quarta-feira, julho 25, 2012

A Soberania de Deus e o Ping Pong

 
Deus é soberano. Ele reina perfeitamente sobre todas as coisas conforme o seu próprio prazer (Sl 115.3), e isto não quer dizer que o Senhor não permitirá que os seus servos passem por dificuldades e tribulações; pelo contrário, é por meio de sua soberania que o Rei dos reis e Senhor dos senhores fará com que os seus filhos cresçam e amadureçam na vida cristã, o que envolve lutas, perdas e outros tipos de sofrimento.

Embora saibamos que Deus é soberano - pois declarar que Deus não é soberano é o mesmo que afirmar que Ele não é Deus -, geralmente  pensamos em tal soberania no contexto eclesiástico ou em aspectos familiares quando perdemos algum ente querido ou sofremos alguma doença bastante séria. É claro que o Senhor reina sobre todas essas coisas, e por meio de nossa confiança em Sua soberania encontramos graça e conforto em Cristo diante de tudo isso. Mas eu gostaria de falar sobre outra área em que também podemos enxergar o controle do Senhor: o nosso divertimento.

Muito se tem dito acerca da dicotomia sagrado e secular, em que não podemos ser cristãos somente nos domingos em nossas reuniões solenes e viver como não-cristãos nos outros dias da semana ou que não podemos trabalhar na igreja para a glória de Deus e em nossas funções para com a sociedade trabalharmos com um outro propósito em mente como, por exemplo, a exaltação de nosso próprio nome. Ou então, ouvimos falar que devemos fazer o nosso melhor nos estudos e no trabalho para honrarmos o Nome do Senhor por meio de um alto desempenho - e muitas vezes nos gloriamos nestas coisas dando mais atenção para esses meios de glorificarmos a Deus do que a glória dEle em si, o que acaba constituindo uma falsa adoração ao Senhor. Eu creio que tudo isto é importante de ser observado, mas dificilmente ouvimos que Deus nos trata em todo este processo, a fim de nos satisfazermos cada vez mais em Cristo e nEle somente. Ou seja, Deus está operando em nossas vidas mesmo quando não conseguimos ser os alunos "nota dez" e mais que isso, Ele está trabalhando até mesmo quando somos reprovados. Não quero justificar as reprovações ou os baixos desempenhos de muitos cristãos - muito menos fazer com que eles (nos quais eu me incluo) sejam relaxados em seus estudos ou no trabalho. Mas quero que vejamos que o Senhor nos quebranta e nos faz confiar em Cristo além do contexto eclesiástico. Pois o caminho de santificação o qual estamos percorrendo vai muito, muito além de tal contexto.

Nesta semana eu estou em uma viagem a São Luís-MA com alguns amigos da universidade para participar da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). E ontem eu tive a oportunidade de participar de uma das atividades oferecidas neste evento: jogar tênis de mesa (mais conhecido como ping pong). Sei que parece estranho eu tratar um pouco sobre isso neste espaço, mas desde já afirmo que isto tem tudo a ver com o que temos refletido neste texto.

Há alguns anos (quando eu possuía por volta de 12 anos de idade)[1] eu era viciado em tênis de mesa. Lembro que era "sagrado" jogarmos na rua de casa quase todos os dias de 16h00 às 22h00. O problema é que nesta época eu não estava firme no Senhor e jogar ping pong geralmente produzia muita raiva no meu coração, e foco o coração porque embora às vezes eu expressasse minha indignação devido às minhas derrotas - por meio de palavrões -, a maioria das vezes toda a minha ira ficava escondida no meu coração. Eu não sabia perder.

Depois de alguns anos sem jogar, eu tive a oportunidade de me divertir num retiro no mês de março deste ano e ontem foi a primeira vez que joguei tênis de mesa com não-cristãos depois destes anos. O dia começou bem, comecei a jogar e levou pouco tempo para eu conseguir um bom desempenho - até ganhei uma bola de presente por ganhar algumas vezes (risos). Mas o mais interessante foi de tarde. Eu estava jogando com um pessoal que possuía um bom nível de jogo e as partidas estavam bastante disputadas, e eu havia ganhado muitas vezes e estava começando a achar que eu estava com um bom desempenho. Entretanto, chegou um rapaz que desde que começou a jogar não perdeu mais. Ele me ganhou três vezes ou mais (às vezes de 5x0)[2]: era uma vez uma vitória de Nilton Rodolfo (mais risos).

Meus amigos e irmãos, as minhas derrotas de ontem são prova da fidelidade e do cuidado de Deus na minha vida. Pois talvez eu caísse em soberba se não tivesse perdido tantas vezes para a mesma pessoa. Deus é tão fiel e soberano ao me quebrantar, que este rapaz que me ganhou ainda é de engenharia civil (quem lê que entenda).

Para terminar, farei somente mais algumas pequenas observações: o que aconteceu ontem é só um exemplo de inúmeras derrotas no campo do entretenimento que tanto eu quanto você estamos suscetíveis a sofrer. Mas o importante não é o meu exemplo em si, e sim o que nós podemos ver por meio dele. Primeiro, Deus sonda os nossos corações a todo momento, e isso deve nos fazer pedir graça ao Senhor até mesmo quando estivermos brincando, a fim de que a nossa motivação para se divertir não seja exaltar o nosso próprio nome. Segundo, o objetivo de nossas atividades não deve ser mostrar o quanto somos superiores ao nosso próximo seja em qual área for, mas sim desempenharmos o nosso papel com humildade para a glória do Senhor - o que está intimimamente relacionado à observação anterior. Terceiro, nosso desejo não deve ser o de sermos os melhores, pois isto em si mesmo revela a soberba e a vontade de sermos vistos como superiores que brota de nossa carne, o que se opõe às colocações anteriores. E finalmente, Deus é quem nos quebranta e nos guia neste caminho de humilhação de nosso ego e exaltação de Seu próprio Nome. A nossa santificação é uma obra que Deus realiza em nós, e nós simplesmente nos desenvolvemos através da obediência ao que Deus tem posto diante de nós.

Que esta breve reflexão nos ajude a entender que o Senhor nos quer por inteiro e em todos os momentos, até mesmo durante o nosso divertimento. E mais que isso, que Ele está constantemente operando em nós para que aprofundemos o nosso senso de que o nosso único valor é Cristo e que Ele é toda a nossa satisfação. Um abraço a todos e quem sabe isso ainda rende mais algumas reflexões (talvez sobre mais derrotas no ping pong) - o Senhor é que sabe. Termino com as inspiradas palavras do apóstolo Paulo:
 
"Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo" (Fl 2.3).

Que Deus seja glorificado.

Notas:
[1] Nem faz muito tempo, são somente 9 anos.
[2] Como havia bastante gente para jogar, cada partida era de somente 5 pontos.

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