Desde o século XVI, o mundo cristão testemunhou um dos maiores rompimentos dentro da igreja católica desde 1054, quando houve a separação entre os cristãos do ocidente (catolicismo romano) e do oriente (ortodoxia oriental). Encabeçada pelo monge alemão Martinho Lutero, a reforma protestante trouxe em seu bojo uma doutrina fundamental: A salvação, que provinha da graça, seria recebida unicamente pela fé em Cristo. No âmbito da igreja medieval, isso mexera com toda a estrutura católica. Lutero a classificou como doutrina fundamental, uma doutrina pela qual a igreja se firma ou cai1. Na igreja católica da época de Lutero, as indulgências, os ritos penitenciais e outros elementos seriam meios para receber e garantir a salvação. Tudo isso tumultuou a vida de Lutero, pois ele reconhecia que não conseguia realmente ser aceito por Deus pelo ato de realizar obras meritórias, nem tampouco a “mediação dos santos” podia fazer algo a respeito. Após estudar profundamente a epístola ao Romanos, e depois Gálatas, as trevas desapareceram, e Lutero pôde entender o que Deus quer não são simplesmente atos externos e uma tentativa de comprar a salvação, mas sim a confiança nos méritos de Cristo, em sua morte e em sua ressurreição. Em outras palavras, a salvação é um dom de Deus, e não algo conquistado pelo esforço humano. Com isso, ocorreu um divisor de águas na teologia, na doutrina e na própria dinâmica da vida cristã.
A Bíblia está repleta de passagens onde mostra que o ser humano
por si mesmo nada pode fazer por sua salvação, pois vive em estado
de pecado (Cf. Sl 14.1-2; Rm 3.9-12), por isso sua justiça é
repugnante para Deus(Cf. Is 64.6). Portanto é Deus que providenciou a
salvação humana enviando a seu filho Jesus Cristo, para que todo o
que crê não pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3.16) e somente
através d'Ele nos tornamos inocentes diante de Deus2.
Contrariando o pensamento vigente na época em que Lutero escreveu
suas 95 teses, e que ainda reverbera em muitas mentes, tanto
católicas quanto protestantes que o ser humano, de alguma forma,
deve se preparar e estar apto para receber a graça3
, a fé protestante evangélica sustenta que o ser humano se encontra
no lamaçal do pecado e é Deus que providencia e opera a salvação
no coração do homem. As obras não são condições básicas para a
salvação. Como diz o teólogo Norman Geisler: “Se a salvação não
fosse unicamente por fé, toda a mensagem do evangelho de João seria
fraudulenta...Quando lhe perguntaram: 'Que faremos para executarmos
as obras de Deus?' Jesus respondeu: 'a obra de Deus é esta: que
creiais naquele que ele enviou' (Jo 6.29). Simplesmente falando, não
existe mais nada que possamos fazer para a nossa justificação –
Jesus já fez tudo (Jo 19.31)”4
.
Com isso, vemos que a Justificação pela fé (Sola fide) é algo a ser depositado unicamente em Cristo como único mediador entre Deus e os homens (Solus Christus - 1 Tm 2.5), com isso toda a mediação dos santos cai igualmente por terra. Portanto, a doutrina da justificação pela fé dá o entendimento necessário e adequado do que é ser um protestante e evangélico. Isso nos diferencia tanto histórica quanto teológica e doutrinariamente. Em dias de ecumenismo religioso pueril, onde muitos que ostentam o nome “protestante” devem lembrar realmente dos fundamentos da Reforma e da fé evangélica. Não há como classificar de genuinamente evangélica uma doutrina de fé que adiciona algo ao evangelho de Cristo (Gl 1.8). Desviar-se da doutrina da justificação pela fé é indubitavelmente afastar-se da própria verdade cristã.
Notas:
1 OLSON,
Roger. História da Teologia Cristã. Tr. Gordon Chow. São
Paulo: Editora Vida, 2001.p. 399.
2 A
palavra “justificar” (do gregro \”dikaio”), significa,
basicamente ,”tornar justo”.
3 Uma
interessante análise sobre isso se encontra em RUPP, E. Gordon.
WATSON, Philip S(ORG). Lutero e Erasmo: Livre arbítrio e
Salvação. Tr. Nélio Schineider. São Paulo: Editora Reflexão,
2014.
4 GEISLER,
Norman. Teologia Sistemática – volume 2.Tr. Marcelo Gonçalves e
Degmar Ribas. Rio De Janeiro: CPAD, 2010. p.236.
Um comentário:
Aí, moçada do GQL: um grande abraço, Feliz Natal e um abençoado 2015 para vocês e suas distintas famílias. Em 2015 este Leão (GQL) vai rugir com muito entusiasmo.
Do irmão João Cruzué
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