sábado, dezembro 31, 2016

GQL 2016: Prosseguindo para o alvo


"...uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim,
Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Fp 3.13b-14)

“E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele”. (Mt 11.12).




Finda-se o ano de 2016, e olhando para trás podemos ver, em mais um ano, inúmeras bençãos do Senhor sendo derramadas nas vidas dos membros deste blog, bençãos tais que não podem ser enumeradas pelos dedos das mãos.  Obviamente, não significa que tudo foram rosas ou "mar de flores", pois bem sabemos que como bem disse o amado Lucas, por muitas tribulações no importa entrar no Reino de Deus (At 14.22), portanto,temos a constante necessidade, em meio a uma era perversa, de receber encorajamento e ânimo vindos de irmãos firmados na Palavra de Deus.  

Nesse ano, não faltaram fatos e lutas que nos surpreenderam (não pela luta em si, mas as do tipo que apareceram). Não foram poucos os desafios e batalhas contra hostes espirituais da maldade neste mundo tenebroso. Lutas pessoais, problemas na família de amigos, problemas gerais na própria família e várias lutas ministeriais. Diante de todas as batalhas enfrentadas, é essencial lembrar das palavras ditas pelo apóstolo Paulo pelo Espírito Santo, e pelo próprio Senhor Jesus.

A metáfora da competição atlética é uma das preferidas do apóstolo Paulo.  Como alguém nascido em Tarso, Paulo tinha contato constante com as competições de atletismo e jogos, provavelmente teve contato também com jogos Ístmicos. Observando a dedicação dos atletas corredores, dos treinos e empenho dos lutadores, o apóstolo vê ali uma ilustração excelente da caminhada do homem com Deus através de Cristo e em Cristo. O cristão precisa completar a sua corrida ("carreira", na ARC).

Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar (1 Co 9.24-26).
Ser cristão envolve perseverança, envolve luta, envolve dedicação e envolve suor; envolve uma luta tanto interna quanto externa, envolve andar diário na luz e e confissão de pecados. Mesmo nas lutas externas, há a necessidade de um cuidado interno. Nas lutas que envolvem o ministério, isso se intensifica. Envolve se manter sóbrio diante das dificuldades e pautar o agir na Palavra de Deus, e depositar a confiança em Deus, e por vezes o desânimo pode se tornar um alto e forte muro, e o amor pela presente era uma tentação. Todavia, devemos ter em mente a mesma inflexibilidade, e virilidade bíblica apresentada por João Batista pelo reino dos céus, algo testemunhado pelo próprio Senhor Jesus:


...começou Jesus a dizer às turbas, a respeito de João: Que fostes ver no deserto? uma cana agitada pelo vento? Sim, que fostes ver? um homem ricamente vestido? Os que trajam ricamente estão nas casas dos reis. Mas, então que fostes ver? um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta... Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele. E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. (Mt 11.7b-9;11-12).

João Batista, aprisionado por Herodes, após receber uma palavra de encorajamento do Senhor Jesus, recebe agora um forte testemunho do mestre:  Ao contrário dos juncos daquela região, que iam de um lado para o outro com o vento, João permanecia constante, e ao contrário dos bajuladores com roupas "delicadas" (a palavra grega aqui é a mesma utilizada por Paulo 1 Co 6.10) que estavam usufruindo das benesses palacianas de Herodes, João estava no cárcere mantendo sua firmeza e sua fé. Ele era o último dos profetas da Antiga Aliança, e também era o prenúncio da Nova, desde então o reino dos céus está diante dos homens, que com violência se apoderam dele. João apontou o caminho e prostitutas e publicanos entravam no Reino, indo adiante dos fariseus, que com seus bons modos legalistas, ficavam para trás¹. Entrar na vida exige esforço, exige renúncia, exige negação, e exige perseverança, esforço para entrar pela porta estreita e andar pelo caminho estreito. Devemos ter o mesmo vigor e força para entrar no reino dos céus como os homens violentos saqueavam os reinos. É necessário perseverar, como bem mostrou Bunyan em sua alegoria imortal:

"Cristão viu um homem de semblante resoluto aproximar-se do que estava sentado escrevendo e disse: - Anote meu nome, senhor.

Viu então que o homem desembainhava a espada e colocava um capacete na cabeça, avançando rumo à porta, contra homens armados, que sobre ele caíram com força mortal. O homem, porém, não se deixou esmorecer, e mesmo caído, golpeava e talhava ferozmente. Assim, depois de ser ferido e ferir muito dos homens que tentavam evitar sua entrada, conseguiu abrir caminho entre todos eles, entrando no palácio. Ouviu-se, então uma bela voz que vinda dos que estavam lá dentro... e dizia:

Entre, entre;
Glória aqui você terá para sempre"²



Esse é uma imagem belíssima de perseverança, mesmo diante das batalhas, ferindo e sendo feridos. O Cristão é como o homem resoluto da alegoria de Bunyan, ele mantém firme o seu propósito de entrar, fazendo força, fazendo violência. No dizer de Matthew Henry: "Não há boa maneiras quando se trata de entrar no Reino dos Céus". Esse deve ser o alvo, esse deve ser o nosso foco. Mais um ano se finda, e muitos têm o próximo ano como um recomeço, até mesmo uma vida nova. Todavia, não é o marcar meia-noite do ponteiro do relógio que marca a passagem de uma nova vida, mas sim a confiança e entrega de si mesmo a Cristo, que vive e reina para sempre, é que nos dá uma nova vida. "Assim que, se alguém  está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas se passaram, eis que tudo se fez novo" ( 2 Co 5.17), portanto deixando as coisas que para trás se foram, prosseguimos para o alvo, para o prêmio recompensador que está em Cristo Jesus!

Amém!

O blog Servorum Dei deseja a todos um próspero ano novo em Cristo Jesus. 


Soli Deo Gloria

Notas:

1. Entre os comentaristas bíblicos, há duas opiniões acerca dessa passagem. Uma vê o trecho da violência no Reino dos Céus como um exemplo negativo dado pelo Senhor no que tange aos fariseus quererem se apoderar do Reino, interpretação defendida por C. I. Scofield, D. A. Carson e vários outros dos mais variados espectros teológicos. Todavia, outros veem com um sentido positivo no que tange à perseverança e tomada do Reino dos céus por aqueles que aparentemente estavam excluídos do Reino (Cf. Mt 21.31;Lc 16.16). A meu ver, a segunda opinião faz muito mais sentido dentro do contexto de Mateus e dos sinóticos, essa é a opinião defendida por Matthew Henry, William Hendrikssen, entre outros.
2. BUNYAN, John. O Peregrino. Tr. Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.

quarta-feira, dezembro 28, 2016

Ótimas leituras de 2016

Ler é fundamental. É imprescindível. Pare. Pense. Se você quer viver bem e para a glória de Deus, você necessita se engajar em bons livros!

Claro, ler bons livros não é todo o caminho para vivermos bem. Precisamos da graça de Deus. Contudo, não podemos nos enganar: sem nos engajarmos na leitura bíblica e na leitura de bons livros, nossa vida será medíocre.

Livros são dignos do adjetivo "bons" quando eles nos transformam. Ou pelo menos são instrumentos para isso. Com eles: aprendemos coisas novas de maneira consistente e ordenada; rimos e choramos de maneira saudável; enxergamos erros que precisam ser corrigidos; exercitamos bem a nossa mente pela criatividade e reflexão profundas. Em suma, um bom livro é vida.

Pela graça de Deus, este ano de 2016 foi marcado pela leitura. Nunca havia lido tantos livros em um ano. Para mim, isto não é motivo de orgulho. É motivo de temor. "[...] A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá" (Lc 12.48), são as palavras do Senhor Jesus.

Pois bem, gostaria de compartilhar com os prezados leitores alguns dos livros que mais me marcaram neste ano. Eles não são apresentados em ordem de importância. Tentei organizá-los em categorias. (Não chamei este texto de "top 10" porque simplesmente não quis ser injusto com as leituras que ficaram de fora da lista.)

(Aproveito para lembrar-vos de nossa meta de leitura deste ano: 24 livros (2 livros por mês). Se você foi influenciado pelo texto Como Finalizar Mais de 100 Livros em 2016 (e alguns comentários próprios), por favor, deixe o seu comentário sobre os livros que você leu.)

Vida Cristã


1. Russell Shedd. O mundo, a carne e o diabo (Vida Nova, 1995). 

Terminei este livro ontem à noite e ele já entrou para o meu hall da fama. O Dr. Russell Shedd consegue unir várias virtudes em sua escrita: é objetiva (este livro e Lei, graça e santificação, também lido neste ano, têm 120 páginas em média), simples, precisa (até as referências citadas por ele são fantásticas), pastoral e encorajadora. Ele não escreve como se estivesse apenas despejando seu vasto conhecimento em linhas. Não. Shedd é um maduro guerreiro de Cristo que nos mostra com acurácia os perigos que nos cercam. Ele é um capitão que nos instrui em como devemos combater o sistema maligno do mundo, nossas próprias inclinações pecaminosas herdadas de Adão (a carne) e o inimigo de nossas almas: o diabo. A abordagem de Shedd é simples: definir o inimigo (mundo, carne e diabo), mostrar suas estratégias de combate (secularismo, independência de Deus e mentira, por exemplo) e a solução bíblica, revelada por Deus, para vencermos o inimigo. Como não poderia ser diferente, a união com Cristo e o uso correto da Palavra de Deus são o fundamento das soluções apresentadas pelo irmão Shedd. Por favor, adquira este e outros livros deste amado irmão que foi para a glória neste ano. Sem dúvida, você não se arrependerá.

Excertos:

"Não é verdade que todo prazer seja pecado. Foi Deus quem inventou o prazer, e não o diabo, mas a fonte e o objetivo do prazer devem ser cuidadosamente avaliados." (33)

"O potencial que o mundo tem para nos enredar está em proporção inversa ao nosso prazer e gozo no Senhor. Se nos cansamos da comunhão com Ele, se a 'alegria do Senhor' (Fp 4.4) não passa de uma vaga lembrança, então o mundo pode nos seduzir facilmente, como um homem simpático, de boa aparência e palavras suaves, enreda a mulher ressentida, carente de convicção moral, há muito tempo separada do marido." (45)

"Mas a carnalidade ultrapassa as paredes da igreja local. Algumas denominações evangélicas, dentro e fora do Brasil, pensam que são os únicos cristãos verdadeiros. Quem não apoia [nova ortografia] integralmente sua doutrina, usos e costumes é como parceiro de Satanás. Em vez de se estruturar em torno da coluna da verdadeira 'fé que uma vez por todas foi entregue aos santos' (Jd 3), eles se mantêm coesos unicamente pela luta agressiva contra os evangélicos que não aderem a seu partido." (66-67)

2. A. W. Tozer. Os perigos de uma fé superficial (Graça, 2014). 

Este livro faz parte de uma série publicada pela Graça Editorial. Ainda não adquiri todos da coleção, mas pelos três que já li, vale a pena tê-la em casa. Cada livro é independente. Sobre este livro, é uma leitura recomendadíssima. Tozer é o tipo de escritor que vem para nos mostrar o quanto ainda precisamos amadurecer em Cristo Jesus e nas coisas de Deus. Ele nos mostra a importância de levarmos a sério os meios de graça (leitura bíblica, oração, pregação da Palavra, etc.) e a disciplina cristã.

Excerto:

"Lutas são sempre decididas antes de serem disputadas. Você pode escrever essa frase sobre o seu coração ou guardá-la na memória, e a história e a biografia do mundo a apoiarão. [...] As tentações, muitas vezes, chegam de modo inesperado e sutil. Contudo, ainda que sejam assim, as orações antecipatórias preparam a alma para o que possa vir.

"Foi no dia que Davi andou no telhado que ele caiu na trágica e vergonhosa tentação com Bate-Seba? Não, foi durante um longo intervalo de tempo não registrado [pelas Escrituras] que os historiadores dizem ter-se passado antes disso, [período no qual] eles não sabem o que Davi estava fazendo. Contudo, eu sei o que Davi não estava fazendo: aquele rei não estava esperando no seu Deus nem olhando para as estrelas e dizendo: Os céus proclamam a glória de Deus (Sl 19.1a - ARA).

"Sim, ele o fizera antes, mas, agora, não mais. Davi caiu porque todo o peso das semanas desperdiçadas antes dessa tentação lhe sobreveio. A tentação não pode tocá-lo se você a tiver antecipado por meio da oração, mas certamente o fará tropeçar se não houver essa precaução." (261, 268-269)

3. Fabrini Viguier. Ser homem (Thomas Nelson Brasil, 2015).

Talvez você nunca tenha ouvido falar deste autor. Normal. Antes de encontrar este livro num evento em minha cidade, ele era um total desconhecido para mim também. Na internet, você encontrará que este livro é um best-seller da categoria "auto-ajuda". Isso pode lhe deixar receoso, certo? Acho que é por essa possível rejeição que o livro possui um prefácio escrito por Russell Shedd - que diz que se tivesse lido este livro antes, evitaria alguns erros em seu casamento - e duas apresentações, sendo a primeira escrita por Hernandes Dias Lopes. Fabrini é um exemplo de que se pode fazer uma obra prática, motivacional e de fato bíblica. Ele trata de vários relacionamentos em que um homem se envolve. Vale a pena. Espero concluir a releitura deste livro até o fim do ano.

Excerto:

"Os homens precisam de seus amigos. É nessa coletividade, nessa confraria de valores, normas e condutas que desenvolvem o senso de masculinidade. É entre eles que fortalecem o sentimento de grupo, de turma, de galera. Até porque a Trindade também é provida dessa importância. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo interagem entre si com harmonia, embora cada um tenha sua função. Homens agrupados podem servir de espelho, de alerta, de referência. Podem ser sinalizadores do que esteja tomando um rumo certo ou errado. Escolher as companhias certas trará o melhor resultado." (50-51)

Teologia Sistemática

4. Paulo Anglada. Imago Dei (Knox Publicações, 2013).

Neste ano, ocorreu uma maratona de Paulo Anglada. Li a sua trilogia de teologia sistemática (TS), da qual Imago Dei é o último volume. Paulo Anglada faz o que é difícil vermos em livros de TS: apresentar as doutrinas cristãs de maneira profunda e sucinta. Esta série é uma ótima introdução (robusta) à TS, de uma perspectiva reformada. Se você nunca leu Anglada nesta área, seria uma boa pedida para 2017.





Evangelho/evangelismo

5. David Platt. Siga-me (Thomas Nelson, 2013).

Geralmente, gostamos de ler sobre temas dos quais já possuímos certa propriedade. Queremos nos refinar. Isso é bom. Porém, precisamos ser "retirados de nossa zona de conforto". Necessitamos de livros que nos confrontem. Eis um exemplo disso: David Platt. A sua vida evangelística nos deixa desconcertados. Siga-me é simples: ele começa abordando o Evangelho e as doutrinas fundamentais da fé cristã. Após isso, ele trata das implicações de ser um seguidor de Jesus. A principal delas: discípulos fazem discípulos. O que me chamou bastante a atenção foi o que Platt chama de "costurar fios do evangelho". Abaixo, cito um trecho em que ele fala de como irmãos evangelizam muçulmanos. Este livro é leitura obrigatória.

"[...] Eles simplesmente tentam saturar todas as suas interações com vários fios do evangelho, como ao entrelaçar vários fios coloridos em uma colcha. Eles oram para que Deus, no tempo certo, abra os olhos dos homens e das mulheres ao redor de si para que enxerguem a tapeçaria do evangelho e venham a Cristo." (Como li na versão Kindle, não sei o número da página :-) )     

Biografia

6. Steven Lawson. O foco evangélico de Charles Spurgeon (Editora Fiel, 2012).   











7. Douglas Bond. A poderosa fraqueza de John Knox (Editora Fiel, 2011).

Não somos os últimos dos moicanos. A igreja não começou conosco. Precisamos aprender com os antigos. Conclusão: a leitura de biografias deve fazer parte de nossa dieta literária. Esta série publicada pela Editora Fiel é interessante. Vale a pena acompanhá-la. 






Ficção

8. J. R. R. Tolkien. Os filhos de Húrin (WMF Martins Fontes, 2009).

Preciso confessar: não havia lido nada de Tolkien até este ano. É verdade, concordo com você, isso é um problema sério. Mas tomei as medidas necessárias. Espero estar falando de novos livros de Tolkien que li pelos próximos 5 anos, se Deus permitir :-) Sendo direto: se você quer uma história bem desenvolvida, de altos e baixos (mais baixos do que altos): não deixe de ler este livro. Dizem que é um dos contos mais sombrios de Tolkien. Só posso dizer que a história é triste mesmo. Ah, tome cuidado com a lábia de Glaurung. Ele não é um dragão confiável (se é que existe algum).


9. John Milton. Paraíso Perdido (Martin Claret, 2006).

Uma leitura grandiosa. No início, há certa dificuldade para se concentrar na leitura. Contudo, depois de umas 60 páginas você já estará acostumado. Vale a pena forçar. Você não se arrependerá. Milton passa a emoção correspondente ao período do qual está se tratando. Ou seja, ao falar de Adão e Eva enquanto inocentes, as descrições são grandiosas; porém, ao falar deles após a queda, você sente o "baque" do texto: É muito bom. Uma ótima reflexão sobre a criação e a queda. 




10. L. L. Wurlitzer. As Crônicas de Olam (Vol. 2): Mundo e Submundo (Tolk Publicações: Fiel, 2016).

Chegamos à obra mais esperada por mim neste ano. Não irei falar muito deste livro porque oráculos antigos dizem que este blog produzirá uma resenha dele, por um de nossos editores. Esperemos. Mas o que posso dizer é o seguinte: é fantástico, bem escrito, emocionante, divertido, traz reflexões importantes e é show! Se você ainda não leu o Vol. 1 (Luz e Sombras), por favor, faça um favor a si mesmo: adquira-o já. Você curtirá bastante. Uma palavra final: ler ficção é importantíssimo. Não caia na armadilha de que um bom leitor só lê textos complicados, pesados e super volumosos. Ler uma boa ficção descansa a mente, aguça a sua criatividade e lhe concede uma diversão saudável. Louve a Deus por um atributo especial com o qual ele nos dotou: a criatividade!

Excerto:

"- Toda leitura é um processo que envolve quem escreveu, o que está escrito e quem lê. É uma espécie de choque de mundos. O mundo do leitor e o mundo do escritor se chocam, misturam-se durante a leitura e criam um novo mundo; este não é apenas o do escritor nem o do leitor, mas, de certo modo, outro mundo." (63-64)

Que o Senhor nos ajude a aplicar com sabedoria tudo de bom que aprendemos neste ano. Graças a Deus por tudo.

sábado, dezembro 24, 2016

Natal: Paz na terra; Deus entre os Homens


Δόξα ἐν ὑψίστοις θεῷ,
καὶ ἐπὶ γῆς εἰρήνη·
ἐν ἀνθρώποις εὐδοκία. (Lc 2.14).


O texto de Lucas reflete a excelência e importância do nascimento de Cristo. Não se trata simplesmente de um nascimento, mas de uma pessoa que "se fez carne" (Jo 1.14). O Natal reflete uma verdade teológica fundamental, em que celebra-se uma doutrina basilar da Fé Cristã: a Encarnação do Verbo e sua habitação entre os homens.
Ainda que o foco não seja a manjedoura, mas a cruz, não há dúvida de que o relato do nascimento de nosso Senhor seja de fundamental importância: é aqui que a obra de salvação se manifesta e começa a se cumprir. No nascimento de Cristo, a graça salvadora de Deus se manifestou a todos os homens (Tt 2.11, tradução livre). Então, inicia-se o evangelho. É assim que o anjo anuncia o nascimento do salvador aos pastores: "eis que vos evangelizo com uma mensagem de grande alegria". Vemos porque Jesus encarnou e nasceu: para a nossa plena salvação. Os pais da igreja foram unânimes em declarar tal verdade fundamental:

"Se o homem não necessitasse ser salvo, de nenhuma maneira o Verbo teria se encarnado" (Irineu).

"Não existe outra causa da encarnação senão esta; Deus nos viu perdidos, perecidos, oprimidos pela tirania da morte, e se compadeceu de nós" (João Crisóstomo).

É por isso que ainda que não seja uma festa obrigatória dentro do escopo da Escritura, é mais do que natural haver alegria por parte do crente. Não há como não nos alegrarmos ao meditarmos no nascimento do Salvador. Quando lemos o evangelho de Lucas e vemos a canção celestial, sentimo-nos compungidos a participar de tal festa. E não há como não querermos participar. Assim como os pastores, sentimos o desejo de ir até Belém, pois ali vemos o céu descendo na terra, ali vemos algo ainda melhor que a canção angelical. Ali vemos Deus manifestado em Carne (1Tm 3.16). E como os magos, sentimos profunda alegria.

Em Cristo contemplamos a glória de Deus, a paz é anunciada e trazida aos homens, e a boa vontade graciosa de Deus é expressa. É por isso que cantamos com os anjos:

Glória nas alturas a Deus.
Sobre a terra, Paz.
Para os homens, Boa-vontade.

Que a graça benevolente de Deus esteja sobre o seu coração, trazendo-lhe a paz da salvação em Cristo, para a glória de Deus!


O blog Servorum Dei deseja a todos os leitores um Feliz Natal!

quarta-feira, dezembro 07, 2016

A PREGAÇÃO EXPOSITIVA E O CRESCIMENTO SAUDÁVEL DA IGREJA.



Ao  longo dos anos a preocupação com o crescimento da Igreja tem sido um dos pontos de grande conflito no meio dito cristão:
 De um lado consistentemente muitos pastores e teólogos ortodoxos, denunciam métodos extremamente carnais e a utilização do pragmatismo sob a motivação de “ganhar” vidas para Cristo, bem como a megalomania perniciosa de algumas denominações e igrejas em olhar para vidas como simples proporções numéricas e deliberadamente se agarram a qualquer estratégia, mesmo antibíblica, para aumentar o número de membros e congregados em suas igrejas.
Do outro lado, temos aqueles que acusam a ala ortodoxa de ser indiferente ao evangelismo e negligenciar o crescimento de suas igrejas e por isso fazem parte ou conduzem igrejas anãs e que diminuem ainda mais ano após ano.
Ressaltamos que biblicamente, de fato, a Igreja deve promover o Evangelho de maneira ativa, o Grande Comissionamento é indiscutível em Mateus 28, assim, indubitavelmente estão cometendo um grave erro aqueles que tratam de maneira indiferente e negligente o evangelismo e o crescimento de suas igrejas.
Contudo, não temos sido chamados para acompanhar qualquer um desses dois erros, mas sim para evangelizar, fazer missões e nos preocupar com o crescimento da igreja, todavia de maneira Escriturística e em fidelidade ao Senhor.
Nosso Senhor não somente nos comissiona, mas prescreve como isso deve ser realizado, sendo assim nos comissiona segundo um direcionamento completo e preciso:

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”Mateus 28:19,20

Analisando o texto resta claro que tanto o Evangelismo como o Discipulado cristão devem estar alicerçados na Palavra de Deus, Cristo mesmo assim o fez, tanto a apresentação do Evangelho por parte de nosso Senhor como o cuidado de seus discípulos foram desenvolvidos ao longo de seu ministério de maneira alicerçada na Palavra.
  Deste modo existe uma determinação para o Evangelismo, assim como para tudo o que é praticado e desenvolvido na Igreja do Senhor e para experimentarmos o poder de Deus este deve ser obedecido. Paulo ressalta este ponto:

Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. Romanos 10:13-17

E ainda: ”Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.” 1 Co 1:21.
É inquestionável a conclusão dos textos mencionados de que o Evangelismo e o Crescimento da Igreja devem estar alicerçados na pregação da Palavra de Deus e não encontraremos direcionamento diverso na Escritura.
Deste modo, o crescimento da igreja deve ser almejado sim, porém com fervor e de maneira íntegra e santa, sendo executado por meio da pregação da Palavra de Deus.
Dito isto, ressaltamos que quando nos referimos a pregação não estamos nos referindo a alguém subindo no púlpito e proferindo o que bem entender de lá, contando histórias inventivas e antropocêntricas, mas em submissão a Deus deve expor a Sua Palavra.
O texto de Romanos que lemos acima é direto e claro nesse ponto “ouvir a Palavra de Deus”, logo o que deve ser anunciado é a Palavra de Deus, o que deve ser pregado é a Palavra de Deus, pois somente nela há o Evangelho que é o Poder de Deus para a Salvação de todo o homem.
Entendendo que o conteúdo do sermão deve ser a própria Palavra de Deus, temos que o método que se submete integralmente e atende essas exigências por se primeiramente bíblico, é o sermão expositivo. James Braga afirma:
O sermão expositivo é o modo mais eficaz de pregação, porque, mais que todos os outros tipos de mensagens, ele, com o tempo, produz uma congregação cujo ensino é fundamentado na Bíblia.
Ao expor uma passagem da sagrada Escritura, o ministro cumpre a função primária da pregação, a saber, interpretar a verdade bíblica (o que nem sempre se pode dizer dos outros tipos de sermões).
O poder de Deus por meio do sermão expositivo é apresentado ao longo de toda escritura, tanto no Antigo Testamento, a título de exemplo citamos Neemias 8 e o livro de Jonas em sua missão evangelística a Nínive.
 Todavia, mais detidamente ao propósito do texto, observamos tal poder ao longo de todo o livro de Atos, já no início do livro quando Lucas registra que no sermão de Pedro, três mil almas foram acrescentadas ao número dos santos.(At 2:14 - 47)
O Pr. John MacArthur prefaciando a excelente Obra do Pr. Dave Aby, Pregação Poderosa para o Crescimento da Igreja, assim comenta o crescimento da Igreja Neotestamentária por meio da Pregação:

No Novo Testamento, o registro da igreja primitiva revela que a pregação deveria ser o coração de toda a atividade da Igreja. A pregação era a principal estratégia para o crescimento da igreja primitiva – e o crescimento da igreja primitiva era mesmo mensurado pelo progresso e a expansão da Palavra de Deus. No texto a seguir vemos como o historiador Lucas registrou o crescimento da igreja primitiva: “E divulgava-se a palavra de Deus, de sorte que se multiplicava muito o número dos discipulos em Jerusalém” (Atos 6:7), “A Palavra de Deus crescia e se multiplicava” (Atos 12:24). “Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia” (Atos 19:20).

Como destacou MacArthur, o crescimento genuíno da Igreja se dá por meio da Pregação da Palavra de Deus, de maneira vívida, poderosa e em submissão total do pregador a esta Palavra.
Hoje em dia presenciamos várias estratégias para o crescimento das congregações, contudo os resultados são claramente perecíveis, emocionais e visivelmente passageiros. A expansão genuína e poderosa do cristianismo se deu por meio da Palavra e os resultados são relatados ao longo de Atos e de toda a História da Igreja do Senhor tanto na reforma protestante, alicerçada na Sola Scriptura (Somente a Escritura é a Palavra de Deus e deve ser anunciada e vivida) como nos movimentos avivalistas onde países inteiros foram impactados pela pregação da Palavra, como na Inglaterra de Spurgeon e Wesley e Whitefield, como nos E.U.A de Edwards e Moody, homens conhecidos por um zelo ardente pela Pregação da Palavra.
Devemos então, de fato nos preocuparmos com o Evangelismo e Crescimento da Igreja, mas de maneira genuína, poderosa e saudável, e o mesmo só se dará, quando as igrejas retornarem a Palavra, reconhecendo e crendo que Ela é o poder de Deus e que aprouve a Deus por meio dela salvar o pecador, pois nela Cristo é anunciado, exaltado e apresentado de maneira plena e perfeita, somente em Sua Palavra.  Isso implica em pregar expositivamente todo o conselho de Deus. (2 Coríntios 2:17; 3:5; 4:1-2; 13-14).

BIBLIOGRAFIA:

BRAGA, James. Como Preparar Mensagens Bíblicas. Minas Gerais Editora Vida. 1994.

EBY, David. Pregação Poderosa para o Crescimento da Igreja: O papel da pregação em igrejas em crescimento. São Paulo. Arte Editorial e Candeia.2001

solus christus