terça-feira, maio 10, 2016

O cristão introvertido

O seguinte texto de Tim Challies foi escrito em janeiro de 2013 (original aqui). Ele aborda a questão da introversão de maneira interessante, e tanto eu quanto o irmão Victor entendemos que ele pode ser de grande valia para todos nós.

Que Deus seja glorificado.

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Quando 2012 chegava ao fim, blogs e meios de comunicação rapidamente foram dominados por dicas dos melhores livros do ano. Um dos livros que eu vi em muitas daquelas listas foi o de Susan Cain: Silencioso: O poder de introvertidos em um mundo que não pode parar de falar. Ele é um livro que eu já estava desejando ler durante o ano inteiro, até que finalmente baixei a sua versão em áudio e o ouvi nos feriados. Foi uma experiência interessante para mim e me proporcionou muitas oportunidades para reflexão e autoexame. O que escrevo hoje não é uma resenha do livro, e sim mais uma reflexão sobre seu conteúdo - uma reflexão sobre o cristão introvertido. 

Não há dúvida de que sou um introvertido. Se pusermos introversão e extroversão em lados opostos de uma reta e dissermos que cada um de nós cai em algum lugar entre os dois extremos, eu estaria bem longe do centro, em direção ao lado introvertido da escala. Posso não estar tão além do centro como algumas pessoas, eu ainda gosto de alguma exposição a milhares de pessoas, mas no íntimo eu adquiro energia e perspectiva na solidão e então eu a gasto em uma multidão. A minha reação padrão diante de uma multidão é correr para encontrar um lugar de tranquilidade. Amo e gosto de pessoas, mas lido melhor com pequenos grupos do que com grandes. Mesmo depois de muitos anos falando em público, estar diante de uma multidão ainda toma bastante esforço e exige renúncia. Eu ando em direção à frente de um salão devagar e, quando termino, volto rapidamente para trás. 

Silencioso fez com que eu entendesse melhor acerca de mim mesmo. Em algumas maneiras, Cain apresentou-me a mim mesmo. Eu tive todos aqueles tipos de momentos de "Aha!", onde as coisas que eu pensava há tempos, ou sentido repentinamente, fizeram sentido. Foi refrescante. Contudo, à medida que eu avançava na leitura, achei que isto estava inesperadamente fazendo algo profundo no meu interior. Comecei a sentir um tipo de paz com minha introversão que pode ter ido um pouco longe demais. Até mesmo Aileen [esposa do autor] notou isso em mim e o destacou. Ela notou que eu comecei a me sentir justificado em fugir de multidões e estar sozinho. Ela disse que eu estava me tornando egoísta. 

Creio que Deus me fez introvertido. Parece claro que alguns de nós são mais desinibidos enquanto outros são inclinados naturalmente a serem calados. Eu sou introvertido de natureza e isto é parte do bom projeto de Deus. Um não é inerentemente errado nem é intrinsecamente melhor que o outro. Mas o que Cain não reconhece, escrevendo de uma perspectiva secular como ela o faz, é que nós habitamos num mundo de pecado onde qualquer peculiaridade ou qualidade pode ser usada para fins que glorificam a Deus ou para fins de autoglorificação. Não apenas isso, mas Deus nos chama para estarmos sempre dispostos a negar nossos desejos a fim de servir a outros. Tanto introvertidos quanto extrovertidos enfrentarão tentações particulares para pecar. A minha tentação como um introvertido é de rapidamente distanciar-me de pessoas ao invés de servi-las. É ser egoísta ao invés de altruísta. 

A vida cristã é uma vida de renúncia. É uma vida de dizer, "Ainda que isto seja o que eu quero, o dever me leva a fazer algo diferente." Há muitas vezes que nego meus próprios desejos a fim de servir os outros. Até mesmo o desejo de estar sozinho. David Powlison trata disso bem: 

"A vida cristã é um grande paradoxo. Aqueles que morrem para si, encontram a si mesmos. Aqueles que morrem para seus desejos receberão muito mais nesta era, e, na vindoura, vida eterna (Lc 18.29). Eles encontrarão novas paixões pelas quais é digno viver e morrer. Se eu desejo felicidade, receberei miséria. Se eu desejo ser amado, receberei rejeição. Se eu desejo significado, receberei futilidade. Se eu desejo controle, receberei caos. Se eu desejo reputação, receberei humilhação. Mas se anseio por Deus e Sua sabedoria e misericórdia, eu receberei Deus, sabedoria e misericórdia. Durante o caminho, cedo ou tarde, também receberei felicidade, amor, significado, ordem e glória." 

Eu não tenho nenhum direito de desejar a solidão introvertida. Em vez disso, o evangelho me leva a negar até mesmo essa característica e todos os seus desejos a fim de servir outras pessoas. Eu sou introvertido, porém isto não me dá um chamado diferente na vida em relação aos cristãos gregários [que vivem em grupo]. 

O que tive de enfrentar enquanto ouvia o livro Silencioso é que introversão é o que eu sou, não quem eu sou. E isto é onde a discussão de introversão e extroversão geralmente parece tomar um caminho errado. Nós elevamos tanto essas características e as utilizamos para justificar o egoísmo em vez do altruísmo. Tenho de ser cauteloso ao me definir em categorias não bíblicas. Isto não é dizer que é errado falar que sou introvertido, mas que esta é uma distinção que a Bíblia não faz. Sendo este o caso, eu não quero permitir que a introversão me defina ou dite o meu comportamento. A introversão é uma descrição útil, mas também uma definição pobre. 

domingo, maio 08, 2016

Filho de cada mãe: uma reflexão sobre o dia das mães

O seguinte texto de Douglas Wilson foi publicado ontem no Desiring God (original aqui). Ele é uma reflexão interessante sobre o Dia das Mães.
Parabéns a todas as mães dos leitores deste blog.

Que Deus seja glorificado.

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Um dos grandes mandamentos na Escritura, e o primeiro com promessa, é o mandamento para honrar pai e mãe. Filhos e filhas são chamados para este privilégio e responsabilidade, mas vale a pena notar que ambos precisam prestar pelo menos metade de sua honra em um território alienígena.

Quando um homem honra seu pai, ele está honrando o que ele espera se tornar um dia. Quando seu pai considera seu filho, ele lembra como ele era. O mesmo é verdadeiro acerca de uma mulher honrando sua mãe, e de uma mãe relembrando o que foi ser uma garota. Mas quando uma mulher honra seu pai, e um homem honra sua mãe, ambos estão andando pela fé honrando um mistério.

Comece na fonte 

Uma das coisas que este tipo de honra faz é criar uma declaração profunda de dependência. Para a mulher sábia, sua reflexão volta para as primeiras páginas de Gênesis, em que a primeira mulher foi tomada da costela do primeiro homem. Mas para o homem, a Escritura o relembra de realidades mais próxima do lar. Ele provavelmente lembra de seu próprio aniversário e de honrar a mulher particular a qual o deu à luz naquele dia.

"Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor. Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus" (1 Co 11.11-12).

Mulheres geralmente não são independentes do homem, Paulo argumenta, porque a primeira mulher mulher foi feita a partir do primeiro homem, mas seu raciocínio é diferente indo em outra direção. Cada homem não é independente da mulher porque ele nasceu de uma mulher particular. Toda mulher foi representada pela sua mãe Eva e portanto tomada de Adão. Porém todo homem foi conectado a uma mulher individual  em uma maneira íntima.

E aqui nós podemos ver como o relacionamento de um homem com sua mãe é determinante em outros relacionamentos. Paulo está discutindo a relação de homem e mulher juntos, marido e mulher, e ele está dizendo aos maridos que o segredo para um correto relacionamento com sua esposa é ter um correto entendimento do relacionamento com sua mãe. Se você quer que a água seja limpa, comece na fonte.

Para que te vá bem

Não poucos problemas do casamento iniciam com o fato de que o marido não honrou sua mãe da maneira que ele deveria. Isto também se estende nos relacionamentos confusos que muitos homens têm com suas filhas. Se um homem não reconhece a sua dependência em relação à sua mãe, ele terá dificuldade para reconhecer o tipo de dependência que ele deve ter em relação à sua esposa.

Nós devemos retornar ao fato de que o quinto mandamento é um mandamento com promessa. Qual é a promessa? Em Êxodo 20, isto é posto desta forma: "Honra a teu e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá" (Êx 20.12). A citação de Paulo disto é expressada desta maneira: "para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra" (Ef 6.3).

Que vivas muito tempo. Para que te vá bem. Agora onde será a maior parte deste derramamento de bênção? Onde será que muito disto tomará lugar? A resposta é obviamente na vida que um homem vive com sua família, com sua esposa, com suas filhas, em torno de sua mesa de jantar. 

Dê honra genuína a ela

Muitos cristãos que cresceram em lares problemáticos têm concluído falsamente que se eles apenas  descerem suficientemente o caminho para longe de seus familiares, então a alegria simplesmente irá misteriosamente reaparecer. Não, o que geralmente acontece é que lentamente, imperceptivelmente, inexoravelmente, todos os velhos padrões começam reorganizar-se e reproduzi-los em um novo local.

É por isto que o Dia das Mães é uma oportunidade maravilhosa para prestar genuína honra que é muito mais que a propaganda exige nós. Se nós apenas lançarmos mão do cartão de homenagem superficial, ou o obrigatório buquê de flores, então nós estamos perdendo o sentido.

Agora quando eu digo que uma celebração de algo como o Dia das Mães é escriturístico, como eu o digo, eu não estou estendendo isto aos costumes particulares. Nada na Escritura requer uma data particular no calendário, ou dar rosas ao invés de tulipas, ou um cartão no lugar de um presente. Nós estamos atrás do princípio, não do método. A Escritura não dita que método particular nós usamos, mas ela requer que tenhamos um método.

Uma vez que tenhamos identificado aquele método, estamos a prestar honra àquela pessoa que Deus usou para nos dar nossa maior bênção terrena.
Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor.
Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus.
1 Coríntios 11:11,12