
Não existe talvez um versículo mais controvertido na Bíblia Sagrada do que o trecho de 1 João 5:7. Contra ele, há o grande número de eruditos cristãos e a maioria dos manuscritos gregos existentes. A grande parte das versões bíblicas modernas como NVI, BLH, NTLH não contém o verso, enquanto outras como a RA colocam-no entre colchetes, na tentativa de mostrar que o verso foi um acréscimo posterior de algum escriba bem intencionado. Para início de conversa, é preciso mostrar que esse assunto não está fechado, pelo contrário, com a publicação em 1999 do livro de Michael Maynard the History of the Debate Over 1 Jo 5:7 a controvérsia ganhou um novo fôlego.
Os argumentos levantados pela maioria dos críticos textuais, eruditos bíblicos e como diria Carlos Eduardo, outros Ph'deuses modernos são os seguintes:
- O verso não está na maioria dos manuscritos gregos existentes do novo testamento.
- O verso não consta nos melhores e mais antigos manuscritos gregos, o Vaticanus e o Sinaítico.
- O manuscrito mais antigo que contém o verso é o da Vulgata Latina chamado r, que é por demais obscuro.
- O verso não consta na Vulgata latina original de Jerônimo.
- O manuscrito gregos que contém o verso são da época da idade média, ou seja, foram influenciados pela Vulgata latina e por isso não passam de meras cópias nessa passagem.
- O verso foi incluído no Textus Receptus, o primeiro texto grego editado do Novo Testamento, por um descuido de Erasmo, que não o incluiu na primeira versão.
Todos esses argumentos soam por demais convincentes, então, por que não retirá-lo da Bíblia? Afinal, a maioria dos eruditos e críticos bíblicos de peso como Bruce Metzger, D. A. Carson, rejeitam-no? Nessa hora devemos lembrar-nos da grande advertência que Deus faz com aqueles que pensam em retirar algum versículo da Sua Palavra. Apesar das celebridades eruditas não concordarem com a genuinidade do verso, há muitos argumento racionais e pressupostos apologéticos e bíblicos para a sua defesa.
É verdade que o trecho em questão não consta na maioria dos manuscritos gregos existentes, porém o verso consta na maioria dos manuscritos latinos, incluindo o Latim antigo( que foi revisado por Jerônimo para a confecção da Vulgata) e a Vulgata de Jerônimo. Os que defendem que o verso não existia no autógrafo da vulgata se baseiam no argumento que os manuscritos latinos mais antigos dela não contêm o verso, todavia, se atentarmos para os documentos históricos sobre Jerônimo. Lemos o que ele escreveu sobre o verso: "Escribas irresponsáveis retiraram este trecho dos códices [um tipo de manuscrito] gregos", ora, com esse testemunho do próprio Jerônimo ( que pode ser encontrado no site católico catholic apologetics.net, caso se encontre alguma dificuldade, é fácil acessa-lo pelo google. O site está em inglês), vemos na verdade que o verso pode ter sido retirado desses manuscritos mais antigos da Vulgata por causa de copistas mal intencionados, todavia o verso sobreviveu na maioria dos manuscritos latinos, que chegam ao total de 8.000, ao contrário dos gregos que somam cerca de 5.700 versos.
É absurdo que manuscritos gregos contivessem trechos latinos, pois até hoje existe rivalidade entre essas duas igrejas.
Os manuscritos Sinaitico e Vaticanus são mais antigos, é verdade. Todavia, são os piores existentes (é bem provável que foram por isso que até hoje eles foram preservados), pois se contradizem cerca de 3.000 vezes somente nos evangelhos (segundo o grande erudito anglicano John Burgon e grandes críticos textuais modernos como Wilbur Pickering) e por isso ser objeto de certo desprezo para alguns, como por exemplo de Edward Hills, além da maioria dos críticos saberem disso, porém não afirmarem) e omitem não somente a cláusula, mas quase capítulos inteiros, como o final de Marcos 16:9-20, ou seja, esse manuscritos não são dignos de crédito, apesar de serem quase idolatrados pela maioria de Ph'deuses textuais. Apesar dos manuscritos gregos existentes que contém a cláusula são recentes, eles são perfeitos gramaticalmente, pois se retirarmos o verso no grego, os versículos 6 e 8 não se ligam, mas ficam incoerentes, além do que no grego original a parte que está escrito: "há três que dão testemunho na terra: o Espírito, a água e o sangue, e esses três concordam em um" , literalmente é: " e esses três estão voltados para o UM", que Um é esse que o texto grego que se refere? é simples, basta vermos o que os manuscritos gregos que contém o parêntese joanino, que vem anteriormente a esses versos: "Há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito, e esses três são UM" , vemos que nos manuscritos gregos que contém o verso, não há incoerência alguma, enquanto que os que não contém não ficamos sabendo quem é esse Um, que é encontrado abruptamente no texto. Erasmo não incluiu o verso por descuido, mas por que ele encontrou um manuscrito grego que o continha, o Manuscrito 61. A maior parte desse mito foi propagada por críticos textuais como Metzger, além do que, segundo especialistas modernos em Erasmo, a história de que ele fez uma aposta para ver se encontrava o verso em algum manuscrito não passa de uma lenda.
Para mim, na verdade, a maior prova de que esses versículos são autênticos é por que sabemos que Deus preserva a Sua Palavra através dos séculos, ele é Soberano e sabemos: Ele cuida da Sua Palavra, ainda que homens busquem pervertê-la, as Suas Palavras jamais passarão. Lembremos também daquilo que João Calvino falou, ironicamente, baseado em 1 Jo 5:7, o testemunho do Espírito é superior a qualquer argumento. Por isso confiemos em Jesus, pois Ele mesmo dá testemunho, pelo Seu Espírito, da veracidade da Sua Palavra. É nesse testemunho que devemos nos apegar, tanto eu quanto você. Lembremos da palavra de Lutero: "Diante da Escritura, todos precisam ceder!"
Soli Deo Gloria