terça-feira, dezembro 23, 2014

Concebido pelo Espírito: O Maravilhoso Nascimento do Filho de Davi


"O nascimento de cada criança é um evento maravilhoso; traz a existência uma alma que jamais morrerá. Mas, desde que há mundo, jamais houve nascimento tão maravilhoso quanto o de Jesus".

J. C. Ryle, Meditações no Evangelho de  Lucas


Muitos crentes se perguntam acerca da relevância das genealogias. Muitos outros, em sua leitura devocional, passam por cima das genealogias no livro de Crônicas e em outras passagens. Todavia, os crentes bem sabem que tudo o que está escrito foi escrito tendo em vista nosso bem espiritual (Rm 15.4). As genealogias bíblicas relatam algo importante: A ação de Deus ocorre na história, no tempo e no espaço. A Bíblia é um livro fincado na história, e não meramente um relato lendário, sobre algo que é alheio a realidade objetiva e confinado a uma experiência religiosa subjetiva. No nascimento de Nosso Senhor, isso se reveste de importância especial. Dos quatro evangelhos, o de Mateus e Lucas apresentam as genealogias de Cristo, sendo que ambas se situam em um contexto importantíssimo: Ambas são de um homem que nasceu de forma extraordinária, do homem que nasceu de uma virgem.

No evangelho de Mateus, as palavras introdutórias são:

"Livro da Geração de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão" (Mt 1.1).

Com isso, o apóstolo procura estabelecer  as credenciais de Jesus,ele é descendente do rei Davi, ele é igualmente descendente de Abraão. Em Abraão se tem a promessa que todas as famílias da terra seriam abençoadas através de sua semente (Gn 28.14). Em Davi, temos a promessa que sua descendência ficaria para sempre no trono e que seu domínio seria eterno e sobre toda  a terra (2 Samuel 7.26-29; 23. 1-4). Jesus faz parte, portanto, da linhagem messiânica-real, da promessa de Deus. Porém Mateus prossegue:

"Abraão gerou a Isaque, Isaque Gerou a Jacó.."(Mt 1.2)

Segue-se, então uma linha de gerações, sendo passando por Davi, salomão e outros herdeiros ao trono. Até por fim chegar em "José, marido de Maria, de maria, da qual nasceu Jesus, que se chama O Cristo" (Mt 1.17).

Há algo surpreendente aqui. Mateus não diz que  José gerou a a Jesus, mas apenas que fora marido de Maria, de quem nasceu Jesus, sendo que ele é chamado por Mateus de forma muito clara: O Messias. Mateus claramente mostra que Jesus não nasceu de maneira natural pelo versículo seguinte, onde Maria acha-se ter concebido pelo Espírito Santo (vrs 18). Não há espaço para mitologia aqui, nem tampouco há o mínimo espaço para a visão muçulmana que houve uma coabitação. D. A. Carson esclarece:

"Não há nenhum indício de deidade pagã humana pagã copulando em termos grosseiramente físicos. Ao contrário, o poder do Senhor, manifesto no Espírito que se esperava fosse ativo na era messiânica, realizou milagrosamente a concepção"(1).

No evangelho de Lucas, fica claro maria concebe pelo poder do Espírito (Lc 1.31-35). José, na época noivo, sendo um justo, não poderia casar com Maria, porém em sonho, um anjo do Senhor dissipa toda a dúvida existente, dando uma revelação surpreendente a José, filho de Davi:

"Não temas receber Maria, por tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo" (vrs 21).

Mateus apresenta uma cadeia de gerações, Abraão Gerou a Isaque, Isaque a Jacó, passa-se então por Judá, de onde será depois Gerado Davi até José. Porém, A palavra do anjo é clara: " o que nela está gerado é do Espírito Santo". O que na virgem está gerado não vem simplesmente através de José; não  é por simples geração humana, ele vem de Deus, pela intervenção de Deus. É dito a José qual nome deve dar ao menino: JESUS (do hebraico Josué: Jeová é a salvação), porque "salvará o seu povo dos seus pecados" (vrs 21). Tudo isso acontece para cumprir a profecia de Isaías. Mateus claramente declara um aspecto importante acerca de Jesus, ele é homem,que possui uma missão de salvação, como muito bem testifica o Senhor Jesus diante de Pilatos: "eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, para dar testemunho da Verdade, todo aquele que é da verdade ouve a minha voz" (Jo 18.37). Ele é a própria verdade que nos leva até o Pai. Ele também é de Deus, ele mesmo é "Emanuel", que significa: "Deus conosco" (vrs 23). No dizer de Joseph Ratzinger: 

"José é juridicamente o pai de Jesus. Por meio dele, Jesus pertence segundo a Lei, 'legalmente', à tribo de Davi. E, todavia, vem de outro lugar, 'do alto': do próprio Deus...sua origem é determinável e, todavia, permanece um mistério. Só Deus é o seu Pai em sentido próprio"(2).

Não se que dizer com isso que Jesus não seja da descendência de Davi segundo a carne, pois tanto Lucas quanto o apóstolo Paulo testificam desta verdade (Lc 1.32; Rm 1.3-4), sendo portanto Maria descendente de Davi, mas não da linhagem real, que provém legalmente através de José. Portanto, Jesus é filho de Davi, tanto por direito quanto de fato, porém ele é tanto filho de Davi quanto maior que Davi. Na narrativa de Mateus, essas duas verdades se beijam nos capítulo subsequente: Jesus nasce em Belém. Ele é da tribo de Judá, ele é a raiz de Davi, ele é o herdeiro do trono, porém é mais do isso, pois como nos diz Miquéias:

"E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Mq 5.2).

Ele é algo que nunca chegaremos a compreender plenamente. Ele é o Deus eterno, que se manifestou em carne (1 Tm 3.16), ele é Maravilhoso (Is 9.6).  Por fim, isso nos leva a profundas verdades:

O menino que nasceu é Rei: Ele é o cumprimento da promessa de Deus a Davi, ele é o herdeiro do trono, a ele pertence um domínio eterno. Ninguém é como Cristo.

O menino que nasceu veio para nos libertar: Ele é a verdade, e quando o conhecemos, estamos livres para adorar a Deus em espírito e em verdade.

O menino que nasceu nos libertou dos nossos pecados: Na cruz, Jesus foi o cumprimento perfeito de Isaías 53, o servo do Senhor, que morre em favor de seu povo, mas ressuscita para ver a sua posteridade: todos aqueles que se chegam a Deus através dele (Hb 2.12-13).

O menino que nasceu é Deus: Jesus é o verbo que se fez carne (Jo 1.1), que tabernaculou entre nós, nele podemos ter acesso a Deus, e contemplar a face de Deus, pois ele é Emanuel "Deus conosco".

Diante disso, a pergunta feita por Pilatos: "quem és tu?", é respondida. Ele é o messias, o salvador, o Rei, a quem nos devemos crer, depositar nossa esperança, sabendo que através dele temos paz com Deus e temos seu amor derramado em nossos corações (Rm 5.1,5).

O blog Geração que Lamba deseja um Feliz natal a todos!

Amém!

Soli Deo Gloria

Notas:

CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2011. p.100.
RATZINGER, Joseph. A Infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012. p. 16.
A questão de Maria ser descendente de Davi é reforçada com a posição que a genealogia apresentada por Lucas é a de Maria, o que explica as diferenças existentes com a genealogia de José apresentada em Mateus. Muitos teólogos conservadores possuem a visão de que ambas as genealogias são de José. Todavia, concordo com Thomas e Gundry, que apresentam defendem o ponto de que a genealogia de Lucas é a de maria,  elencando várias razões, dentre elas destaca-se a que afirma: "Visto que Lucas destaca a humanidade de Jesus, sua solidariedade com a raça humana e a universalidade da salvação, é adequado que mostre a humanidade de Jesus ao registrar sua descendência  por meio de sua progenitora humana, Maria. A genealogia de Jesus, então, remonta até Adão". Cf. THOMAS, Robert. GUNDRY, Stanley. Harmonia dos Evangelhos. São paulo: Vida, 2007. p.284.

Nenhum comentário: