Lá estava eu, lutando para chegar antes da chuva no templo-central da Assembléia de Deus em Belém, pois ali haveria a segunda edição de um famoso congresso de adolescentes promovido pela missão regional que trabalha com adolescentes na cidade, com sede no templo central, a MCAD. Durante certo tempo trabalhei como supervisor geral e articulista do jornal da missão, que depois foi acoplado ao projeto de mídia integrada, que infelizmente ainda não andou como deveria. Porém, devido a certos processos que não convém explicar (pelo menos não agora), fui transferido para a Missão Jovem, onde fiquei sem “por a mão no arado” por vários meses (que para mim pareceu um longo tempo), porém um companheiro que tinha trabalhado comigo pediu-me certo auxilio para o congresso, pois ele se tornara líder e precisava de certa ajuda na área de mídia, que eu fazia parte tempo atrás, aceitei com certo receio, porém depois fui sem pestanejar.
Apesar de eu saber o que me esperava, busquei fazer com carinho e com certas técnicas de filmagem que aprendi na faculdade, além do que decidir fazer, como jornalista, a cobertura desse evento.
Vi coisas muito boas neste congresso, como por exemplo, a determinação das equipes de líderes e liderados. A vontade de Salvação pelas almas perdidas, a boa-vontade em fazer a obra de Deus, o sacrifício prestado e ouros pontos de comunhão feitos neste congresso merecem meu apoio e admiração pela causa de Deus.
Porém uma verdade não esconde outra verdade.
Entre uma pausa entre uma filmagem e outra, falei com Carlos Eduardo, que estava envolvido no evento:
- E aí, tudo certo?
- Ta difícil - respondeu Carlos, com um ar que misturava cansaço e preocupação.
- Qual é o problema?
- Os adolescentes estão fazendo um inferno no elevador.
Lá estava eu e Cadu correndo atrás de algumas “crianças peraltas” que brincavam entre os elevadores do templo, e depois caçamos certos casais em busca de beijos, abraços, e quem sabe, uma aula de anatomia.
Nesse evento havia de tudo, desde danças coreográficas a Música Rock “Cristã”.
Ah. Mas também houve o momento do “louvorzão” durante as noites onde havia o “culto” a Cristo. Para falar a verdade, não houve nada de mais, apenas adolescentes se atirando perto do púlpito na hora das canções “animadas” e “bem adolescentes” e gritando e tendo momentos de certa histeria emocional (é bem provável que me chamem de frio e coração duro depois dessas afirmações), onde, na terceira noite do evento, uma menina pequena estava tropeçou, já estava sendo chutada e prestes a ser pisoteada por adolescentes “cheios do fogo” (provavelmente o mesmo fogo estranho ofertado pelos filhos de Arão). Houve também alguém totalmente coberto de branco tocando um Shofar para atrair a presença do Senhor, isso na primeiro dia de abertura. Ah, também teve adolescentes dançando em pé nos bancos da igreja, Unção do riso e intensa gritaria(já no terceiro e último dia), Regaae que lembrava o som de Bob Marley (apesar de ele ser mestre neste tipo de música). Sim, também houve certo choro e sim, creio eu que houve uma determinada conversão legítima por parte de determinadas pessoas, um choro sincero. Porém isso não anula, nem justifica a triste perda de identidade que nossa igreja está sofrendo cada vez mais. Estamos vendo uma guerra de opostos brutais: de um lado, temos a turma do “reteté”, de onde sai muito farisaísmo, misticismo, modismos e uma cultura subpentecostal, onde o que reina são absurdos doutrinários e teológicos. Do outro lado da trincheira, temos uma geração traumatizada com os “mestres do passado” tiranos e cruéis, que, na visão deles, proibiam a tudo e a todos, por isso é necessário termos “estratégias de Deus” para alcançar uma faixa adolescente.
Lembro-me de John Macarthur Junior, quando ele dá um golpe certeiro em um de seus livros, a frase é mais ou menos assim: “utilizar traumas do passado para solucionar questões do presente não muda a situação”. O que Macarthur falou é uma verdade. O fato de nossos pais terem sido proibitivos demais não justifica o fato de passarmos por cima de tudo de bom que eles nos ensinaram pela Palavra de Deus. Hoje, a juventude assembleiana está cada vez mais tendo vínculos com outras denominações, em especial as neopentecostais, absorvendo praticamente todo o tipo de doutrina, onde a Confissão Positiva é a dominante. Também temos as doutrinas como as promovidas pelo movimento de Toronto, que enfatiza unção do riso (uma prática totalmente alheia ao ensino bíblico), o “cair no Espírito”, onde afirma que uma pessoa, tomada pelo poder de Deus, pode cair e ficar inconsciente, algo totalmente alheio às manifestações do Espírito mostradas em 1 Coríntios.
Hoje vemos uma geração cada vez mais sendo tomada pelas emoções e esquecendo que o culto a Deus, apesar de envolver grandemente nossos sentimentos, é racional ( Rm 12:1), e que adoração, é essencialmente muito mais obediência do que gratidão e oferta, e envolve observância dos preceitos de Deus, ou seja, adoração é estabelecida pelo próprio Deus e é revelada nas páginas das Sagradas Escrituras, segue-se que imaginações, doutrinas e preceitos de homens são duramente refutados( Dt 12:32, se possível leia todo o capítulo, e também Colosssenses 2:18-23).
Talvez o momento mais triste para mim foi no momento onde buscava-se sugestões por parte de adolescentes sobre o futuro programa que estreará na Rede Boas Novas, chamado “Hiper Ativo”. Em todas as sugestões dadas, eram aplausos e assobios: “ Eu gostaria que tivesse muitos filmes”, “VIIVVIIIVVVAAA!!!!”, “eu gostaria que tivessem muitas entrevistas com cantores famosos” “AAAHHHHEEEHHHH”, “eu gostaria que se falasse sobre profissões” “EEEEHHHHHEEHH”. Até que uma voz destoou do som uníssono: “bem, eu gostaria que houvesse... PALAVRA DE DEUS, ONDE ENSINARIAM OS ADOLESCENTES A VIVER...”, “.........eh.....”.
Para mim, foi o momento mais triste e lamentável do congresso.
Citando Roger Olson, se alguém tiver Deus, mas não tiver sua Palavra, não tem Deus nenhum, se alguém buscar a Deus fora de Sua Palavra e acima de tudo a Jesus Cristo vai encontrar o diabo e não Deus. Sim, haverá tempo em que muitos buscarão ouvir a Palavra de Deus com fome dela, mas onde ela estará? Por acaso ela não dura eternamente? Sim certamente, porém muitos a buscarão e não a acharão. Ela desaparecerá de muitos de nossos púlpitos e de nossas salas. Todavia, não podemos culpar a Deus pela nossa própria negligência, ainda há muito a ser feito, e por mais que ela desapareça de nossos púlpitos, ela ainda aparecerá!!! Jesus está voltando, por isso, trabalhemos mais e mais e não sejamos como os tessalonicensses.
É bastante triste para mim escrever essas palavras, afinal muitos ali presentes são conhecidos e amigos em que eu estimo bem. Mas a verdade não pode ser negligenciada, e infelizmente(ou felzimente) por mais duro que seja é necessário falar tais coisas. Há muito que s e pode fazer por um congresso, sem necessariamente transgredir a Palavra de Deus e não cair no emocionalismo barato.
Soube por meio do rádio, antes de terminar este artigo, em um programa de que não me lembro o nome, sobre uma adolescente que participou do congresso e quer mudar de denominação. Outra adolescente ligou para a rádio afirmando que o congresso era uma benção e por isso talvez tenha sido algo que ela tenha visto.
É...talvez...tenha sido o mundo que ela viu.
Alguém poderá objetar: “Mas Victor... tu queres tirar as músicas, as barulheiras, o Shofar, os ritmos alucinantes, as unções, o que vais querer dar para eles, para suprir a vida espiritual de jovem povo?”
Bem eu responderia: “a única coisa que e realmente me preencheu verdadeiramente, está acima de qualquer ritmo, música, ou modismo do povo, que seria...”.
“CRISTO”
Soli Deo Gloria