quarta-feira, dezembro 31, 2014

GQL 2014: "Combate o bom combate da fé".


A noite estava tranquila e movimentada para o horário, cerca de 21:30, quando andávamos pelos quarteirões de Belém. A conversa que tive com o irmão da igreja estava tranquila e agradável, e quando chegamos em casa, que não ficava muito distante da dele, a conversa se estendeu. Naquela noite, eu e Nilton Rodolfo conseguimos interagir mais, e finalmente, uma amizade realmente sólida começara a surgir, pois até então minhas idas aos cultos da missão com adolescentes se resumiam a breves conversas e participação nos cultos. Isso completará 10 anos em 2015, quando após isso surgiram outros amigos como Renan Diniz, Carlos Eduardo e Janyson Costa.

De lá para cá, não há como contar as inúmeras bençãos que foram derramadas por Deus em nossas vidas e ministério, assim também como a força para continuar continuando mesmo em meio a lutas e desafios enfrentados. Hoje, continuamos nosso ministério em uma pequena congregação local e dos desafios que esta apresenta. Por vezes, temos a pensar que os desafios são maiores em uma mega-igreja, onde há milhares reunidos, por vezes de maneira superficial. Porém, o desafio muitas vezes é maior quando lidamos com pessoas frente a  frente, onde conhecemos mais de suas vidas, seus medos e dificuldades. É ali que somos forjados ministerialmente, e de uma maneira singular, em 2014 isso cada vez mais se consolidou. Neste ano, realizamos mais uma Conferência Graphe, que contou com a participação de Gutierres Siqueira, amado irmão do blog Teologia Pentecostal, blog que surgira um pouco antes do GQL e que neste ano tive a oportunidade de escrever artigos relacionados a fé pentecostal. Por certo o maior desafio enfrentado por mim neste ano foi a perda de minha tia, o que muito entristeceu minha mãe e a família. Eu nunca havia dado uma palavra em um momento como esse, nunca esperei que falaria justamente no momento de despedida de minha tia.

Neste ano também vimos o mundo cristão ortodoxo ficar mais órfão; três grandes teólogos, de tradições distintas, partiram para a glória celestial, Gerard Van Groningen (reformado), Dwight Pentecost (dispensacionalista) e o célebre Stanley Horton (pentecostal). Todos com avançada idade (Groningen com 93, Horton com 98 e Pentecost  com 99), todos há muitos anos combatendo por Cristo, agora esperam a recompensa e a ressurreição dos mortos.

A igreja em Éfeso certamente não era uma igreja tão pequena, mas certamente havia uma congregação própria, onde Timóteo deveria lidar com os problemas que cercam um ministério cristão. Em sua primeira epístola, Paulo exorta seu filho na fé a militar boa milícia (1 Tm 1.18), a lidar com os mais variados problemas e dificuldades como um bom soldado do exército de Cristo. Com isso, Timóteo deveria orar (1 Tm 2.2); orientar as irmãs em Cristo (1 Tm 2.9), analisar os futuros líderes (capítulo 3), e permanecer firme e diligente em seu ministério (cap. 4), além de outras importantes atividades ministeriais, que Timóteo deveria cumprir para seu ministério ser legítimo e proveitoso diante de todos em Éfeso (cap. 4.15).

Certamente é dever de todo o crente combater o bom combate da fé, lutar em uma guerra espiritual contra tudo o que guerreia contra a alma. Como acertadamente diz J. C. Ryle em sua Magnum Opus, Santidade: 

"Somente um cristão verdadeiro realiza o trabalho de um soldado. Apenas ele enfrenta diretamente os inimigos de sua alma; e realmente luta com eles e os vence".

 O "bom combate" é bom por seu resultado. Quando lutamos, lutamos por Cristo, quando vencemos, vencemos pela graça de Cristo.

Nossa oração é que possamos continuar avançando, continuar continuando, crescendo na graça e no conhecimento de Cristo, cumprindo bem nosso ministério. Combatendo o bom combate da fé pela graça de Deus, nosso amado Pai, no poder do Espírito, nosso consolador.

Que o nome de Nosso Senhor Jesus seja glorificado!

Um feliz 2015 a todos!

Soli Deo Gloria

quinta-feira, dezembro 25, 2014

O Natal Acontece a Cada Conversão?

"Ora o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo" (Mateus 1.18).

Em nossos  dias o período natalino gira em torno de compras, vendas, papai noel, boas ações e coisas afins. Diante disso, muitos têm se esforçado para que as pessoas retornem ao sentido genuíno do natal: o nascimento de Cristo Jesus. É por isso que vemos cantatas e pregações natalinas em muitas igrejas. Entretanto, mesmo nos eventos realizados em congregações cristãs, deparamo-nos com alguns ensinos problemáticos acerca do natal. Neste texto, gostaria de tratar sobre um pensamento equivocado que ouço há muito tempo, a fim de que não caiamos em erro - mesmo que seja inconscientemente.

Ao fim de cantatas de natal é comum ouvirmos a seguinte frase: "lembrem-se, o natal acontece todas as vezes que Jesus nasce no nosso coração" - ou algo semelhante. Particularmente, eu já ouvi tal ideia inúmeras vezes. Entretanto, seria bíblico pensar dessa maneira? Podemos falar de não somente de um natal, mas de tantos quantos forem os cristãos no mundo inteiro?

Pela Palavra de Deus, vemos que conceber o natal desse modo é errado. Notemos a objetividade da revelação bíblica nas palavras de Mateus: "Ora o nascimento de Jesus Cristo foi assim..." Tal simplicidade em narrar o acontecimento do nascimento de Jesus Cristo é de fundamental importância para a nossa breve análise. Porque a narração feita por Mateus demonstra que o natal é um fato histórico; sendo, portanto, objetivo e único. Ou seja, "vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" [1]; "e o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" [2] são fatos que ocorreram na história apenas uma vez. Dessa forma, embora Cristo Jesus não tenha nascido no dia 25 de dezembro, é importante sim que comemoremos o natal. Porque Deus o Pai enviou Seu Filho Unigênito a este mundo e o Filho encarnou e habitou entre nós, pela concepção miraculosa no ventre da virgem Maria operada pelo Espírito Santo, em um dia definido e certo.

Diante disso, entendemos que a objetividade e a historicidade do natal estão intimamente relacionadas à nossa fé. Porquanto, se a nossa fé descansasse em algum tipo de subjetividade ela seria tão duvidosa quanto o seu fundamento. Mas, graças a Deus pelo natal. Graças a Deus por ser fiel. Pois no tempo certo da história, pôde-se ouvir tamanha maravilha: "Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo, pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor" [3].

Além da subjetividade que a ideia de "natal é quando Jesus nasce no nosso coração" traz, outro problema é a imaturidade acerca da Pessoa de Cristo. Não podemos achar que o menino Jesus nascerá em nosso coração, amadurecerá e se desenvolverá em nós à medida que crescermos na fé. Isto é bobagem. Jesus Cristo não é mais um menino; Ele já cresceu e está à destra do Pai nas alturas [4]. 

Outra questão, também, é sobre a confusão entre natal e conversão. Sinceramente, penso que muitos irmãos que usam a frase sob análise neste texto querem enfatizar, mesmo que inadequadamente, a relevância do natal para o evangelismo e a conversão a Cristo. Então, aprendamos com a Bíblia que o natal não ocorre a cada conversão, e sim que, por causa do natal, o novo nascimento (regeneração), evidenciado na genuína conversão a Deus é plenamente possível. Nas palavras do apóstolo João:

"Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome" [5].

Desejo a todos os leitores deste blog um abençoado natal. Que Deus os abençoe na Pessoa do Deus-Homem, o Senhor Jesus Cristo.

Que Deus seja glorificado.

Notas:
[1] Gl 4.4.
[2] Jo 1.14.
[3] Lc 2.10,11.
[4] Mc 16. 19.
[5] Jo 1.11-12.

terça-feira, dezembro 23, 2014

Concebido pelo Espírito: O Maravilhoso Nascimento do Filho de Davi


"O nascimento de cada criança é um evento maravilhoso; traz a existência uma alma que jamais morrerá. Mas, desde que há mundo, jamais houve nascimento tão maravilhoso quanto o de Jesus".

J. C. Ryle, Meditações no Evangelho de  Lucas


Muitos crentes se perguntam acerca da relevância das genealogias. Muitos outros, em sua leitura devocional, passam por cima das genealogias no livro de Crônicas e em outras passagens. Todavia, os crentes bem sabem que tudo o que está escrito foi escrito tendo em vista nosso bem espiritual (Rm 15.4). As genealogias bíblicas relatam algo importante: A ação de Deus ocorre na história, no tempo e no espaço. A Bíblia é um livro fincado na história, e não meramente um relato lendário, sobre algo que é alheio a realidade objetiva e confinado a uma experiência religiosa subjetiva. No nascimento de Nosso Senhor, isso se reveste de importância especial. Dos quatro evangelhos, o de Mateus e Lucas apresentam as genealogias de Cristo, sendo que ambas se situam em um contexto importantíssimo: Ambas são de um homem que nasceu de forma extraordinária, do homem que nasceu de uma virgem.

No evangelho de Mateus, as palavras introdutórias são:

"Livro da Geração de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão" (Mt 1.1).

Com isso, o apóstolo procura estabelecer  as credenciais de Jesus,ele é descendente do rei Davi, ele é igualmente descendente de Abraão. Em Abraão se tem a promessa que todas as famílias da terra seriam abençoadas através de sua semente (Gn 28.14). Em Davi, temos a promessa que sua descendência ficaria para sempre no trono e que seu domínio seria eterno e sobre toda  a terra (2 Samuel 7.26-29; 23. 1-4). Jesus faz parte, portanto, da linhagem messiânica-real, da promessa de Deus. Porém Mateus prossegue:

"Abraão gerou a Isaque, Isaque Gerou a Jacó.."(Mt 1.2)

Segue-se, então uma linha de gerações, sendo passando por Davi, salomão e outros herdeiros ao trono. Até por fim chegar em "José, marido de Maria, de maria, da qual nasceu Jesus, que se chama O Cristo" (Mt 1.17).

Há algo surpreendente aqui. Mateus não diz que  José gerou a a Jesus, mas apenas que fora marido de Maria, de quem nasceu Jesus, sendo que ele é chamado por Mateus de forma muito clara: O Messias. Mateus claramente mostra que Jesus não nasceu de maneira natural pelo versículo seguinte, onde Maria acha-se ter concebido pelo Espírito Santo (vrs 18). Não há espaço para mitologia aqui, nem tampouco há o mínimo espaço para a visão muçulmana que houve uma coabitação. D. A. Carson esclarece:

"Não há nenhum indício de deidade pagã humana pagã copulando em termos grosseiramente físicos. Ao contrário, o poder do Senhor, manifesto no Espírito que se esperava fosse ativo na era messiânica, realizou milagrosamente a concepção"(1).

No evangelho de Lucas, fica claro maria concebe pelo poder do Espírito (Lc 1.31-35). José, na época noivo, sendo um justo, não poderia casar com Maria, porém em sonho, um anjo do Senhor dissipa toda a dúvida existente, dando uma revelação surpreendente a José, filho de Davi:

"Não temas receber Maria, por tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo" (vrs 21).

Mateus apresenta uma cadeia de gerações, Abraão Gerou a Isaque, Isaque a Jacó, passa-se então por Judá, de onde será depois Gerado Davi até José. Porém, A palavra do anjo é clara: " o que nela está gerado é do Espírito Santo". O que na virgem está gerado não vem simplesmente através de José; não  é por simples geração humana, ele vem de Deus, pela intervenção de Deus. É dito a José qual nome deve dar ao menino: JESUS (do hebraico Josué: Jeová é a salvação), porque "salvará o seu povo dos seus pecados" (vrs 21). Tudo isso acontece para cumprir a profecia de Isaías. Mateus claramente declara um aspecto importante acerca de Jesus, ele é homem,que possui uma missão de salvação, como muito bem testifica o Senhor Jesus diante de Pilatos: "eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, para dar testemunho da Verdade, todo aquele que é da verdade ouve a minha voz" (Jo 18.37). Ele é a própria verdade que nos leva até o Pai. Ele também é de Deus, ele mesmo é "Emanuel", que significa: "Deus conosco" (vrs 23). No dizer de Joseph Ratzinger: 

"José é juridicamente o pai de Jesus. Por meio dele, Jesus pertence segundo a Lei, 'legalmente', à tribo de Davi. E, todavia, vem de outro lugar, 'do alto': do próprio Deus...sua origem é determinável e, todavia, permanece um mistério. Só Deus é o seu Pai em sentido próprio"(2).

Não se que dizer com isso que Jesus não seja da descendência de Davi segundo a carne, pois tanto Lucas quanto o apóstolo Paulo testificam desta verdade (Lc 1.32; Rm 1.3-4), sendo portanto Maria descendente de Davi, mas não da linhagem real, que provém legalmente através de José. Portanto, Jesus é filho de Davi, tanto por direito quanto de fato, porém ele é tanto filho de Davi quanto maior que Davi. Na narrativa de Mateus, essas duas verdades se beijam nos capítulo subsequente: Jesus nasce em Belém. Ele é da tribo de Judá, ele é a raiz de Davi, ele é o herdeiro do trono, porém é mais do isso, pois como nos diz Miquéias:

"E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Mq 5.2).

Ele é algo que nunca chegaremos a compreender plenamente. Ele é o Deus eterno, que se manifestou em carne (1 Tm 3.16), ele é Maravilhoso (Is 9.6).  Por fim, isso nos leva a profundas verdades:

O menino que nasceu é Rei: Ele é o cumprimento da promessa de Deus a Davi, ele é o herdeiro do trono, a ele pertence um domínio eterno. Ninguém é como Cristo.

O menino que nasceu veio para nos libertar: Ele é a verdade, e quando o conhecemos, estamos livres para adorar a Deus em espírito e em verdade.

O menino que nasceu nos libertou dos nossos pecados: Na cruz, Jesus foi o cumprimento perfeito de Isaías 53, o servo do Senhor, que morre em favor de seu povo, mas ressuscita para ver a sua posteridade: todos aqueles que se chegam a Deus através dele (Hb 2.12-13).

O menino que nasceu é Deus: Jesus é o verbo que se fez carne (Jo 1.1), que tabernaculou entre nós, nele podemos ter acesso a Deus, e contemplar a face de Deus, pois ele é Emanuel "Deus conosco".

Diante disso, a pergunta feita por Pilatos: "quem és tu?", é respondida. Ele é o messias, o salvador, o Rei, a quem nos devemos crer, depositar nossa esperança, sabendo que através dele temos paz com Deus e temos seu amor derramado em nossos corações (Rm 5.1,5).

O blog Geração que Lamba deseja um Feliz natal a todos!

Amém!

Soli Deo Gloria

Notas:

CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2011. p.100.
RATZINGER, Joseph. A Infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012. p. 16.
A questão de Maria ser descendente de Davi é reforçada com a posição que a genealogia apresentada por Lucas é a de Maria, o que explica as diferenças existentes com a genealogia de José apresentada em Mateus. Muitos teólogos conservadores possuem a visão de que ambas as genealogias são de José. Todavia, concordo com Thomas e Gundry, que apresentam defendem o ponto de que a genealogia de Lucas é a de maria,  elencando várias razões, dentre elas destaca-se a que afirma: "Visto que Lucas destaca a humanidade de Jesus, sua solidariedade com a raça humana e a universalidade da salvação, é adequado que mostre a humanidade de Jesus ao registrar sua descendência  por meio de sua progenitora humana, Maria. A genealogia de Jesus, então, remonta até Adão". Cf. THOMAS, Robert. GUNDRY, Stanley. Harmonia dos Evangelhos. São paulo: Vida, 2007. p.284.

terça-feira, outubro 21, 2014

A Justificação Pela Fé: Uma doutrina Distintamente evangélica.


Desde o século XVI, o mundo cristão testemunhou um dos maiores rompimentos dentro da igreja católica desde 1054, quando houve a separação entre os cristãos do ocidente (catolicismo romano) e do oriente (ortodoxia oriental). Encabeçada pelo monge alemão Martinho Lutero, a reforma protestante trouxe em seu bojo uma doutrina fundamental: A salvação, que provinha da graça, seria recebida unicamente pela fé em Cristo. No âmbito da igreja medieval, isso mexera com toda a estrutura católica. Lutero a classificou como doutrina fundamental, uma doutrina pela qual a igreja se firma ou cai1Na igreja católica da época de Lutero, as indulgências, os ritos penitenciais e outros elementos seriam meios para receber e garantir a salvação. Tudo isso tumultuou a vida de Lutero, pois ele reconhecia que não conseguia realmente ser aceito por Deus pelo ato de realizar obras meritórias, nem tampouco a “mediação dos santos” podia fazer algo a respeito. Após estudar profundamente a epístola ao Romanos, e depois Gálatas, as trevas desapareceram, e Lutero pôde entender o que Deus quer não são simplesmente atos externos e uma tentativa de comprar a salvação, mas sim a confiança nos méritos de Cristo, em sua morte e em sua ressurreição. Em outras palavras, a salvação é um dom de Deus, e não algo conquistado pelo esforço humano. Com isso, ocorreu um divisor de águas na teologia, na doutrina e na própria dinâmica da vida cristã.

A Bíblia está repleta de passagens onde mostra que o ser humano por si mesmo nada pode fazer por sua salvação, pois vive em estado de pecado (Cf. Sl 14.1-2; Rm 3.9-12), por isso sua justiça é repugnante  para Deus(Cf. Is 64.6). Portanto é Deus que providenciou a salvação humana enviando a seu filho Jesus Cristo, para que todo o que crê não pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3.16) e somente através d'Ele nos tornamos inocentes diante de Deus2. Contrariando o pensamento vigente na época em que Lutero escreveu suas 95 teses, e que ainda reverbera em muitas mentes, tanto católicas quanto protestantes que o ser humano, de alguma forma, deve se preparar e estar apto para receber a graça3 , a fé protestante evangélica sustenta que o ser humano se encontra no lamaçal do pecado e é Deus que providencia e opera a salvação no coração do homem. As obras não são condições básicas para a salvação. Como diz o teólogo Norman Geisler: “Se a salvação não fosse unicamente por fé, toda a mensagem do evangelho de João seria fraudulenta...Quando lhe perguntaram: 'Que faremos para executarmos as obras de Deus?' Jesus respondeu: 'a obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou' (Jo 6.29). Simplesmente falando, não existe mais nada que possamos fazer para a nossa justificação – Jesus já fez tudo (Jo 19.31)”4 .

Com isso, vemos que a Justificação pela fé (Sola fide) é algo a ser depositado unicamente em Cristo como único mediador entre Deus e os homens (Solus Christus - 1 Tm 2.5), com isso toda a mediação dos santos cai igualmente por terra. Portanto, a doutrina da justificação pela fé dá o entendimento necessário e adequado do que é ser um protestante e evangélico. Isso nos diferencia tanto histórica quanto teológica e doutrinariamente. Em dias de ecumenismo religioso pueril, onde muitos que ostentam o nome “protestante” devem lembrar realmente dos fundamentos da Reforma e da fé evangélica. Não há como classificar de genuinamente evangélica uma doutrina de fé que adiciona algo ao evangelho de Cristo (Gl 1.8). Desviar-se da doutrina da justificação pela fé é indubitavelmente afastar-se da própria verdade cristã.

Notas:

1 OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. Tr. Gordon Chow. São Paulo: Editora Vida, 2001.p. 399.

2 A palavra “justificar” (do gregro \”dikaio”), significa, basicamente ,”tornar justo”.

3 Uma interessante análise sobre isso se encontra em RUPP, E. Gordon. WATSON, Philip S(ORG). Lutero e Erasmo: Livre arbítrio e Salvação. Tr. Nélio Schineider. São Paulo: Editora Reflexão, 2014.

4 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática – volume 2.Tr. Marcelo Gonçalves e Degmar Ribas. Rio De Janeiro: CPAD, 2010. p.236.

quinta-feira, agosto 14, 2014

Reflexões Sobre a Morte de Eduardo Campos


Ainda estou chocado com a notícia que recebi ontem via mensagens de amigos no Whatsapp. Eu estava verificando o site da campanha de Eduardo Campos (e Marina Silva) a fim de compreender melhor as propostas apresentadas por ele no Jornal Nacional no dia anterior (12/08/2014). Foi então que recebi a mensagem mais triste do dia: ocorreu um acidente com o avião em que o candidato Campos estava - ele faleceu.
A primeira coisa que me veio à mente foi algo assim: "Como um homem que estava dando uma entrevista ontem pode falecer em menos de 24 horas?" Confesso que nas últimas eleições eu não me preocupei em saber detalhes acerca das propostas dos candidatos. Mas neste ano, pela graça de Deus, tenho procurado compreender estas coisas melhor para poder votar com a responsabilidade de cidadão brasileiro e, acima de tudo, de cristão - o que ocasionou a intensão no choque da notícia da morte do primeiro candidato à presidência ao qual eu de fato parei para ouvir.
Mas voltemos à pergunta que me fiz ontem. Na verdade ela expressa um pouco da tendência que temos de não pensar em nossa própria morte. Esperamos por mortes mais prováveis - pelo menos ao nosso ver -, como a de um parente idoso ou a de um amigo que está com uma doença bastante grave. Mas se estamos com a "saúde em dias" e, como dizem, na "flor da idade", parece-nos que a nossa morte é algo simplesmente impensável. Entretanto, diante da Palavra de Deus, estamos completamente errados.
Na carta de Tiago temos de maneira maravilhosamente clara e objetiva o fato de que a nossa própria morte deve ser considerada por nós diariamente. O escritor inspirado diz:
"Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos; digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo" (Tg 4.13-15).
Com base nesse ensino bíblico de suma importância, gostaria de considerar somente alguns pontos para nossa reflexão:
- A nossa vida é como um vapor: A verdade é que a iminência da morte alcança não somente aos idosos e doentes, e sim a todos nós. Não importa se somos crianças, adolescentes, jovens ou adultos cheios de saúde. Não importa se temos um futuro brilhante pela frente. A morte pode, a qualquer momento, chegar para cada um de nós.
- Devemos nos humilhar diante do Senhor do futuro: Como podemos morrer a qualquer momento, devemos fazer nossos planos em humildade diante de Deus. Todo e qualquer planejamento feito por nós que não traz em seu íntimo a condição "se o Senhor quiser" não passa de soberba e ilusão, de modo a sugerir uma autossuficiência que não existe em nós.
- Nossa segurança está em andar com o Senhor que venceu a morte: Se a morte é diariamente iminente para nós, de que maneira devemos viver? Além de conceber nossos planos (estudos, trabalho, casamento, família, igreja, etc.) em humildade diante de Deus, muito mais importante que isso, devemos ser filhos dEle. Precisamos ser amigos de Jesus Cristo. Porque se verdadeiramente nos arrependermos de nossos pecados e crermos no Evangelho, estaremos seguros em Cristo, até mesmo, em relação à morte. Sabendo que o Deus a quem servimos é soberano sobre a vida e a morte. Como bem nos ensina o apóstolo Paulo:
"Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 8.38,39).
Gostaria de terminar este texto pedindo a Deus que Ele console a família enlutada do candidato Eduardo Campos e a de cada vítima do acidente que nos abalou no dia de ontem. Quero que cada familiar saiba que mesmo em momentos difíceis e terríveis como esse, o Senhor Deus está no controle e é todo poderoso para cuidar de vocês. Ele é plenamente confiável.
Que Deus nos guarde em Cristo.
Romanos 8:39
Romanos 8:i

Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.

Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.
Tiago 4:13-15
Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos;

Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.

Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.
Tiago 4:13-15
Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos;

Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.

Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.
Tiago 4:13-15
Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos;

Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.

Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.
Tiago 4:13-15
Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos;

Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.

Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo

quarta-feira, agosto 06, 2014

Não Julgueis?



É muito comum entre os evangélicos ouvir, “não julgueis para que não sejais julgados”, ou que exista falta de amor nos cristãos que exerçam julgamento, ou que tomem um posicionamento diante de questões éticas ou doutrinárias. Isso demostra a falta do correto ensino dentro das nossas igrejas, e a mentalidade relativista que tem tomado conta das pessoas, e que até mesmo pastores têm trazido pra o ensino da igreja, de que ninguém pode julgar, pois não é o detentor da verdade.
Onde também é ensinado que o amor deve estar acima da verdade, de que devamos manter um espírito de unidade, uma atitude tolerante diante de atos imorais e erros teológicos e doutrinários. Declarando a unidade ser mais importante que a verdade. Que diante das Sagradas Escrituras é claramente um ensino errôneo e provém de uma má interpretação bíblica, “... muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo... Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus... Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas obras más” (2 Jo 7-1).
Nas palavras de Erwin W. Lutzer¹ “O argumento que declara ser a unidade mais importante que a verdade, e o amor mais importante que a doutrina correta, está errado em seu âmago”². Então nós devemos julgar ou não? Passemos a analisar o texto de Mateus 7:1-6 :
Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.
Certos pontos ficam claros aos nossos olhos:
Primeiro: O Senhor Jesus não proíbe o julgamento, Jesus condena o julgamento hipócrita, aquele que é feito sem primeiro repararmos em nós mesmos, onde nós apenas enxergamos as falhas e defeitos do nosso próximo e não nas nossas. O que devemos fazer é nos submeter aos mesmos parâmetros de julgamento que utilizamos para os outros e então reconhecer as nossas falhas, tirar a trava dos nossos olhos para então podermos tirar o argueiro do olho do nosso irmão.
Segundo: Nós devemos exercer discernimento, obedecer ao mandamento do versículo 6, que diz que não devemos dar aos cães as coisas santas, e nem deitar aos porcos as nossas pérolas, então como vamos identificar tais pessoas se não exercermos o julgamento? Precisamos julgar, nós conhecemos os filhos de Deus pelo seu caráter, pelos seus frutos, então façamos isso e sempre de forma humilde.
Terceiro: Não podemos transigir com a imoralidade, nem com o erro doutrinário, não podemos ser tolerantes com o pecado. Devemos desmascará-lo e combate-lo. Precisamos estar preparados para combater a heresia, e tomar posições firmes diante de atitudes imorais de nossos próximos e podermos orienta-los e tirar o argueiro de seus olhos quando tivermos tirado a trave do nosso.
Diante disso, julgar não é errado, muito menos falta de amor, é correto e devemos fazê-lo desde que tenhamos feito o que Jesus nos manda, com humildade e não de forma arrogante, julgar a nós mesmos, exercer um correto discernimento e de forma alguma tolerarmos a imoralidade ou o erro doutrinário, e então podemos ajudar o nosso irmão com o argueiro do seu olho. Lembremos que tirar a trave do nosso olho deve ser nossa prioridade.
Somos ordenamos a exercer julgamento, entretanto devemos fazê-lo com amor e humildade, não com o intuito de apontar o dedo e condenar nosso próximo, visto que nós também somos pecadores, mas para ajudar o próximo, nossos irmãos, inclusive os mais novos na fé, então o façamos com diligência a fim de abençoar e edificar nossas igrejas, para que o verdadeiro Evangelho seja fielmente pregado em nossos púlpitos.


Tiago Costa, Sola Gratia.


¹Erwin W. Lutzer é pastor presidente da igreja memorial Moody em Chicago.

²Extraído do livro Quem é você para julgar?, de Erwin W. Lutzer, editora CPAD.

terça-feira, julho 29, 2014

Deus é Soberano

Há alguns meses eu e minha família passamos por um momento bastante difícil. Nós
experimentamos a perda de um ente muito querido que passou para o Senhor devido um acidente de moto. Nas semanas e meses que se seguiam após sua morte, muitas informações desconhecidas iam surgindo. Informações valiosas que, se conhecidas no momento do acidente, poderiam ter salvado a sua vida.
Com cada vez mais informações, mais a nossa indignação aumentava, as pessoas ao meu redor se perguntavam: “como nós não sabíamos disso?” ou “por que Deus permitiu que isso acontecesse?” ou até mesmo “onde está o meu milagre Jesus?”. Eu não as culpo, em um momento como este nosso coração desfalece! Enfim, depois de ficar refletindo sobre toda esta situação, eu chegara à conclusão que eu repetia em minha mente nesse período, de que o Senhor é realmente soberano! Eu havia experimentado de forma mais vívida da soberania do Senhor! Era como se meu espírito, mesmo em meio a tamanha dificuldade, se acalmasse e sossegasse e descansasse em Deus, na certeza de que o Senhor sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder, como nos diz o autor de Hebreus, que o Seu eterno propósito não pode ser frustrado, que nenhum de seus filhos estão a mercê, mas nós podemos ter a plena confiança de que somos ovelhas do Senhor Jesus e que ninguém as arrebatará das Suas mãos! (João 10:28).
Mesmo nós não conhecendo a mente e os caminhos de Deus, nós podemos descansar Nele, Ele é digno da nossa confiança, pois o Senhor é bom, e Sua sabedoria ilimitada. Nas palavras de James I. Packer: “... em Deus a sabedoria ilimitada e o poder infinito estão unidos, e isso o torna completamente digno de nossa confiança total”. ¹ Podemos verdadeiramente entregar nossos cuidados a Deus, pois nós devemos compreender que todas as coisas são para a Sua glória! Como disse o Apóstolo Paulo na sua epístola aos Romanos: “Ó profundidade de riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? Ou quem se fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a Ele, para que seja recompensado? Porque dEle, por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém”. Tudo é para o Senhor e para sua glória.
Embora sejamos cristãos e a Bíblia nos ensine que Deus é amor (1 João 4:8-10) isso não significa que estaremos isentos de sofrimentos, ou que teremos um vida livre de problemas. Essa interpretação do propósito de Deus é um completo engano, a sabedoria de Deus e seu amor nunca foram prometidas para nos manter felizes; principalmente a nós cristãos, foi prometido o contrário, foi-nos prometido uma cruz para morrer nela e a vida eterna. O sofrimento faz e fará parte de nossas vidas até o dia em que Cristo nos chamar, e apesar de todas as provações nós temos a promessa do Senhor Jesus, e podemos confiar plenamente que Ele está conosco até a consumação dos séculos (Mateus 28:20). Que diante das adversidades nós possamos nos expressar como Lutero: “Não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço bem meu guia”. Mesmo que a vida nos traga tristezas, infelicidades e incertezas nós devemos sempre descansar em Deus! Sempre nos regozijando, sabendo que tudo é para a Sua glória, que sempre existe uma razão para as tribulações. Ainda nas palavras de James I. Packer: 
Deus talvez queira fortalecer-nos a paciência, o bom humor, a compaixão, a humildade ou a mansidão, dando-nos nesse momento alguns exercícios extras para praticarmos essas graças em situações especialmente difíceis. Talvez Ele tenha novas lições sobre abnegação e autodesconfiança para nos ensinar. Talvez Ele queira anular em nós algumas formas de orgulho e convencimento não percebidas, ou complacência e ilusões. Talvez seu propósito seja simplesmente nos chamar para mais perto dEle, em comunhão; pois muitas vezes acontece, como todos os santos bem o sabem, que a comunhão com o Pai e com o Filho é mais vívida e doce, e a alegria cristã é maior quando a cruz é mais pesada. (Lembre-se de Samuel Rutherford!)² Ou talvez Deus esteja nos preparando para alguma forma de atividade de que até o presente não tínhamos noção”³. Por essas razões devemos seguir lembrando que “Todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28). 
Por isso, prossigamos em nossa caminhada até a cidade celestial confiando plenamente na soberania de Deus, e que mesmo em meio às provações a nossa alma possa descansar, encontrando refúgio e consolo no Senhor! Amém.


Tiago Costa
Sola Gratia.

Nota do Editor: Tiago Costa foi um dos meus primeiros alunos na escola dominical, quando ainda era um recém-chegado à adolescência. Hoje, é bacharelando em Direito e começa a dar seus primeiros passos na escrita de artigos bíblicos e nas aulas da Escola Dominical. Que Deus o abençoe nesta jornada!

Notas
¹ Extraído do livro O Conhecimento de Deus De, J. I. Packer, editora Mundo Cristão
² Samuel Rutherford foi um teólogo presbiteriano escocês e autor.
³ Extraído do livro O Conhecimento de Deus, de J. I. Packer, editora Mundo Cristão

domingo, julho 13, 2014

Stanley Horton (1916 -2014): Um legado de erudição e piedade

 Como noticiado pela rede social Facebook, faleceu nesta manhã o teólogo pentecostal Stanley Horton. A notícia foi dada por Faith Horton, que cuidava do pai e o auxiliava em seu ministério. Horton estava com  98 anos. Nas últimas semanas, estava sendo submetido a um tratamento contra sepse, doença grave que carrega a corrente sanguínea com diversas bactérias.

Horton foi um autor primoroso e  prolífico escritor pentecostal, tendo muito contribuído para a maturidade doutrinária do movimento pentecostal. Seus livros O que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo e O Livro de Atos causaram um grande impacto no entendimento da academia pentecostal acerca da obra do Espírito. Horton foi o editor e um dos escritores da Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal, que definiu distintamente a doutrina da Assembleia de Deus dentro do movimento pentecostal. ele também foi editor da Bíblia de Estudo Pentecostal comentada por Donald Stamps e publicada pela CPAD. Uma das obras de Horton que merece igualmente destaque é o seu magistral comentário do livro de Isaías (e particularmente a minha preferida), onde ele comentava, de maneira simples e profunda, cada versículo do livro do profeta Isaías (combinado igualmente com uma erudição singular, oriunda da tese de doutorado que ele fizera sobre o livro de Isaías).

Stanley Horton conseguia, como poucos, expor verdades bíblicas de maneira simples, mas igualmente temperadas com uma erudição evangélica firme, conservadora e ortodoxa, mantida pelo poder do Espírito. Sem dúvida, o movimento pentecostal perdeu um de seus mais brilhantes expoentes, que agora descansa no reino do Pai.

Segundo o relato de Faith Horton, sua cunhada estava lendo para o pai a passagem de Atos 3, quando Pedro foi instrumento do Senhor na cura do paralítico, após ler a passagem que dizia:

"Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram.E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus".Atos 3.6-8

Quando terminou de ler a última parte, "andando, e saltando, e louvando a Deus", Horton deu o último suspiro, e foi para os braços do Senhor. Agora, descansando, espera a Ressurreição para a vida, naquele grande dia, assim também como a sua coroa de glória.

Que Nosso SENHOR DEUS levante mais homens como Stanley Horton. Firmes, fiéis e bíblicos na seara do mestre.

Soli Deo Gloria

segunda-feira, junho 02, 2014

Aprendendo a pregar com Lutero - Um Aconselhamento aos pastores

O reformador Martinho Lutero sempre foi conhecido por sua dedicação a pregação. Neste vídeo, o pastor Luterano Matthew Harrison, do Sínodo de Missouri (órgão luterano evangélico conservador), dá um encorajamento aos pastores e sua pregação diária a partir dos sermões "Invocavit", de Lutero.  Vale a pena dar uma conferida:




Soli Deo Gloria

segunda-feira, maio 12, 2014

A Justificação pela Fé e o Mau Desempenho


“[...] Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Co 1.30, 31).

O mundo é extremamente competitivo. A busca por destaque pessoal e profissional constitui o caráter de todo aquele que pertence ao reino deste mundo. Em outras palavras, o mundo deseja a sua própria glória.

O reino de Deus é diametralmente oposto a isso, porquanto o povo de Deus anseia pela glória de seu Senhor. Ou seja, os servos de Deus reconhecem que o Senhor Deus é o único digno de ser glorificado e adorado.

Diante dessas considerações, surge a seguinte questão: “como podemos adorar ao Senhor?" Será que o cristão não testemunha da dignidade e da soberania de Deus quando ele é o melhor profissional em sua área ou o aluno nota dez? Será que não mostramos que Deus é grande quando nosso desempenho pessoal é digno de ser imitado pelas demais pessoas?

É claro que adoramos a Deus quando nos dedicamos seriamente para servi-Lo em tudo o que fazemos e, por meio disso, alcançamos bons resultados (desde que não nos gloriemos em nossos próprios feitos). Entretanto, creio que esse não é o único meio pelo qual testemunhamos da graça do Senhor. Há um caminho repleto de espinhos em que, também, podemos exaltar o Nome de Deus. Isto é, podemos adorar a Deus em meio aos nossos sofrimentos e fracassos da vida. Deixe-me explicar.

No texto bíblico acima citado, o apóstolo Paulo termina com um trecho de Jr 9.24, cuja mensagem nos leva a buscar o conhecimento de Deus, porquanto isso é a única coisa digna de valor e confiança – em contraste com a sabedoria, força e riquezas próprias, segundo ensinado no verso de Jr 9.23. O interessante em tudo isso é que os textos (Jr 9.24 e 1 Co 1.31) não nos dizem: “glorie-se no seu conhecimento do Senhor”; e sim: “glorie-se no Senhor”.

Dessa forma, compreendemos melhor que o conhecimento de Deus é concedido a nós por meio de Sua revelação nas Escrituras e, portanto, não podemos nos gloriar de algo que não conquistamos por meio de nossas obras. O conhecimento de Deus é graças a Deus, que se revela, e não a nós, que cremos, pela ação de Seu Espírito, em Sua revelação.

Além disso, “glorie-se no Senhor” possui um aspecto muito maior que o de simplesmente combater o orgulho de nosso coração quanto ao conhecimento de Deus. Tem a ver com a justificação pela fé. Pois ao invés de nos achegarmos a Deus por nossa própria conta, só é possível sermos reconciliados com o Senhor por causa de quem Cristo é e pelo que Ele fez por nós. Logo, o nosso único valor é Cristo Jesus. Não nada digno em nós mesmos. É isso que Paulo ensina em 1 Co 1.30: “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.” Pela fé em Cristo somos justificados.

É exatamente nisso que baseio minha ideia de glorificarmos a Deus em meio aos nossos sofrimentos e fracassos. Quando um ímpio fracassa, quando suas deficiências pessoais e profissionais são expostas em alguma situação, a tendência é que ele entre em desespero. A pressão sobre si, de que ele tem de ser “o melhor” é tão forte, que, infelizmente, o seu mundo desaba sobre a sua própria cabeça. Ele não possui um refúgio seguro.

Entretanto, graças a Deus, para um cristão a realidade é outra. Quando as imperfeições pessoais e profissionais de um servo de Deus são trazidas à tona, ele pode ficar triste sim, pois poderia ter buscado ser mais excelente no que faz, no entanto, ele não pode ficar desesperado. A sua vida e o seu valor não estão nessas coisas. Pela graça de Deus, a vida e o valor de um filho de Deus estão na bendita Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Ele é o nosso tesouro. Ele é a nossa dignidade. Portanto, glorificamos a Deus em meio aos nossos fracassos, quando mostramos que Cristo é mais importante que o nosso sucesso profissional. Testemunhamos da graça de Deus, quando nossa esperança não perece com a nossa reputação perante os homens.

Termino este texto com esclarecimentos de possíveis dúvidas do leitor.

Neste singelo texto não estou sugerindo complacência com a preguiça, pecado ou negligência. É claro que devemos nos esforçar para sermos padrão emocional e profissional para nossos amigos, no temor do Senhor. Entretanto, por não sermos perfeitos, provavelmente, em algum aspecto, ainda precisamos amadurecer e aprender. O que nos leva a cometer alguns erros nesse processo. Nesse contexto, não podemos perder a alegria e o valor da vida pelo fato de descobrirem que não somos tão bons quanto parecíamos. Nossa vida e alegria estão firmadas no imutável Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo.

Que Deus seja glorificado.

sexta-feira, abril 18, 2014

Na Cruz - Agonia e a Glória

Neste dia especial, que relembramos a morte do Senhor Jesus Cristo, nosso cordeio pascal na Cruz do Calvário, publico este sermão que preguei na Conferência Sola Scriptura, em Belém do Pará, outubro de 2011. Feliz Páscoa!

Texto: Mt 27: 33-50.

INTRODUÇÃO:

A crucificação de Jesus é o momento mais ímpar na história da humanidade, pois ali nós vemos a reconciliação entre Deus e o homem. Ali vemos a depravação humana e o amor de Deus. Ali vemos a agonia e a glória de nosso Senhor e Salvador Cristo Jesus. Algo evidenciado no texto da Escritura.

a) O escárnio (vrs 33-44): Ali vemos a triste cena da humilhação de nosso Senhor, onde ao invés de renderem adoração com um coração humilde, vemos a multidão escarnecedora, no qual zomba ao ver, de acordo com seus olhos, nada mais do que um grande pecador recebendo seu castigo merecido. Dentre esses destacam-se:

a.1) Os Guardas Romanos, o vigiando (guardando): não atentaram para tal evento, mas apenas observaram o Salvador crucificado. Porém tiveram, como diria Mathew Henry, a oportunidade de olhar para o salvador.

a.2) Os que passavam, meneando a cabeça: Tal ato de menear a cabeça era um ato de zombaria e desprezo pelos inimigos. (Jr 18:16). Cumprido-se assim o que profetizara Davi no Salmo 22:7.

a.3) A elite judaica: Mesmo vendo o messias, algo que Jesus tanto falou ao coração dos homens com palavras e ações, ainda assim fecharam-se para a mensagem do Evangelho.

b) A agonia(vrs:45-49) : Desamparado por Deus, Jesus experimenta o pior tipo de sofrimento que alguém pode experimentar: o inferno, a separação de Deus-Pai.

c) A glória (vitória, vrs 50-51): Jesus, ao ver que tudo tinha sido cumprido, dá um grande brado de vitória. Ele tinha acabado perfeitamente sua missão.


APLICAÇÃO:

Nunca alguém poderá medir ou entender plenamente o que Jesus Cristo fez por nós na cruz, muito poderá ser dito, mas tal assunto é inesgotável. Milhares e milhares d e livros têm sido escritos, e os filmes e a medicina nos dão detalhes do horrível sofrimento físico que Jesus teve que suportar, mas à luz do texto de Mateus, vemos que o mais importante aqui não é o sofrimento físico, mas a angústia espiritual ao citar o Salmo 22. Tal angústia é inexplicável e ao mesmo tempo mostra um vívido retrato do inferno, pois assim como naquele momento houve trevas, assim também é o inferno, um lugar de trevas exteriores, um lugar de separação de Deus, um lugar de condenação e abandono.

O que vemos ali é algo inexplicável para nós, Deus pai abandonado Deus filho, como disse Lutero: “Deus abandonando Deus. Nenhum homem pode compreender isso". Ali ele experimentou a ira viva de Deus, real e autêntica. Ali vemos não somente um homem sofredor, mas o próprio Deus sofredor. Essa é a maior expressão de amor já encontrado, nada irá superá-la. E é algo traçado desde a eternidade. O Pai amou o mundo que entregou seu Filho para ser crucificado, e o Filho, por amor de nós, foi. Ele foi esmagado por Deus pelas nossas iniquidades ( Is 53:5).
Ali vemos alguém sem poder, corado com uma coroa de espinhos, desamparado e desesperadamente perturbado, alguém contado entre os transgressores. Tudo isso foi feito por nós.

Nosso salvador, com seu sumo sacrifício, quitou nossa dívida com Deus, um sacrifício perfeito e imaculado. Por isso ele pode clamar um brado de vitória, o qual o apóstolo João relata: "Está consumado (Tetelestai)" (Jo 19:30). Muitos, ao morrerem perdem o fôlego e a vida, porém Jesus teve força para bradar: "A obra está feita"! a dívida está paga, seu sacrifico foi perfeito e suficiente para pagar os nossos pecados e assim termos nosso relacionamento restaurado com Deus. Ele Venceu (Christus Victor) a morte (Gr. thanatos), ele experimentou o inferno (Geena). Ele venceu Satanás e suas hostes (Cl 2: 14-15). Ele é o perfeito mediador entre Deus e os homens.

Ao atentarmos para o sofrimento de Cristo, encontramos a resposta para a perguntas que muitos fazem: "Deus se importa conosco?", "Deus não punirá o mal?", "Deus sabe que sofremos?". Tudo isso encontra-se resposta na cruz de Cristo. O nosso conforto e consolo está em Jesus, e sabemos disse porque Ele foi crucificado. Por que Jesus foi desamparado na cruz? Para que você, quando sofrer, não seja. Deus se importa conosco. "Em Cristo, Deus sofreu" (Oskar Skarsaune). Você foi traído? Ele também foi. Você perdeu alguém? Ele também perdeu. "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. " (Heb 4:15).

Através de Cristo, temos a reconciliação com Deus (Rm 5:8-10). Temos acesso ao Pai. Temos a salvação de nossas almas. Isso aniquila o nosso egoísmo e destrói a teologia da prosperidade, que nada mais é do que uma teologia voltada para o "Eu", na qual muitos caem. Em Cristo, temos nosso Eterno Tesouro.

Nada melhor do que as santas palavras de J. C. Ryle:

"Ele foi chicoteado? Foi, para que 'pelas suas pisaduras' fôssemos sarados. Ele foi condenado? mesmo que inocente? Foi, para que pudéssemos ser declarados inocentes, embora culpados. Ele recebeu uma coroa de espinhos? Recebeu, para que pudéssemos ganhar a coroa da glória. Ele foi despido de suas vestes? foi, para que pudéssemos ser vestidos em eterna justiça. Ele foi escarnecido e desprezado? Foi, para que fôssemos considerados e inocentes de todo o pecado. Ele foi declarado incapaz de salvar a si mesmo? Foi, para que pudesse salvar a outrem, até o pior de todos... meditemos nestas coisas".


CONCLUSÃO:



Diante de tão grande salvação, provida por nosso Salvador, não fiquemos indiferentes à mensagem do Evangelho, mas que possamos entender o máximo de detalhes que pudermos, sabendo que passaremos a eternidade a eternidade tendendo entender um pouco mais daquilo que Cristo fez por nós na Cruz do Calvário. Que tenhamos em mente o precioso sacrifício de Cristo, nos achegando à Ele com fé, tendo consciência que receberemos salvação e consolação. Nele podemos descansar a nossa alma, pois Ele é o nosso pastor, o Bom pastor.

                                                                                 

Soli Deo Gloria 

quarta-feira, janeiro 08, 2014

O Deus dos Vivos: Uma análise bíblico-teológica acerca da vida após a morte.


Para visualizar corretamente os caracteres gregos e hebraicos deste artigo, baixe as respectivas fontes aqui e aqui.



                             Imagem:  A Ressurreição de Lázaro (por James Tissot)




"hÆyüxÇyáh rebÆFg tûmÃy-£i'

"Morrendo o homem, porventura tornará a viver?" (Jó 14:14).

"Qeoj de ouk estin nekrwn( alla
zwntwn¾pantej gar autw zwsin"

"Ora, Deus não é Deus de mortos,mas de vivos.
 Todos pois, para Ele, estão vivos" (Lc 20:38).


Um dos assuntos que mais assusta a mente humana se dá no que se refere a vida após a morte.  A "clássica" e  angustiante pergunta de Jó, feita em seu leito de desespero certamente já foi compartilhada pelas mais variadas mentes no decorrer da história. Em escatologia, um dos assuntos em geral pouco abordados é acerca da doutrina  do estado intermediário, da condição dos que morreram em Cristo e dos ímpios antes da volta de Jesus.  Tal fenômeno é compreensível, pois, no dizer de Stanley Horton (Nosso Destino, p.37); "A Palavra de Deus...pouco revela acerca da vida após a morte...está mais preocupada em nós mostrar como viver de modo agradável a Deus aqui nesta terra. Deus quer que estejamos preparados para a volta de Jesus e as glórias que se seguirão". A afirmativa de Horton é totalmente bíblica. A Bíblia nos mostra que a esperança última do crente não é em estar em um bom lugar com Deus depois da morte, ainda que, segundo Paulo, seja algo extremamente prazeroso e muito melhor do que nossa condição atual nesta vida, (Fp 1:23), mas sim da ressurreição do corpo e glória eterna com Ele. De maneira sábia e conhecendo a vã curiosidade humana, o Senhor só revelou o necessário no que tange a esse período, porém, é importante ressaltar, essa revelação veio de maneira clara e inequívoca: os que morreram ainda vivem.

A resposta do Senhor Jesus, ao ser indagado pelos saduceus em Lucas 20 é clara e interessantíssima. Os saduceus, crendo que não havia ressurreição, tentam apanhar Jesus através de uma historieta e tendo como base a teologia do Pentateuco (que era os únicos livros para eles tidos como canônicos), que aparentemente não falava acerca da Ressurreição dos mortos. A resposta de Cristo é impactante: "errais por não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus" (Mt 22:29). Ao responder o enigma teológico, Jesus prova a ressurreição através das palavras de Deus, escritas por Moisés em Êxodo 3:6/15, na qual Deus afirma que era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. O Senhor na ocasião não se apresentou a Moisés como o Deus que se revelara aos patriarcas muitos anos atrás, mas como o próprio Deus destes, dando a entender que mesmo passados muitos anos depois de sua morte, Ele continuava sendo o seu Deus, e igualmente os santos estavam vivos diante dele. O foco de Cristo aqui  certamente não é o estado intermediário, mas a ressurreição futura, porém a comparação feita por nosso Senhor da vida humana com a existência de anjos, que eram espíritos imortais, claramente mostra igualmente a existência  imaterial e imortal da alma. O Deus que se revelou aos patriarcas continuava sendo o seu Deus e continuava cuidando deles, sendo que um dia providenciaria a sua ressurreição. Tal resposta, de tão bem dada, fez até mesmo os escribas (provavelmente associados aos fariseus) "vibrarem" e elogiarem a Cristo (vrs 39).

Há um detalhe importante a ressaltar: nosso Senhor mostra que já no Pentateuco a esperança da ressurreição é sugerida. Sendo assim, uma reflexão bíblica a partir dos postulados de Nosso Senhor é de suma importância para termos uma correta visão acerca da doutrina bíblica acerca da vida após a morte, assim também como a ressurreição dos mortos, e até mesmo, para confrontarmos ideias e perspectivas que em geral são aceitas no mundo teológico da atualidade acerca dessa doutrina. O ponto de partida se dá no que o Antigo Testamento diz acerca da esperança futura, depois seguiremos para as afirmativas neotestamentárias.


I) A Esperança Futura no Antigo Testamento.

É comum até hoje nos círculos teológicos liberais verem a visão do estado intermediário, mais comumente conhecido como  Hades no Novo Testamento como uma cópia judaica do Hades grego, dividido em compartimentos entre justos e ímpios.  De acordo com essa visão, o povo de Israel não tinha nenhuma perspectiva acerca da vida após a morte, sendo que o foco vétero-testamentário nada mais se resume a esta vida, sendo que ao homem nada mais restava a não ser descer ao Sheol (hb. mundo dos mortos, sepultura, ou sepulcro). Outros dentro dos círculo liberais creem que o povo de Israel tinha um vago entendimento acerca de uma vida após a morte, sendo que ao morrer, tanto ímpios quanto justos iriam para o (sheol), um lugar sombrio, de quase não-existência, onde os seres humanos não passavam de "fantasmas" ou "espíritos" (hb.  £yi'Apèr - rephaim, cf. Is 14:9, 26:14). Tais visões certamente não fazem jus a visão do Antigo Testamento acerca da esperança futura¹, sendo confrontadas por teólogos conservadores das mais variadas perspectivas confessionais, como veremos a seguir. Dentre as mais variadas respostas ao desafio da teologia histórico-crítica, vejamos algumas a seguir:

Um dos que discordam claramente da perspectiva apresentada pela teologia histórico-crítica é Stanley Horton. Acerca da proposição que os israelitas não tinham nenhuma perspectiva quanto a vida após a morte, Horton afirma que "seria muito estranho e inteiramente contrário a cultura que os cercava. Os egípcios grandes preparações para o que acreditavam que aconteceria na vida após a morte. Também acreditavam num além túmulo". Outro elemento importante é que a perspectiva que não possui um significado da vida após a morte é totalmente estranha a própria característica antropológica do homem, em especial das culturas antigas da humanidade. Todas as religiões antigas possuíam alguma noção ou reflexão sobre uma vida após a morte, como pontua Charles Hodge: "É a crença comum da humanidade, tal como está revelada na Bíblia, e é parte constitutiva da fé da igreja universal, que a alma pode existir e existe, e que age após a morte"². Salomão mesmo afirmou que Deus colocou a eternidade no coração do homem (Ec 3:11), fomos criados para termos um eterno relacionamento com Deus, sendo que a morte é vista com uma interrupção disso é propriamente um inimigo a ser derrotado (1 Co 15: 26). À luz de tudo isso, há realmente indícios no Antigo Testamento de uma esperança após a morte? É necessário atentarmos para algumas palavras-chave e o contexto onde estão inseridas.

a) Nephesh (Alma, vida). É comum pensar no âmbito teológico que a  "alma" nada mais é do que a o ser humano como ser vivo, sem todavia, denotar uma essência imaterial, segundo Hans Walter Wolff , em sua obra clássica Antropologia do Antigo Testamento: "Nepesh deve ser vista... aqui como a figura total do ser humano e especialmente com sua respiração"³. É certo que não devemos possuir uma visão grega(mais propriamente platônica), no qual o corpo e  a alma são extremamente distintos, sendo o primeiro nada mais é do que uma prisão da alma. A Bíblia vê o homem como uma unidade, sendo que a estrutura do homem está completa se possuir um corpo. Paulo afirma que sem o corpo estamos com oque nus (2 Co 5:1-4), ou seja, não estamos completos. Todavia, é comum estudiosos afirmarem que nephesh é utilizada tanto para descrever a vida dos homens quanto dos animais e por isso não aponta, ainda que veladamente, a uma dimensão imaterial do homem, afirmação esta que simplesmente não é sustentável de maneira nenhuma à luz dos textos bíblicos. O nefesh humano, ao contrário dos animais, fora soprado diretamente por Deus (Gn 2:27), seno que ao contrário dos animais, a nephesh humana é a imagem e semelhança de Deus (Gn 1:27, o que também inclui o coro físico . Ainda que simbolicamente associado com o ato de respirar (evidenciando assim, sua existência), há algo muito além de um simples existir animal no termo Nephesh. Gênesis 35:18 diz acerca da morte de Raquel que: "saindo-se-lhe a alma[nephesh], porque morreu", ao contrário de Walter Wolff (Antropologia, p. 38), não pode se presumir aqui que simplesmente Raquel parou de respirar; a descrição é de sua nephesh "saindo-lhe do corpo", sendo que a nephesh igualmente pode voltar ao corpo de acordo com o propósito de Deus, como visto na oração de Elias para que a alma (nepesh) volte ao corpo do menino morto (1 Rs17:21). Salomão em Eclesiastes também  acerca do  "espírito[ruah] volte a Deus que o deu" (Ec 12:7). Se assumirmos que nephesh unicamente trata de uma vida existencial e associada a respiração, sendo assim igualmente o caso deu seu paralelo xûr (ruah), não haveria motivo para ler "Ruah  Elohim" (Espírito de Deus) em Gênesis 1  como algo maior do que um "sopro" de Deus (Em Hebraico, ruah pode significar tanto "espírito" quanto "sopro", é óbvio que a Bíblia trata claramente  "Ruah Elohim" como inteligente, poderoso e pessoal). 
        O próprio Senhor Jesus demonstra a imortalidade da alma em Mateus 10:28. Jesus afirma: "não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma (gr.  psichê, o equivalente grego de "nepesh), temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo". Segundo o teólogo batista Wayne Grudem (Teologia Sistemática, p. 390): "Aqui a palavra alma claramente se refere à parte da pessoa que persiste após a morte. Não pode significar 'pessoa' ou 'vida', pois não faria sentido falar daqueles que 'matam o corpo e não podem matar a pessoa', ou que 'matam o corpo e não podem matar a vida', a menos que haja algum aspecto da pessoa que continue vivo depois da morte do corpo". Na cruz, Jesus  entregou o espírito (pneuma) ao Pai, sendo que logo a seguir, expirou (Mc 15:37 - Mateus afirma que ele rendeu o espírito, cf. Mt 27:50), Isaías, ao falar acerca de Cristo séculos antes, afirmara que ele "derramaria sua alma[nepesh] na morte" (Is 53:12). Geisler (Teologia Sistemática, Vol. 2, p.54) é enfático: "Como já demonstrado, alma e corpo são uma unidade, e não uma identidade. Se elas fossem idênticas, então,obviamente uma não poderia viver sem a outra... por força de analogia, a alma está para o corpo como o pensamento (na mente) está para a folha de papel, o conceito permanece quando o material perece" e acrescenta: "A Bíblia nos informa que a alma, de fato, sobrevive à morte do corpo, e ela aguarda a ressurreição do corpo...mas a sobrevivência de uma alma sem um corpo não é impossível, nem contraditória"[4].  Por isso, a afirmação de George Ladd (Teologia do Novo Testamento, p. 627) de que na visão hebraica "nem nephesh nem ruah são tidos como uma parte do homem capaz de sobreviver à morte de basar [carne]" deve ser firmemente rejeitada[5]. Ainda que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento vejam o homem como um unidade, fica-se claro que há uma distinção ou aspecto importante na constituição essencial do ser humano na antropologia bíblica.

b) Sheol (Mundo dos mortos, sepultura): A Afirmação de Ladd (Ibid, p.259) que "de acordo com o Antigo Testamento, o Seol não é um lugar de punição. O destino dos ímpios e dos justos é o mesmo." é firmemente confrontada por Horton (op. cit, p. 45): "Algumas passagens indicam claramente o Sheol é um lugar de punição para os ímpios (Sl 9:17; cf.  Nm 16:33, Jó 26:6; Sl 17:18/49:13-15..)", Berkhof (Teologia Sistemática,p. 630) tem opinião semelhante: " Se, conforme a exposição bíblica, o sheol-hades é um lugar neutro, sem distinções morais, sem bem-aventurança por um lado, mas também sem sofrimento positivo por outro, lugar de qual todos descem igualmente, como pode o Antigo Testamento falar da descida dos ímpios ao sheol em termos de advertência, como o faz em diversas passagens, como Jó 21:13; Sl 9:17; Pv 5:5, 7:27; 9.18;5:24;23:4? Como pode a Bíblia falar da ira de Deus ardendo ali, Dt 32:22, e empregar o termo sheol como sinônimo de Abadon, isto é, destruição, Jó 26:6; Pv 15:11; 27:10?".
       
N. T. Wright, em sua famosa obra A Ressurreição do Filho de Deus, ainda que apresente uma visão um tanto quanto diferente da apresentada por Horton e Berkhof, define: "Sheol, abaddon, cova, sepultura. A escuridão, regiões profundas, terra do esquecimento. Estas expressões quase intercambiáveis denotam um lugar de trevas e desespero; um lugar onde não é mais possível desfrutar a vida, e onde a presença do próprio YHWH não é mais desfrutada...Como em Homero, não existe a sugestão que estejam se deleitando; trata-se de um mundo lúgubre e tenebroso...se há níveis diferentes do sheol, eles são de miséria e degradação"[6]. Não há como concordar que era isso que os santos do Antigo Testamento tinham como perspectiva após a morte. Mesmo Ladd, de maneira inconsistente e contraditória, afirma que " existem poucas, mas contundentes declarações no Antigo testamento, no sentido de que a morte não será capaz de destruir a comunhão que o povo de Deus desfruta com ele" e também que "Os salmistas não podem conceber que a comunhão com com Deus possa alguma vez ser rompida, nem mesmo pela morte"(op. cit., p. 259), a bem da verdade, os salmistas, a meu ver, nada mais demonstram vida normal e devocional do crente vétero-testamentário.  Os salmos 49 e 73, por exemplo, demonstram claramente e firmemente o contraste entre crente e o ímpio e o destino dos dois de maneira singular. No primeiro, o salmista faz um alerta para que o crente não inveje a prosperidade daqueles que desfrutam glória e honra nesta vida, pois mesmo os ricos hão de ver a corrupção (vrs 9-12), sendo que tais honras, após a morte, não possuem valor (vrs16-17). Porém acerca do seu destino, o salmista possui um pensamento totalmente diferente:

"Mas Deus remirá a minha alma do poder do "sheol", pois me receberá" (vrs 15).

Aqui não há simplesmente um livramento ocasional da sepultura,  mas sim um total contraste com aqueles que vivem para as coisas terrenas e que perecerão: Mesmo morto, Deus cuidará do salmista e o receberá. Como o receberá? A resposta implícita é: para Si mesmo. Aqui há tanto a certeza do cuidado de Deus pelo crente mesmo após a morte quanto da remissão de Deus do poder da morte e da condenação, o que aponta, claramente, para algo ainda maior: o resgate da própria morte.

O caso de Asafe ainda é mais pungente. Após passar um período de perplexidade acerca da prosperidade dos ímpios, que não possuíam apertos em sua morte (Sl 73:3-4), mesmo eles sendo rebeldes e odiadores de Deus (vrs 5-12), porém ao entrar no templo de Deus e contemplar a sua glória e entender a futilidade e o final da vida ímpia (vrs 17), estes cairão e serão destruídos, porém o salmista, arrependido, sabe que está sempre diante da presença de Deus. Asafe então proclama uma das mais firmes e belas confissões de fé:

"Todavia, estou de contínuo contigo; tu me seguraste pela mão direita, Guiar-me-ás pelo teu conselho, depois, me receberás em glória.A quem eu tenho no céu senão a ti? e na terra não quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem mas Deus é a fortaleza do meu coração e a minha porção para sempre" (Sl 73:24-26).

Não há dúvida que os textos acima expressam firmemente a garantia do cuidado e da direção de Deus nesta vida, para depois, sermos recebidos em glória. Para um legítimo crente do Antigo Testamento, de maneira nenhuma a morte o poderia separar da presença de Deus.

Vejamos, todavia, os argumentos apresentados para provar o contrário dessas asserções:

-  A expressão Sheol, nada mais é do que um sinônimo para selputura (hb. qever).

Este argumento, expresso repetidas vezes por teólogos liberais e até mesmo por alguns conservadores, não encontra respaldo nos textos citados anteriormente. Acerca dessa afirmação, Horton escreve: "quando a Bíblia fala de sepultura, de uma maneira inconfundível como quando os israelitas perguntaram a Moisés:'Não havia sepulcros no Egito, para nos tirardes de lá, para que morramos neste deserto? (Ex 14:11) geralmente é usada outra palavra hebraica: qever". É bem verdade que em determinados textos, sheol e qever são tratados como sinônimos, porém têm-se a existir neste caso mais uma associação de idéias do que um significado exato[7].

- Em geral, os crentes do Antigo Testamento, como Jó, Jacó, Salomão e Ezequias (Jó 7:7-10, Gn   37:35, Ec 3:19-21, Is 38:17-18).  demonstram ceticismo e descrença quanto a uma realidade futura.

Essa declaração teológica, repetida ad infinitum pelos teólogos liberais e conservadores que adotam a hermenêutica histórico-crítica, ignora um detalhe contextual básico e importante: todas as falas foram proferidas por crentes em forte desespero e  sentimento de desilusão. A experiência de Jó revela  o retrato de um homem confuso, depressivo e angustiado,que pensa estar sendo alvo do castigo de Deus (Jó 7:20), um homem que varia entre  firmes expressões de fé a gritos de dúvida e até mesmo arrogância diante do Todo-poderoso, tal elemento perpetua todo o livro de Jó. Em um determinado momento, Jó declara que do que um homem é impossível um homem justificar a si mesmo diante de Deus, pois sabe que não têm como responder diante d'Ele (Jó 9:1-4), porém, apenas alguns minutos depois, clama em amargura para que Deus o faça saber porque está contendendo contra Ele, pois não acha justo o que está passando (Jó 10:1-22)! Tais questionamentos perpassam todo livro até chegar ao clímax com a soberana resposta de Deus nos capítulo 39 a 42. É interessante notar que o problema de Jó não está na morte em si, mas sim em morrer diante da ira de Deus. Ele não consegue ver onde tenha cometido pecado e por isso, quer se encontrar diante de Deus antes que vá para o lugar de "sombra e morte" e "trevas" (Jó 10-22). Por isso, a afirmação de N. T. Wright (Ressurreição, p.158-159), que as ideias expressas por Jó no capítulo 7 sejam características do pensamento comum da época vétero-testamentária não é plausível e não consegue esquivar-se de certos questionamentos. Ainda mais com a declaração de Jó em 19:25-27, que expressa uma firme convicção:

"Porque eu sei que o meu redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra, e  depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus, vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão, e por isso, o meu coração se consome dentro de mim".


Ainda que Wright afirme  "quase com certeza" (ibid, p. 159) que o texto citado não está tratando aqui de uma expressão em uma esperança futura, ele não apresenta nenhum argumento conclusivo, apenas aponta possíveis "problemas de tradução", "o que fora dito nos textos anteriores" e "obscuridade no texto", sendo que sua assertiva já fora questionada e rebatida por outros estudiosos, como Gleason Archer, Norman Geisler e Francis I. Andersen . [8]. O hebraico no  27 é enfático, Jó fala acerca de si mesmo, sendo que tem firme esperança de sua vindicação, e mesmo consumida a sua pele, ainda em minha carne ele verá a Deus. isso será possível pelo seu Redentor, o Go'el que se levantará sobre a terra[9].

O caso de Salomão em Eclesiastes é semelhante ao de Jó. É extremamente perigoso utilizar as declarações de Eclesiastes (como as que aparecem em Ec 3:19-21) para definir a visão israelita padrão acerca da vida após a morte. A bem da verdade, os primeiros capítulos de Eclesiastes não podem serem tomados como padrão do crente no Antigo Testamento pois descrevem a vida  partir de um ponto de vista de alguém desiludido, que encara todas coisas da vida como vapor e sem sentido. Salomão, aqui, claramente descreve seu pensamento na época de sua apostasia e longe de Deus. É interessante notar que o próprio livro ainda afirma que o espírito do homem voltará a Deus, que o deu. No final, o próprio Salomão admite a vida  na verdade é  um dom de Deus, que jugará todas as obras feitas, quer sejam boas, quer sejam más.

O caso de Jacó e Ezequias não demonstra uma falta de esperança na vida futura. Wright (op. cit, p. 149 ) afirma: "Quando Jacó declara  que perder um filho 'faria descer suas cãs com tristeza ao Sheol', ele não estava dizendo que tal tragédia o levaria para o sheol ou a outro lugar, mas que sua passagem seria acompanhada de tristeza e não de satisfação por uma vida longa e valiosa". Para Horton (op. cit, p. 47): "Jacó, naquela ocasião, recusara a ser confortado, sem dúvida pensando que ele e José estivessem de algum modo sob o julgamento de Deus. Não há registro que Jacó tenha buscado ao Senhor novamente, a não ser depois de ter recebido a notícia que José estava vivo (Gn 45:28-46:1). Portanto, é provável que Jacó tenha considerado sheol como um lugar de punição". No que se refere a Ezequias, o texto indica  que Ezequias fizera uma oração de arrependimento devido ao seu pecado, ainda que interpretemos sheol como sepultura, Ezequias não está dizendo que todos os homens irão ao mesmo lugar, mas sim, que este, caso perecesse, não poderia louvar a Deus na terra dos vivos.

O salmo 115  resume bem do sentimento israelita acerca do futuro.  Às vezes até mesmo citado como um salmo que fala de uma vida sem esperança devido a afirmação do versículo 17,  porém quando lemos atentamente, vemos grande esperança:

"Os mortos  não louvam ao senhor, nem aos que descem ao silêncio, mas nós bendiremos ao SENHOR, desde agora e para sempre. Louvai ao Senhor!".

Aqui, claramente se manifesta a confiança de uma vida futura na presença de Deus. Algo que Oseias, Isaías e Daniel, deixarão clara e limpidamente expressa[10].

Uma palavra definitiva acerca do "sheol-hades" vem do próprio Senhor Jesus. Em Lucas 16,  fala acerca do Rico e Lázaro, Jesus claramente mostra que o rico, no Hades-sheol), estava "em tormentos" ( vrs 23), enquanto que Lázaro, estava no seio de Abraão (ou seja, na presença de Deus). Aqui, claramente se vê o sheol como um lugar de tormento e tristeza, enquanto que para o justo, o conforto da Santa presença de Deus.

II). A Esperança Manifesta no Novo Testamento.

No que tange ao ensino neotestamentário, Tanto o Senhor Jesus quanto os apóstolos foram claros acerca do cuidado de Deus pelos seus santos após a morte. Ao ladrão da cruz, nosso Senhor expressamente afirmou que este estaria com ele "no paraíso". O apóstolo Paulo sabia que, ao deixar este corpo, ele iria diretamente para a presença de Cristo no céu (Fp 1: 23). Porém a esperança do após a morte para nosso Senhor e para s apóstolos não se resume a uma vida além-túmulo. Mas sim na ressurreição dos mortos. Como dito anteriormente, a morte é um inimigo a ser destruído. Com sua morte, Cristo venceu a própria morte e quebrou seu império, e consequentemente, desfez a maldição da serpente (o Diabo). O escritor de Hebreus afirma:

"E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que, pela morte, aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrasse toso os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão" (Hb 2:14-15).

Cristo é primícias da ressurreição (1 Co 15:20), e assim como ele ressuscitou, assim também nós ressuscitaremos em glória eterna. A morte será o último inimigo a ser destruído (1 Co 15: 26) e já não mais existirá (Ap. 21:4). Essa é a firme e esperança do crente.


Conclusão.

A pergunta feita por Jó, então, tem uma reposta? Nosso franco e definitivo parecer é um grande SIM. Por certo Jó, quando morreu, velho e farto de dias, já estava firme e convicto disso. A vinda do Filho de Deus, o Senhor Jesus, com sua morte, nos trouxe o perdão dos pecados e a garantia da presença de Deus a todo aquele que crê N'ele (Jo 3:36), além disso, com sua ressurreição, nosso Senhor garantiu a vitória sobre o mundo, a carne e o diabo e nos fez, portanto, mais do que vencedores.  Com ele, certamente temos mais do que  a felicidade no paraíso. Sabemos que, para desfrutarmos plenamente nossa vida com Deus, ressuscitaremos em glória. Para o que nele crê, não se está reservado (como aos ímpios) uma região de trevas e sem luz, seguida, depois, do agonizante lago de fogo, mas sim as perpétuas delícias Nele. Em Cristo, a pergunta de Jó é plenamente respondida:

"Egw eimi h ` anastasij kai h ` zwh) ~O pisteuwn eij eme( kan apoqanh( zhsetai)  Kai paj o ` zwn kai pisteuwn eij eme ou mh apoqanh eij ton aiwna) Pisteueij touto?"

"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. Quem vive e crê em mim nunca morrerá para sempre, crês tu isto?" (Jo 11:26-27 )

E também:

Não temas; Eu Sou o Alfa e o ômega e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre, Amém! e tenho as chaves da morte e do inferno (Hades)" (Apocalipse1:18).

Por isso, podemos fazer coro com o apóstolo Paulo e dizer: "onde está, ó morte, o teu aguilhão, onde está, ó inferno, a tua vitória?" (1 Co 15: 55). E também dizer: " Amém, ora vem Senhor Jesus!" (Ap 22:20).


Soli Deo Gloria


Notas:

1. O livro de Stanley Horton, Nosso Destino (republicado pela CPAD com o título O Ensino Bíblico das últimas coisas) fornece dentro de um ponto de vista conservador e erudito , porém simples e abrangente, respostas as indagações modernas acerca deste assunto. Horton também trata desse assunto em sua Teologia Sistemática, uma perspectiva pentecostal.
2. HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 516.
3. WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008. p. 34.
4. Geisler define a visão bíblica do homem e a questão entre a relação corpo/alma como Hilomorfismo, que forma uma unidade da pessoa humana. Tal termo provém de Tomás de Aquino (1225-1274).
5. Surpreendentemente, o próprio Ladd, no capítulo que trata  da "Escatologia Individual"(p. 258-259)  dentro da seção acerca dos evangelho sinóticos contradiz sua declaração registrada aqui. Ao que parece, o livro de Ladd sofre do problema de uma teologia bíblica que tem o método histórico-crítico de pesquisa: não se consegue chegar a uma unidade e uma sintetização entre os textos bíblicos, na ênfase de, a todo custo, ressaltar sua diversidade. O resultado por fim, é um retrato aparentemente contraditório nos textos bíblicos (obs: as edições mais recentes do livro de Ladd tentam contornar esse problema com capítulo adicionais de R. T. France e David Wenham). Ladd expressou mais claramente sua visão sintetiza acerca da antropologia bíblica no capítulo "The Greek versus the Hebrew view of Man"[A visão grega versus a visão hebraica do homem] em seu livro The Pattern of New Testament Truth  [O Padrão da Verdade Neostamentária]. Disponível em:www.presenttruthmag.com/archive/XXIX/29-2.htm
>; Último acesso em: 08/01/2013.
6. WRIGHT, N. T. A Ressurreição do Filho de Deus. São Paulo: Paulus, 2013. p.148
7. Ao fazer uma análise de Isaías 14:9-11, Wright nota uma "fluidez de pensamento entre o Sheol, como morada mítica das sombras, por um lado, e a realidade física da sepultura- pedras, vermes e larvas - por outro" (Ressurreição, p 149).
8. No entendimento de Wright, os únicos textos mais claros no Antigo Israel que tratam de um esperança futura são os Salmos 49 e 73(ele passa por alto em outros salmos e textos bíblicos que indicam essa mesma esperança, como Gn 22:2-5, Sl 17:15, o "clássico" Salmo 23 e o Salmo 115), sendo que a regra em geral é a expectativa de um caminho sem volta ao sheol, como demonstrado nos livros de Jó e Eclesiastes. Na passagem de Jó citada por ele,  a grande questão envolve a tradução exata de Jó 19:26: "E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne, verei a Deus". A expressão em minha carne, envolvendo a palavra hebraica "min", expressão que possui uma variedade gama de possíveis traduções. Sendo que, dentro do contexto do capítulo é também possível traduzir a expressão como "fora de", o que resultaria na tradução "ainda sem a minha carne". Holladay (Léxico Hebraico Aramaico, p. 283) oferece mais de cinco outras possibilidades. Todavia, Archer (Panorama do Antigo Testamento, p.583) afirma: "é razoável afirmar que, em conexão com o verbo ver (hazâ), min, segundo seu emprego em outros trechos, quase sempre descreve a perspectiva  daquele que vê". Geisler (op. cit, p.698) é de igual opinião: "Embora a palavra min frequentemente signifique 'sem', é usada com o sentido de 'dentro' em Jó 36:25. Além disso, quando usado em conexão com o verbo 'ver' (haza), min assume o significado  de "dentro de", ou "do ponto de", que novamente, implica dentro do corpo ressurreto".  A defesa da tradução tradicional se encontra ainda mais bem defendida no comentário de Francis I. Andersen (Jó - Introdução e comentário, p. 192): "As referência à pele, ao corpo e aos olhos tornam claro que Jó espera ter esta experiência como homem, e não num estado de espírito desencarnado, ou na visão de sua mente". Anderson nota o fato que mesmo antes de Jó fazer o questionamento citado na introdução (Jó 14: 14) , há uma firme expectativa que Deus poderia resgatá-lo do Sheol (no caso aqui, da própria sepultura - cf. Jó 14:13). Andersen mostra que a relutância dos eruditos em não aceitarem esse ponto de vista se dá por pensarem que a ideia de ressurreição futura se encontra muito tempo depois do livro de Jó ter sido escrito.
9. Geisler (ibid, p.698) ainda faz menção a Jó 42:13, onde mostra que o número de filhos do patriarca não foi duplicada depois de seu sofrimento, o que indica que Jó jamais perdeu seus outros filhos, que seriam reunidos na ressurreição.
10. O leitor há de notar que não faço menção as claras profecias de Isaías, Ezequiel e Daniel acerca da ressurreição futura, isso(como falado por Andersen) se dá pelo fato de se discutir acerca da fé no Antigo Israel, sendo que, para a maioria dos teólogos históricos a esperança da ressurreição nação judaica foi feita após livros como Jó e Eclesiastes terem sido escritos. Dependo da opinião do estudioso, pode-se afirmar que só surgira realmente no período próximo ao do Exílio babilônico (afirmação essa que entra em direto choque com Hebreus 11:10,19).


REFERÊNCIAS:

ANDERSEN, Francis I. - Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1984.
ARCHER, Gleason. Panorama do Antigo Testamento. 4° ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática.4 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.
GEISLER, Norman. Teologia Sistemática - Volume 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999.
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.
HOLLADAY, William L. Léxico Hebraico-Aramaico do Antigo Testamento.São Paulo: Vida Nova, 2010.
HORTON, Stanley. O Ensino Bíblico das Últimas Coisas.4° ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
LADD, George. Teologia do Novo Testamento.São Paulo: Hagnos, 2003.
____________. The Greek versus the Hebrew View of Man. Disponível em: <http//www.presenttruthmag.com/archive/XXIX/29-2.htm>.  Último acesso em: 08/01/2013.
WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008.
WRIGHT, N. T. A Ressurreição do Filho de Deus. São Paulo: Paulus, 2013.