, sem esquecermos do que ele fez no passado por nós, mas com a santa alegria e esperança em Jesus Cristo, sabendo que ele fará por nós no futuro. O poema de Adam Clarke parafraseia lindamente o que Salomão expressou:


Espere o Resultado, não questionando com ira desgovernada

Porque Deus permite certas coisas. Seus caminhos, ainda que agora

Envoltos em nuvens e trevas, aparecerão certamente

Quando de teus olhos a névoa se dissipar

Até lá, para aprenderes mais submissão à sua vontade

mais sabedoria mostras, do que vãs tentativas

de explorar o que não podes compreender,

e Deus por sábia finalidade, pensou por certo esconder”.

        

 Clarke entendeu que quando estamos com Deus, melhor é o “final das coisas, que o começo delas” (Ec 7.8).

    O blog Servorum Dei deseja a todos os seus leitores um abençoado Ano Novo no Senhor Jesus Cristo.


Feliz Ano Novo!


Soli Deo Gloria

quinta-feira, dezembro 24, 2020

Natal: Celebrando a Luz que vence as trevas.

 

    É comum quando refletimos nessa época acerca do Natal vir à nossa mente imagens de lâmpadas, cânticos e conforto familiar. Tais imagens são não somente propícias, como também adequadas e edificantes, pois a "Luz veio ao Mundo" (Jo 3.19). É absolutamente correto celebrar o nascimento d'Aquele que nos trouxe vida e vida em abundância: O nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo.

    Todavia é importante também atentarmos para o contexto moral e espiritual que existia quando o Verbo de Deus veio ao mundo, e esse contexto revelava um mundo mergulhado em trevas. É isso que nos conta o profeta Isaías:

"O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz, e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou". (Is 9.1-2; Cf. Mt 4.16).


    O dizer profético de Isaías, como registrado pelo Apóstolo Mateus, mostra bem a realidade espiritual e moral do mundo na época do nascimento de Jesus. Nesse contexto, vemos que a morte e o desespero reinam, e a única coisa presente é a desilusão, não restando nenhuma esperança, pois onde há a realidade da morte e do desespero,  mostra-se também a escravidão do pecado e a miséria de uma vida de rebelião: O retrato real da realidade de um mundo mergulhado em trevas. Porém o apóstolo João, movido pelo Espírito, declarou: " A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela" ( Jo 1.5).

   Nessa época de desespero e desesperança, onde tantas pessoas estão enfrentando os mais variados tipos de sofrimento, é mais do que urgente que proclamemos, lembremos e também nos deleitemos n'Aquele que é a nossa paz e esperança em meio ao medo e desolação.  Cristo é o nosso amparo, consolo e refrigério; é ele quem alegra e alegrará o nosso coração em meio às mais variadas tribulações. Há dois mil anos o mundo vivia na região da sombra e da morte, e a bem da verdade ainda vive, mas assim como houve o retumbante coro angelical, assim também hoje, cantemos a plenos pulmões que a luz veio ao mundo e ilumina a todo o homem que vem ao mundo ( Jo 1.9). A Luz resplandece nas trevas. Essa luz resplandece até hoje, pois a Luz do mundo vive e reina para sempre, e muitos que estavam sob o domínio das trevas foram transportados por Deus para o reino do Filho do seu amor (Cl 1.13). E muitos estão sendo transportados até hoje, sendo que Deus está conduzindo muitos filhos à glória.

    Que neste natal possamos anunciar com alegria que as trevas estão se dissipando cada vez mais e a verdadeira luz continua a iluminar a vida de muitos. Um dia, as trevas serão absolutamente dissipadas e as nações andarão na luz do Cordeiro de Deus. Nós estaremos para sempre com o Senhor Jesus. Que possamos lembrar que o Natal é também para os que estão sofrendo, para aqueles que estão na região da sombra e da morte. Que o Senhor Jesus possa resplandecer na vida destes e que igualmente se alegrem com os Filhos de Deus, pois o Senhor Jesus Cristo é a nossa luz e sempre seremos d'Ele. Aleluia!

O blog Servorum Dei deseja a todos os seus leitores um feliz e abençoado Natal! 

Soli Deo Gloria