Há algumas semanas
atrás meu amigo e irmão em Cristo Gutierres Siqueira escreveu
acerca da suposta “Confissão de Fé" assembleiana (termo
utilizado pelo pastor Josué Gonçalves, que é um dos membros do
comitê que elabora tal documento), termo esse que é na verdade
rechaçado por outros pastores, que afirmam que na verdade não se
trata de uma “Confissão de Fé” propriamente dita, mas sim de
uma expansão do Cremos, que por sua vez é uma forma resumida da
Declaração de Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus nos
Estados Unidos1. Com o intuito de lidar com questões contemporâneas.
Dentro disso, surgiu a questão da influência da doutrina calvinista
dentro do meio assembleiano, algo que foi tratado por Gutierres como
sendo de menor importância, um assunto secundário. Ainda que eu
aprecie profundamente e recomende a confecção de um documento de
tal envergadura e concorde com Gutierres em vários pontos, há
certas preocupações que ainda se mantêm e questões que não são
tão facilmente esclarecidas, as quais procurarei ver a seguir.
Primeiramente,
Siqueira afirma que o uso do termo “Confissão de fé” é
inapropriado, por ser algo associado às grandes confissões do
período da Reforma e pós-reforma, como os Trinta e Nove Artigos
da igreja Anglicana, a Fórmula de Concórdia dos luteranos,
ou a célebre Confissão de Fé de Westminster, dos
presbiterianos. Os “Credos” seriam os antigos documentos antigos
da cristandade (Credo Apostólico, Atanasiano, Niceno, etc). Todavia,
ainda que a síntese histórica de apresentada por Gutierres se
justifique, as definições técnicas não correspondem totalmente
com essa descrição. No dizer de Paulo Anglada: “Os credos são
declarações de fé resumidas... as confissões distinguem-se dos
credos em extensão, por serem mais detalhadas, e quanto à época em
que foram escritas...”2
.
O termo “Confissão” foi empregado até meados do século XIX e
se refere a um documento que declara a crença de determinada
denominação de forma mais pormenorizada e sistemática, produzindo,
como consequência, um sistema de teologia. Logo, o fato do pastor
Josué Gonçalves denominar o documento assembleiano de “Confissão
de Fé” não está longe da verdade como parece ser, ainda que, na
era atual, a expressão “Declaração de Fé”, seja mais
sofisticada.
Em segundo lugar, é
interessante notar a questão da controvérsia calvinista e a
produção dessa nova declaração. Acerca de não haver nenhum
obreiro calvinista dentro do conselho, Gutierres comenta:
“Esse tipo de pergunta só faz quem não conhece a denominação. Os pastores calvinistas nas Assembleias de Deus são um grupo importante, mas ínfimo. A denominação tem milhares de pastores e milhões de obreiros, mas os declaradamente calvinistas não enchem um ônibus, especialmente entre aqueles com acesso a postos de influência nas convenções estaduais. É claro que é sempre bom ouvir a divergência, mas sem delimitação esse trabalho duraria anos ou até décadas”
Essa declaração
pungente seria prontamente aceita por mim, se quase todos os
envolvidos na confecção não fossem arminianos militantes e
duramente contra o calvinismo e se essa Declaração não fosse
escrita em meio a uma controvérsia envolvendo esse sistema
teológico3.
Por um caminho melhor.
Não há problema, a
meu ver, de uma Declaração de Fé, na verdade, penso ser um
passo denominacional importante rumo a uma maturidade doutrinária, ordem em meio a confusão e erros do neopentecostalismo, e assume
uma validade confessional necessária à denominação. Todavia,
penso que tal documento precisa ser feito com cuidado e tolerância
evangélica necessária com relação a questão principal envolvendo
calvinismo e arminianismo, pelo menos seguindo um pouco a Declaração
Doutrinária da Convenção Batitsa Brasileira, que dá certa
liberdade a ambos os sistemas, ainda que tenha uma certa tendência
arminiana em seu bojo doutrinário4.
Como será essa
Declaração? Apenas o futuro dirá. Porém temos firme confiança
num futuro dirigido pela providência perfeita do Rei dos Reis.
Amém!
Soli Deo Gloria!
1 Para
saber mais sobre esta questão, leia dois \rtigos escritos por
Gutierres Siquera disponíveis nos seguintes links:
2 ANGADA,
Paulo. Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras. 2° ed.
Ananideua: Knox Publicações, 2013 p. 21
3 O
fato de serem poucos os estudiosos envolvidos nesta questão não
desmerece o documento como uma Confissão representativa. No dizer
de Anglada: “um credo ou confissão de Fé pode ser pessoal.
Comumente, entretanto, esses termos são empregados para designar
credos e confissões que, embora possam ter sido escritos por uma só
pessoa, adquiriram representatividade, tendo sido adotados por
igrejas, movimentos ou denominações” (Cf. ANGLADA, Op. Cit. p.
22)
4 Isso
não só se refere a questão da controveŕsia Arminiano/Calvinista,
mas pode também se aplicar em alguns pormenores, como por exemplo a
questão do Dispensacionalismo Clássico/ Progressivo, a
questão do pré/mid-tribulacionismo, ou até mesmo, com
certo cuidado, a questão do Criacionismo Terra Jovem/Antiga
(o Evolucionismo Teísta ou Criacionsimo Profressivo estaria
totalmente fora de questão).
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