sábado, dezembro 31, 2022

Servorum 2022: Tendo um futuro e uma esperança

"A Cidade Celestial", por Douglas Ramsey


O ano de 2022 já chega ao fim e um novo ano começa a se preparar para despontar no horizonte. É comum, nesse período, se fazer reflexões do que passou e do que se fez e também resoluções do que se pretende fazer. Com os membros deste blog, não fora diferente. 

O ano de 2022 praticamente não colhera artigos neste espaço, mas isso se deve aos mais variados motivos, sendo um dos principais o retorno das atividades corriqueiras que se tinha na época pré-pandemia (mostrando que o conceito de "novo normal" não era tão inovador assim), bem como lidar com vários desafios deixados pela pandemia, quer no âmbito pessoal, social, eclesiástico e mesmo espiritual. Nesse aspecto, é sempre importante lembrarmos das promessas que Deus faz na Bíblia.

No período do cativeiro de Israel, o povo experimentara um clima de derrota. Eles haviam fracassado constantemente em cumprir os termos da Aliança e, como povo de Deus, haviam o desobedecido e fracassado. O resultado disso fora a terrível queda nas mãos de Nabucodonosor, rei babilônico. Jerusalém fora destruída e o povo levado cativo. Neste cenário sem esperança, Deus usa o profeta Jeremias e este, em nome do Senhor, encoraja o povo cativo a viver uma vida boa e justa aos olhos de Deus, mesmo em terra estranha. Então, a promesa de que o povo voltaria à terra de Israel é feita:

Porque assim diz o SENHOR: Certamente que passados setenta anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar. Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. 

Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei.

E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração (Jr 29.10-13).


O povo de Israel deveria se arrepender dos seus pecados e orar a Deus, sabendo que era necessário esperar setenta anos para finalmente voltar para a terra prometida. Israel deveria olhar para o futuro e se alegrar, pois  Deus tinha para com eles "pensamentos de paz e não de mal" e que também daria a estes "O fim que esperais". De maneira interessante, a expressão "o fim que esperais" também pode ser traduzido como "A recompensa que esperais" ou mesmo " Um futuro com esperança", sendo que a palavra "esperança" na língua original basicamente significa "corda". Deus daria uma corda para que Israel se mantivesse, esperasse e mesmo vivesse. Israel deveria entender que a esperança de futuro se encontrava não em meras resoluções durante estes setentas anos, mas em Deus, que controla os anos e as estações. Só assim, poderiam realmente viver com esperança sendo que a esperança é uma das marcas da fé cristã, pois a esperança do crente, bem como de Israel também, se encontra unicamente em Cristo Jesus (At  28:20).

Muitos foram os desafios, mas também muitas foram as bênçãos derradas a cada membro deste blog. Todavia, sabemos que podem passar os anos e as resoluções, mas o que realmente nos garante um futuro e esperança e termos Cristo agora, no presente, firmes na fé, sabendo da maravilhosa glória que ainda vai se manifestar no futuro. Deus não somente nos dá uma "corda" de esperança, mas verdadeiramente uma âncora, como nos conta o autor de Hebreus:

Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento;
Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta;
A qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu
Onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.  Hebreus 6:17-20 


Que neste ano de 2023 nossa esperança resplandeça mais e mais gloriosa em nossa vida e todas as nossas resoluções e bênçãos reflitam nossa confiança em Deus, pois sabemos que cada vez mais o tempo para a vinda de Nosso Senhor Jesus se aproxima e então, como diz o texto de Jeremias, os planos de Deus para nós se cumprirão e teremos a recompensa que esperamos e que define verdadeiramente a vida daquele que crê em Cristo. Aleluia!

O blog Servorum Dei deseja a todos os seus leitores um feliz e próspero 2023 em Cristo Jesus, esperança nossa. Amém.

Soli Deo Gloria



sábado, dezembro 24, 2022

Natal: Encontrando a Luz das nações e a Alegria do povos.


Quando se lê os relatos evangélicos acerca do nascimento de Jesus ou até mesmo se observam os enfeites natalinos, algo que se nota rapidamente é o uso intenso da luzes ou luzeiros, quer em árvores de natal, quer em decorações na sala, quer seja em outros lugares.

Nos Evangelhos, o conceito de "luz", dentro de um âmbito espiritual,  aparece com frequência. No Evangelho de João, o próprio Senhor Jesus afirma ser a "Luz do Mundo" (Jo 8:12). A declaração do Mestre certamente se relaciona com o que foi predito pelo profeta Isaías:

"O Povo que andava em trevas viu uma grande luz, e aos que habitavam na região da sombra e morte a luz raiou" ( Is 9:2). 

Tal profecia encontra cumprimento em Mateus 4.14-15, quando Jesus iniciou seu ministério e formou seus primeiros discípulos, porém muito antes, enquanto Jesus era ainda um bebê, Simeão louvara a Deus¹, pois seu olhos haviam visto "a tua salvação... luz para iluminar as nações e para a glória do teu povo Israel". Desde o início, a palavra luz não só descreveria o ministério, mas o próprio Senhor.


A Palavra "luz" no grego de Mateus e Lucas é "phôs" de onde provém a palavra "fósforo" em nosso vocabulário. Mais interessante ainda, é que no cântico de Simeão em Lucas, o texto grego literalmente diz que Jesus é a "luz para a Revelação aos gentios", o que expressa bem o significado teológico da palavra "Luz", a luz liberta da trevas, trevas de ignorância, alienação, rebeldia e condenação oriundas do pecado. É por isso que João pode exclamar com convicção no início de seu evangelho: "E a luz resplandece nas trevas e as trevas não prevaleceram contra ela" (Jo 1:5). Essa luz, Cristo, veio ao mundo, de maneira explícita e clara, para todas as nações verem. E isso, em nossa vida, deve fazer toda a diferença. Trazendo luz  para os que estão em trevas.

De maneira interessante, vemos no registro de Lucas, um pouco antes do cântico de Simeão, o cântico de Zacarias², onde este diz a seu filho João Batista algo muito semelhante acerca do que se diz sobre Jesus:  

"E tu, ó menino, serás chamado profeta do altíssimo, porque hás de ir ante a face do Senhor, para dar ao seu povo conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados... para alumiar os que estão assentados em trevas e sombra de morte, a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz" (Lucas 1:76,77). 

Um detalhe importante: A palavra traduzida na ARC como "alumiar", no grego original é "phanerô",

Imagem clássica na Arte Cristã, 
junta-se os episódios dos magos 
e dos pastores como se fossem um só.

que tem o sentido básico de "manifestar", "aparecer", "tornar-se visível". João Batista deveria não "iluminar" no sentido dele ser a luz. João deveria mostrar a Luz. Cristo é a luz³. Esse dever, tão solene para João Batista, deve ser o de todo aquele que se confessa cristão: Manifestar a luz do evangelho, levar o próprio Cristo para aqueles que estão em trevas, ou no dizer do apóstolo João, ser uma "testemunha da luz" como assim foi João Batista. O mundo espiritualmente morto cada vez mais condena a si mesmo diante de Deus e o nível de ignorância e alienação da Palavra tem estado intenso, levando muitos a permanecerem eternamente nas trevas. Porém, a genuína mensagem de Natal é clara: A luz veio ao mundo, a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo (Jo 1.9), trazendo conhecimento da salvação a todo aquele que n'Ele crê.

Conclusão: Andemos sempre na sua Luz.

Que neste natal, a Luz do conhecimento de Deus, através de Cristo Jesus, possa brilhar em nossos corações, para que vejamos a salvação e também manifestemos essa Maravilhosa luz, o Senhor Jesus Cristo, nossa salvação, a todo aquele que ainda está em trevas. Até o glorioso dia, em que todas a nações serão guiadas pela sua Luz, que ilumina a Cidade de Deus (Ap 21.23-24). AMÉM.

O Blog Servorum Dei deseja a todos um Feliz Natal!


 Soli Deo Gloria


Notas:

1. O cântico de Simeão é conhecido dentro da tradição musical cristã como "Nunc Dimitis", que são as primeiras linhas do Cântico na versão latina da Bíblia. "Nunc dimitis" significa em tradução livre "Agora me deixas ir [Senhor]".

2. Na tradição musical cristã o Cântico de Zacarias é chamado de "Benedictus" e assim como o Nunc Dimitis, é oriundo das primeiras palavras do Cântico e significa "Bendito Seja".

3. O Apóstolo João é claro em suas palavras acerca de João Batista: "Ele [João] não era a luz, mas veio para dar testemunho da Luz" (Jo 1.8).

sábado, abril 16, 2022

A Páscoa, o Ladrão e o Reino - Uma análise.


"A oração do Ladrão arrependido", por James Tissot.



Um dos momentos mais conhecidos nos relatos da Paixão de Cristo é a oração do ladrão arrependido, também comumente conhecida como a oração do ladrão na cruz, onde um dos ladrões (uma plavra mais adequada seria “salteador”) que estava ao lado do Senhor Jesus faz uma declaração de fé e petição, a qual o Senhor Jesus prontamente responde:  Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”, declaração essa que tem ressoado no decorrer da história na vida de milhares de pessoas que encontraram a Cristo quase no último sopro que lhes restavam. Porém, ao lermo o Evangelho de Lucas, talvez perguntemos até onde fora o conhecimento salvífico deste homem. Uma análise mais detalhada na própria confissão do ladrão impenitente pode nos indicar, juntamente com o contexto da sua crucificação, quem ele era.

Ao fazermos uma análise do trecho do evangelho de Lucas, capítulo 23:42, constata-se é a forma como o pedido do condenado é dirigida a Jesus: "Senhor, lembra-te de mim quando vieres no teu Reino"¹. Duas coisas são notáveis aqui: a expressão "Senhor" e "Reino". Aqui, por "Reino", claramente este se refere a um tema constante nos evangelho sinópticos e no próprio ministério de Jesus.

 A “teologia do Reino” está presente de maneira notável nos evangelhos sinópticos, sendo que logo no início do Evangelho de Mateus, Jesus afirma que o Reino “está próximo” (podendo inclusive ser traduzido como “é chegado”), algo pregando anteriormente peloo próprio João Batista, o que indica, nas palavras do teólogo holandês Herman Ridderbos, que  a expressão Reino dos céus não era deconhecida daqueles a quem sua mensagem era dirigida, mas tinha sido calculada para produzir uma reação imediata por partes dos ouvintes"². Basicamente, a expressão Reino de Deus, ou dos "Céus" como diz Mateus, não está registrada no Antigo Testamento, mas está fortemente enraizada nele e fora desenvolvida no que chamamos de período interbíblico, que cobre o período de tempo entre a finalização do Novo Testamento e o aparecimento de João Batista. Havia uma forte expectativa com relação a vinda deste Reino celestial, onde Deus, através do seu Messias, vindicaria a honra do povo de Israel, libertaria o seu povo do domínio estrangeiro e traria as bençãos grandiosas de paz e prosperidade sem igual, como profetizadas pelos profetas. Dentro desse contexto, havia aqueles que procuravam estabelecer o Reino de Deus à força, em revolta armada contra Roma. grupos como os Sicários e Zelotes estava presentes entre as multidões do povo de Israel, derramando sangue quando necessário para esta causa.  É dentro desse contexto que entram Barrabás e os outros dois crucificados ao lado de Jesus.

Faz-se notável a confissão do Ladrão na cruz em Lucas. Como dito anteriormente, não se deve entender “ladrão” aqui como um criminoso qualquer. Analisando a passagem paralela no Evangelhos e Marcos, Grant Osbourne afirma: "é provável que fossem dois bandidos revolucionários capturados com Barrabás"³. Não era simplesmente um "badido" qualquer mas um “salteador”, alguém que talvez estivesse envolvido em um tipo de sedição contra Roma. O fato é que esse homem certamente é Judeu e vivia na expectativa da aparição do Reino. A questão dele  se dirigir a Jesus como “Senhor” não se trata de uma variante errada de um copista (como muitos criticos textuais afirmam, preferindo uma leitura extremamente minoritária on de ao invés de "Senhor", lê-se apenas "Jesus") ou um mero embelezamento teológico de Lucas colocado na boca do ladrão. Na verdade, ali, na cruz, o ladrão reconhece Jesus como o Messias e Rei.  Mesmo não tendo talvez uma compreensão tão refinada acerca da profundidade de chamar Jesus de Senhor, demonstra uma genuína fé e reconhece que Jesus traria, em definitivo, esse reino na Terra!

Neste período onde historicamente a igreja celebra a páscoa Cristã, é digno de nota atentarmos para a oração do ladrão na cruz. Ele almejava pelo Reino de Deus. Essa oração está sendo cumprida: Com Jesus, o Reino de Deus é revelado e exposto, pois ele é O Messias prometido, o Rei de Israel. Cristo ressuscitou dentre os mortos e há de vir novamente para julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino ( 2 Tm 4: 13), sendo que espirtualmente, todo o crente já experimenta espiritualmente a presença desse Reino pelo Espírito. Que o nosso clamor seja “Venha o teu Reino”, pois do Senhor é “O Reino, o poder e a glória para sempre” (Mt 6:13). Amém

Cristo está vivo!

 Feliz Páscoa

Soli Deo Gloria


NOtas:

1. Para uma análise mais técnica acerca da variante textual comumente encontrada nas versões bíblicas, leia o artigo semelhante a este no blog Scriptum Est.

2. RIDDERBOS, Herman. A Vinda do Reino.Tr. Augustus Nicodemus Lopes & Minka Schalkwijk Lopes. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 35

3. OSBORNE, Grant. Marcos.Tr. Susana Klassen. São Paulo: Vida Nova, 2019.p. 301

sexta-feira, dezembro 31, 2021

Servorum 2021: perseverando no trabalho que nunca é vão.


"O Escudo da Fé", por Douglas Ramsey.


Com o final de 2021, as reflexões de final de ano começam a surgir e, com o blog Servorum Dei, não seria diferente. Diante do cenário ainda meio instável do mundo, 2021 fora um ano de desafios e de lutas, para alguns, foi como se este ano que se finda fora um anexo, ou melhor, uma extensão de 2020, com sua cargas de lutas, desafios e tristezas, algo que este escritor sentira em vários momentos e os demais autores deste blog não estiveram livres de sua parcela, porém na vida cristã isso de forma alguma se torna uma surpresa. O autor da Epístola aos Hebreus (identificado por muitos eruditos na igreja antiga e alguns na atualidade com o apóstolo Paulo), releva a natureza das aflições e sofrimentos na vida do crente:



Porque o Senhor corrige o que ama,E açoita a qualquer que recebe por filho.
Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?
Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.
Hebreus 12:6-8



Os sofrimentos na vida do crente não possuem o propósito de simples punição, mas de correção e purificação. O autor prossegue afirmando em sua epístola que o fruto do sofrimento dentro do propósito de Deus não traz desânimo ou desolação, mas sim comunhão com um Deus Santo, nos tornando mais santos, bem como nos trazendo um pacífico fruto de justiça (vrs 11). 

O sofrimento na vida do crente, bem como lutas e demais aflições, não somente nos santificam, mas nos tornam aptos a sermos cada vez mais santos, pois tiram nossas distrações corriqueiras (se há algo que nossa sociedade está tão habituada, certamente são as distrações) e nos trazem novamente para o foco em Cristo, bem como nos leva a pensar nas coisas de cima ( Cl 3:2-3).

Porém, a vida cristã não somente traz desafios, mas também conforto e alegria pela graça de Deus, a bem da verdade, constante o novo testamento nos incentiva a permanecermos alegres mesmo diante da tribulação ou angústia, pois alegria é uma marca essencial da vida cristã, bem como faz parte do fruto do Espírito. Devemos supotar com gozo as afliçoes do tempo presente sabendo que esta seguramente reservado para nos uma alegria futura que será eterna e foi conquistada por Cristo ( Hb 12: 1-2) Tanto a alefria que temos quanto a tristeza que passamos contribuem para o nosso bem, como bem afirmou o apóstolo Paulo (Rm 8:2 ) e podemos afirmar com certeza, que as lutas, os sedafios, as aflições, bem como a Paz e o Gozo de uma vida mansa e sossegada farão parte do bom propósito de Deus para nós e para a glória do Seu Nome.

Novos desafios virão, novas alegrias virão, mas quer passando por aflições ou lutas, estejamos sempre alegres e preseverantes, pois como bem disse o apóstolo Paulo inspirado pelo Espírito:

" Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constanstes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" ( 1 Co 15:58).

o blog Servorum Dei deseja a seus leitores um Feliz 2022, cheio das bençãos de Deus, no amor de nosso Senhor Jesus Cristo.

Amém!

Soli Deo Gloria

quinta-feira, dezembro 23, 2021

Natal: Sigamos a estrela, achemos o Rei.

 


No decorrer da histrória da igreja, vários teólogos e estudiosos da Bíblia propuseram explicações sobre o episódio da Estrela que guiara os magos até Belém.  Dentre as mais variadas explicações mais naturalistas encontramos hipóteses como a estrela podendo ser o cometa Halley, uma supernova, ou até mesmo um alinhamento de planetas¹. Apesar de serem explicações interessantes, uma lida atenta no texto de Mateus indica algo diferente.

Primeiramente, não se indica que a estrela apareça claramente a todos, mas apenas aos magos (cf. Mt 2.2;7), primeiramente aparecera a eles no oriente e depois aparecera novamente quando estes estavam procurando pelo Senhor em Jerusalém (Cf. vrs 9), em segundo lugar, a estrela parara exatamente onde estava o menino, trazendo excelsa alegria ao coração daqueles homens.

A estrela, portanto, não era algum fenômeno natural, mas uma manifestação espiritual, sendo que uma ação angelical não pode ser descartada, haja vista os anjos serem constantemente associados com as estrelas do céu ( Jó 38.7).

De maneira interessante, Mateus não associa o aparecimento da estrela com a profecia de Balaão:


Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete.


Todavia, deve-se notar que enquanto que no relato de Mateus uma estrela guia os magos, na profecia de Balaão temos a figura do Rei que chamado propriamente de "estrela" e  "cetro", indicando assim suas características reais. Diante de tudo isso, cabe notar importantes aspectos teológicos e de riqueza espiritual nessa época natalina.


- A estrela vai até o menino.

    A astrologia, mesmo em sua forma mais popular, é famosa até hoje. Os homens em geral procuram uma direção, algo que os guie, algo que está acima deles e, nesse caso, apelam para as estrelas. Todavia, como bem evidenciado pelo pai da Igreja Gregório de Nanziazeno citado por Joseph Ratzinger, no relato de Jesus e dos magos há o fim da astrologia, pois aqui, o astro celeste gira e aponta para o menino. A bem da verdade, a glória a Deus nas alturas no hino angelical é relacionada com a majestade do menino nascido de maneira humilde. A Ele, Jesus Cristo, todas as coisas convergem, pois ele está acima de todas as coisas e governa todas as coisas (cf. Cl 1:16-18). No dizer de Joseph Ratzinger: "Não é a estrela que determina o destino do menino, mas o é o menino que guia a estrela"². Não é às estrelas que o nosso destino pertence, mas ao Deus soberano que governa o céu e a terra!


- Não tenha medo de se aproximar do Rei:

Quando os magos viram que a estrela parara onde estava o menino, a Bíblia relata que estes se alegraram com grande alegria. A alegria é fundamental nesta época de natal, pois relembramos aquilo que Deus fez por nós há dois mil anos e continua atual e relevante até hoje: Deus veio a este mundo, o verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:14), não existe nada mais deleitoso que se encontrar com o Rei com um coração submisso. Quando os magos entraram na casa e viram o menino, o "adoraram". Que essa atitude dos magos também seja a nossa: adoremos a Deus com alegria, pois Cristo Jesus, nosso Salvador, já nasceu, e que n'Ele possamos depositar a nossa confiança e direção para as nossas vidas. Aleluia!

O Blog Servorum Dei deseja a todos os seus leitores um feliz Natal!

 Soli Deo Gloria



Notas:

1. Donald B. DeYoung, em sua obra Astronomy and The Bible, dedica uma pequena seção para lidar com as teses naturalistas acerca da estrela em Belém, segundo ele: " O cometa HAlley estava presente em 11 a.C, mas o primeiro natal aconteceu entre em 5-7 a.C. Outros creem que   a estrela em Belém era era uma conjunção, ou ajuntamento de planetas, no céu à noite.  [...] Todavia, múltiplos planetas não aparentam como uma fonte única de luz, como descrito na Escritura. [...] Finalmente, uma estrela explosiva, ou supernova, tem sido proposta para explicar a estrela natalina [....] todavia, os relatos históricos  não indicam uma supernova na época do nascimento do Senhor" (cf. DEYOUNG, Donald B. Astronomy and the Bible: questions and answers.Grand Rapids: Baker Book House, 1989.p.65)

2.  RATZINGER, Joseph. A Infância de Jesus. Tr.  Bruno Bastos Lins. São Paulo: Planeta, 2012. p. 86.

quarta-feira, dezembro 30, 2020

Servorum 2020: Confiando no Deus que nos conforta.

"O Consumador da Fé", Abraham Hunter




    Quais palavras marcariam o ano de 2020? Como ele ficou e será conhecido daqui para frente? Em tempos de redes sociais e rápido compartilhamento de informações, o ano de 2020 ficou marcado como um ano onde a rotina de vida, de trabalho, social como um todo, fora afetada. Todos estavam se adaptando a uma nova realidade, inclusive em utilizar os recursos midiáticos. O blog Servorum Dei esteve muito mais presente em sua página no Facebook, com as chamadas “lives” (contando com a participação de todos os seus colaboradores) do que em artigos escritos. Esse ano também foi taxado pelos comentários sociais como um ano a ser esquecido, obliterado de nossas biografias, pois foi um ano de dor e sofrimento para muitos e grandes dificuldades e das mais variadas perdas para outros. Mas, como cristãos, devemos nos perguntar: É exatamente assim que devemos pensar? Podemos encontrar uma parte da resposta no Eclesiastes, de Salomão.

    O livro de Eclesiastes, segundo a imensa massa de comentários judeus e cristãos antigos, fora escrito no final da vida de Salomão, quando este, já no final da vida, olha para trás e tenta transmitir a um (ou vários) discípulos não simplesmente o propósito da vida, mas a utilidade das coisas que usamos para viver. Aparentemente, tudo o que Eclesiastes vê é “vaidade”, a vida humana repleta de coisas vãs, como nuvens passageiras, sem sentido, sendo determinada. Como disse J. I. Packer, por “ciclos periódicos na natureza que parecem não ter propósito”. Todavia, Packer prossegue nos dizendo que o que o Eclesiastes quer é que vejamos as dificuldades e aparente futilidade da vida sem nossos óculos cor-de-rosa, sem nosso achismo de achar que estamos no “centro de comando” de nossas vidas, entendo todos os propósitos de Deus e discernindo o tempo inteiro como sua mão providencial age. Quando nos despojamos de tais pretensões, começamos a enxergar mais claramente e começamos a aprender como viver, sendo que Salomão começa a dar vários conselhos práticos para isso.

    Dentre os conselhos que ele aponta, importa destacar o que está presente no capítulo 7.10:


“Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta”.


        Não devemos entender Salomão erroneamente aqui. É claro que há coisas boas e virtuosas que existiam tempos atrás e que experimentamos em nossas vidas e que a geração presente parece desconhecer (ainda que esquecer virtudes e boas ações são esquecidas  não é uma característica única dessa geração). Mesmo na igreja por vezes devemos orar e desejar para que aquilo que Deus fez no passado por seu povo se repita hoje (Hc 3.1-19). Salomão não é contra a nostalgia, a busca por virtudes esquecidas e muito menos pelo clamor por avivamento. O que Salomão se coloca contra é a tolice de um coração murmurador e amargurado, que de maneira ingrata, por vezes atenta para um passado idealizado (por melhor que fosse, também teve sua poção de angústia e males para lidar), que se esquece que o Deus que agiu naquela época é o mesmo Deus que age em favor de seus filhos hoje. O qual deu boas dádivas para seus filhos ontem é o mesmo que dá boas dádivas para seus filhos hoje, pois Deus é o mesmo ontem, hoje e será para sempre.

    Quantas expectativas, sonhos e projetos foram feitos para 2020 e quanto disso se realizou? Ainda que saibamos de certa forma essa reposta, devemos também, como crentes em Jesus Cristo, termos os olhos abertos para todas as bênçãos e livramentos que o Senhor nos concedeu durante esse ano. Pois só assim teremos condições de orarmos e prestar sábio auxílio para aqueles que experimentaram tantas tragédias este ano, mostrando que, mesmo em meio a tudo, Deus é Santo e Bom, nosso socorro bem presente na hora da angústia e que nos consola mesmo em meio ao vale da sombra e da morte.

    No fim, diante de todos as coisas e aparentes ciclos absurdos da vida, há um Deus que é bom e conduz todos as coisas para o bem daqueles que pertencem a Ele (Rm 8.28). Vivamos para a glória de Deus hoje, sem esquecermos do que ele fez no passado por nós, mas com a santa alegria e esperança em Jesus Cristo, sabendo que ele fará por nós no futuro. O poema de Adam Clarke parafraseia lindamente o que Salomão expressou:


Espere o Resultado, não questionando com ira desgovernada

Porque Deus permite certas coisas. Seus caminhos, ainda que agora

Envoltos em nuvens e trevas, aparecerão certamente

Quando de teus olhos a névoa se dissipar

Até lá, para aprenderes mais submissão à sua vontade

mais sabedoria mostras, do que vãs tentativas

de explorar o que não podes compreender,

e Deus por sábia finalidade, pensou por certo esconder”.

        

 Clarke entendeu que quando estamos com Deus, melhor é o “final das coisas, que o começo delas” (Ec 7.8).

    O blog Servorum Dei deseja a todos os seus leitores um abençoado Ano Novo no Senhor Jesus Cristo.


Feliz Ano Novo!


Soli Deo Gloria

quinta-feira, dezembro 24, 2020

Natal: Celebrando a Luz que vence as trevas.

 

    É comum quando refletimos nessa época acerca do Natal vir à nossa mente imagens de lâmpadas, cânticos e conforto familiar. Tais imagens são não somente propícias, como também adequadas e edificantes, pois a "Luz veio ao Mundo" (Jo 3.19). É absolutamente correto celebrar o nascimento d'Aquele que nos trouxe vida e vida em abundância: O nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo.

    Todavia é importante também atentarmos para o contexto moral e espiritual que existia quando o Verbo de Deus veio ao mundo, e esse contexto revelava um mundo mergulhado em trevas. É isso que nos conta o profeta Isaías:

"O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz, e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou". (Is 9.1-2; Cf. Mt 4.16).


    O dizer profético de Isaías, como registrado pelo Apóstolo Mateus, mostra bem a realidade espiritual e moral do mundo na época do nascimento de Jesus. Nesse contexto, vemos que a morte e o desespero reinam, e a única coisa presente é a desilusão, não restando nenhuma esperança, pois onde há a realidade da morte e do desespero,  mostra-se também a escravidão do pecado e a miséria de uma vida de rebelião: O retrato real da realidade de um mundo mergulhado em trevas. Porém o apóstolo João, movido pelo Espírito, declarou: " A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela" ( Jo 1.5).

   Nessa época de desespero e desesperança, onde tantas pessoas estão enfrentando os mais variados tipos de sofrimento, é mais do que urgente que proclamemos, lembremos e também nos deleitemos n'Aquele que é a nossa paz e esperança em meio ao medo e desolação.  Cristo é o nosso amparo, consolo e refrigério; é ele quem alegra e alegrará o nosso coração em meio às mais variadas tribulações. Há dois mil anos o mundo vivia na região da sombra e da morte, e a bem da verdade ainda vive, mas assim como houve o retumbante coro angelical, assim também hoje, cantemos a plenos pulmões que a luz veio ao mundo e ilumina a todo o homem que vem ao mundo ( Jo 1.9). A Luz resplandece nas trevas. Essa luz resplandece até hoje, pois a Luz do mundo vive e reina para sempre, e muitos que estavam sob o domínio das trevas foram transportados por Deus para o reino do Filho do seu amor (Cl 1.13). E muitos estão sendo transportados até hoje, sendo que Deus está conduzindo muitos filhos à glória.

    Que neste natal possamos anunciar com alegria que as trevas estão se dissipando cada vez mais e a verdadeira luz continua a iluminar a vida de muitos. Um dia, as trevas serão absolutamente dissipadas e as nações andarão na luz do Cordeiro de Deus. Nós estaremos para sempre com o Senhor Jesus. Que possamos lembrar que o Natal é também para os que estão sofrendo, para aqueles que estão na região da sombra e da morte. Que o Senhor Jesus possa resplandecer na vida destes e que igualmente se alegrem com os Filhos de Deus, pois o Senhor Jesus Cristo é a nossa luz e sempre seremos d'Ele. Aleluia!

O blog Servorum Dei deseja a todos os seus leitores um feliz e abençoado Natal! 

Soli Deo Gloria