sexta-feira, abril 28, 2017

O que a "nossa" Confissão de Fé assembleiana não abordou





Recentemente me achei pensando (e ainda estou com tal pensamento em mente) escrever, depois de tantos anos, acerca das eleições da CGADB neste ano, que talvez poderia ser classificada como "A Eleição dos 10 mil Fantasmas", que revela algo que tem sido ventilado por este blog e por outros há quase 10 anos. O charco de lodo fétido e imundo que administrativamente nossa convenção se tornou, e que nada contribui para o bem-estar da igreja Assembleia de Deus no Brasil. Todavia, a noticia de nossa recém divulgada Confissão de Fé assembleiana¹ merece destaque especial, que acaba por resvalar também nesta questão, e que abordaremos agora.

A confissão em Si.

Diferentemente do que o leitor pode pensar, não me refiro aqui à doutrina arminiana adotada pela Confissão no que tange à salvação. Na verdade, eu concordo de bom grado com um bom percentual do que foi dito, assim como discordo em 100%  com algumas linhas, e ainda tenho cerca de 100% de incerteza do que realmente queria ser dito em outras duas. No  que tange à estrutura da predestinação o estilo da Confissão é um arminanismo mais "Wesleyano" do que "Clássico", quase sendo um amálgama dos dois, porém de maneira geral a opinião teológica desse assunto foi bem expressa; se esta faz jus às declarações bíblicas a história é outra. 

No geral, a Confissão de Fé (chamada oficialmente de Declaração de Fé) está muito boa no que tange a uma expansão do antigo credo assembleiano, e abraço tais doutrinas de coração, ainda que eu não seja tão dogmático no que tange à antropologia (tricotomia X dicotomia), e abrace com alegria e firmeza o dispensacionalismo pré-tribulacionisa, não teria tanto problema em permitir um dispensacionalismo mid-tribulacionista (ainda que popularmente os assembleianos adotem um modelo dispensacional parcial-tribulacionista²). Mesmo assim, a Confissão aborda de maneira sábia e biblicamente saudável tais questões. A doutrina do Batismo com o Espírito Santo está bem definida nos moldes assembleianos clássicos, o que fortalece nossa identidade pentecostal (ainda que haja certas divergências no meio pentecostal supra-assembleiano quanto à evidência física inicial).

O que faltou à Confissão.

A Confissão, no que tange a doutrina da igreja, dá um bom resumo sobre a natureza teológica da igreja, como Corpo Místico de Cristo. Porém, praticamente NADA foi dito acerca da base neotestamentária para o governo de Igreja. No capítulo XVI, Sobre a Forma e Governo da Igreja, nada é realmente dito acerca da estrutura em si. Afinal, qual o modelo eclesiológico oficial das Assembleias de Deus?  Episcopal, presbiteriano, congregacional? Apenas a descrição dos títulos de oficiais bíblicos e sua explicação não é suficiente. A confissão chega a afirmar que a estrutura neotestamentária, ainda que existente, é rudimentar! Como os ofícios ministeriais na prática ministerial  assembleiana funcionam é algo bem mais complexo e que urgentemente precisa de algo mais "rudimentar"É fato que a assembleia de Deus se originou do meio Congregacional batista, modelo este, que vejo hoje de maneira geral como o ideal para o meio assembleiano e bem mais fundamentado nas Escrituras, porém  com o passar dos anos, acabou sendo menosprezado e esquecido por muitos, e o resultado foi a adesão de um sistema piramidal destituído de base bíblica sólida, e mantido pela ótica e ambição humana³. O pior de tudo é que esse deslize histórico encontra até mesmo espaço em nossa Confissão, que agora inventou um novo ofício eclesiástico: O de "Cooperador". A Confissão nada mais fortalece tal modelo irreal.

Não se pode ignorar a falta desse assunto em nossa Confissão, pois ele realmente é nevrálgico: Um firme biblicismo sobre a Ordem da Igreja. Um dos grandes males da Assembleia de Deus e que muito pesa na própria CGADB é a estrutura eclesiástica assembleiana, governada através de caciques e generais, preocupados apenas com o status quo e seu império particular.  

O que nos falta agora.

É de máxima urgência que a assembleia de Deus retorne ao  modelo congregacional de onde se originou, é necessário uma participação da igreja local como igreja genuína e importante. Deve-se priorizar os interesses do reino de Cristo e o bem-estar da igreja, não o mero poderio de pastores. Uma Convenção não somente de pastores, mas de igrejas, que procuram edificar-se mutualmente e expandirem o Evangelho de Cristo, fundamentada nas escrituras e com um coração regenerado e sincero. O que temos hoje é cada vez mais a entrada da Teologia da Prosperidade e neopentecostalismo em arraiais assembleianos (doutrinas que não receberam a mínima atenção e reprovação em nossa Confissão), que só servem para beneficiar quem as promove e enganar os incautos. Cada vez mais a genuína heresia entra em nosso meio, mas pouco realmente é feito para combater tal perniciosidade como eclesialmente se deveria. Diante disso, temos doutrinas perniciosas, pastores despreparados, às vezes até mesmo não-vocacionados, muitas vezes até ímpios e impostores com estrada pavimentada e caminho cada vez mais em aberto em nossas convenções, que procuram simplesmente o poder total. 

O que devemos fazer.

Não se deterá esses tais combatendo o calvinismo. A bem da verdade, nem o arminianismo poderá impedir algo que cada vez mais se deflagra em uma instituição de sobremaneira e em muitos lugares, espiritualmente viva, mas institucionalmente falida, alimentada por uma estrutura eclesiástica não bíblica. São essas coisas que verdadeiramente são as inimigas da Assembleia de Deus, são essas coisas que devemos realmente combater. Que Deus nos ajude.

AMÉM!

Soli Deo Gloria


Notas:

1. a declaração de fé pode ser encontrada e lida gratuitamente através do seguinte link: https://teologiapentecostal.blog/2017/04/27/declaracao-de-fe-das-assembleias-de-deus/.

2. A teoria do Arrebatmento Parcial, a groso modo, diz que nem todos os crentes genuinamente salvos serão arrebatados, mas somente os que estiverem "vigiando" em Cristo. Talvez tal visão seja até mais coerente com o arminianismo do que o Pré-tribulacionaismo.

3. Tratei acerca da origem do moderno sistema assembleiano em um artigo anterior, disponível no blog teologia pentecostal (acesse clicando aqui). No artigo em questão, tive preferência pelo modelo presbiteriano, porém ao analisar mais a fundo as escrituras quanto a história, vi que o modelo congregacional é o mais saudável para a Assembleia de Deus, tanto bíblica quanto historicamente.

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