sábado, abril 28, 2012

Pérgamo: A Igreja casada com o mundo (subsídio para Lição Bíblica)

       Ruínas de Pérgamo

Ainda a que Pérgamo não possuísse a popularidade de Éfeso ou o centro comercial de Esmirna, não resta dúvidas de sua importância dentro do contexto do império romano. Era em Pérgamo que se situava a segunda maior biblioteca do império, que só perdia em termos de opulência e número de rolos para Alexandria (O pergaminho, famoso tipo de rolo, originou-se dessa cidade).  Era em Pérgamo que estava situado um grande templo dedicado a Zeus e os mais variados deuses, sendo que esta cidade era o maior centro religioso e de culto ao imperador romano da região da Ásia. Não é à toa que Jesus se dirige à igreja com estas Palavras:

Eu sei as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás..”

Não era tarefa simples conviver em uma cidade de tão alta idolatria. Todavia, ainda que envolta em difícil luta contra as trevas, Pérgamo mantinha firme a sua confissão de fé cristã, sendo que um dos maiores exemplos havia sido testemunhado por um crente fiel.

“...e reténs o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita”.

É possível que Antipas fosse o pastor anterior daquela igreja. A tradição da igreja afirma que ele fora morto queimado dentro de um touro de metal. Desde cedo, Pérgamo demonstrava seu compromisso com a Verdade e doutrina. Todavia, tal compromisso necessitava urgentemente ser refletido de forma mais cristalina em todas as áreas daquela comunidade cristã.

Mas umas poucas coisas tenho contra ti...

Por vezes os crentes, quando desfrutam de saudável comunhão com cristo, são tentados a relaxarem e não atentarem para pequenos problemas, mas que ainda assim necessitam serem corrigidos. Por vezes assistimos passivamente ovelhas problemáticas dentro de nossas congregações serem arrastados pelas amizades do mundo, ou então aqueles que se demonstram claramente ímpios e dispostos a corromper qualquer pessoa despercebida dentro da igreja, serem tolerados e até mesmo ignorados como problemas ínfimos. È a esses problemas que nosso Senhor se refere. O fato de serem poucas as queixas de Jesus não anula de forma alguma a responsabilidade da comunidade como assembléia dos santos. Por mais poucas que sejam as queixas de Jesus contra nós, de forma alguma devemos ficar menos preocupados ou dar pouca importância.

“porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel para que comessem o doas sacrifícios da idolatria e se prostituíssem. Assim, tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio”.

Pérgamo, mesmo retendo sua confissão, não poderia receber o mesmo elogio dado a Éfeso, sendo que seu problema não era sua devoção e busca sincera, mas excessiva tolerância para com os seguidores da “doutrina de Balaão” e os nicolaítas. Estes primeiros possivelmente seriam aqueles que, a semelhança de Balaão no antigo testamento, seriam aqueles que todas as formas e artimanhas, levassem os crentes a participarem da cultura pagã daquela região ( provavelmente as festas e bacanais, de onde surgiam as mais variadas abominações e perversões sexuais). E assim como
Corinto, a atitude de Pérgamo era de tolerância e pouco zelo doutrinário. O sistema mundano cada vez mais assolava Pérgamo, e esta nenhum zelo ou atenção demonstrava. Não adianta simplesmente possuir devoção para com Deus, é necessário igualmente perseverar em sua Palavra inspirada. Infelizmente, a cada dia que passa a igreja cristã, em especial à brasileira, se rende aos caprichos e desejos do mundo, sem falar em sua visão anticristã. Por vezes a cultura determina o método de evangelismo uma igreja e a carnalidade acaba por dominar toda a igreja, e assim acaba por inutilizá-la.


Arrepende-te, pois quando não, em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca”.

Tais tipos de pessoas não ficariam impunes diante de Deus. Aqui, Jesus faz um alerta àquela igreja. O julgamento contra os heréticos estava às portas. Quem estivesse mantendo contato e comunhão com tais tipos de falsos obreiros receberiam igualmente o julgamento. Ainda que o julgamento ecoasse em toda a igreja (“Em breve virei a ti”) somente os ímpios seriam julgados (“contra eles batalharei”). Todavia, acerca disso, algo importante é importante de ser refletido.

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém o conhece senão aquele que o recebe”.

O julgamento contra os ímpios dentro da igreja de Pérgamo traria uma terrível circunstância dentro daquela comunidade, e ninguém escaparia da provação oriunda de Deus. Nessa difícil tribulação,  quem vencer  em sua fidelidade, receberá a recompensa. Ao invés dos prazeres transitórios dos festivais pagãos, os crentes estariam nas bodas do cordeiro e participariam de uma comunhão especial com cristo (Lc 14:7-11). A pedra branca possivelmente estava relacionada ao significado da Pedra Branca recebida pelo vitorioso nos jogos gregos. Ela representaria a vitória sobre os inimigos de Deus.
Mesmo quando somos assolados pelos prazeres e conceitos deste mundo, e por vezes isso dentro de nossas próprias igrejas, sendo que estas cada vez mais casadas com o mundo. O Senhor Jesus nos encoraja a sermos fiéis, não somente em nossa vida particular, mas mesmo também diante da corrupção de nossas igrejas. Aos que se deparam com esse quadro em suas próprias congregações, o incentivo de Jesus à Pérgamo pertence também a estes: O julgamento virá, circunstâncias terríveis ocorrerão, mas quem vencer, comerá do maná escondido,  a ganhará a poderá branca da vitória, e isto não estará separado do novo nome de quem o recebe.

AMÉM.


Soli Deo Gloria

quarta-feira, abril 25, 2012

Reflexões: Eu, Charlie e o pecado.

                                        Cena do filme "O Amigo Oculto"

"Desventurado homem que eu sou, quem me livrará do corpo desta morte?" (Romanos 7.24)
Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
Romanos 7:24
Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
Romanos 7:24
Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
Romanos 7:

Eu estou sendo seguido. Não importa onde eu vá, eu sei que ele está perto de mim. Qualquer movimento em falso pode ser fatal. Já tentei achar um local onde ele não esteja sussurando, vezes sem conta, propostas pecaminosas em meus ouvidos. Mas não tive sucesso. Ele está sempre comigo.

Às vezes ele fica em silêncio. Parece mesmo que ele nem existe, de modo que por um bom tempo eu me sinta confortável em meu caminhar, despreocupado com seus astutos ataques malignos e pecaminosos. São exatamente nestes momentos que este maldito perseguidor costuma correr feroz, e ao mesmo tempo sutilmente, para me atacar com todas as suas forças.

Ele conhece minhas fraquezas, minhas lutas e aquilo que mais provavelmente pode me fazer pecar. O vasto conhecimento que este perverso possui acerca de mim tem sido construído desde o dia em que nasci - como disse o salmista Davi: "Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe"[1]. Pois ele é a minha velha natureza. Conhecido também por "velho homem", "carne", ou simplesmente "Charlie"[2]

Termino esta breve reflexão com as palavras de Thomas Watson tratando sobre o Pecado Original:

"O pecado de nossa natureza é como um leão adormecido cuja raiva é despertada pela mínima coisa. Ainda que o pecado de nossa natureza pareça quieto e repouse como o fogo escondido sob as brasas, basta revolver somente um pouquinho e sentir o pequeno sopro da tentação que ele se inflama rapidamente e se propaga em maldades escandalosas. E por isso que precisamos sempre caminhar com vigilância. 'O que, porém, vos digo a todos: vigiai!' (Mc 13.37). Um coração peregrino precisa de um olhar vigilante."[3]

Que Deus em Cristo me guarde de mim mesmo.


Notas:
[1] Sl 51.5.
[2] Quem não assistiu ainda o filme "O Amigo Oculto" (com Robert De Niro) não vai entender o porquê de "Charlie".
[3] Disponível em: http://www.josemarbessa.com/2010/09/pecado-original-seus-efeitos-thomas.html

 

sábado, abril 21, 2012

Esmirna: a Igreja Confessante e Mártir (subsídio para lições bíblicas)



A cidade de Esmirna gozava de grande fama, assim como Éfeso, devido a ser um centro de ciência e medicina, era conhecida pelo título de “Flor da Ásia” e gozava de boa prosperidade, pois também era um grande centro comercial, que abrigava uma grande colônia judaica e foi dali que surgiu o célebre pai da igreja Policarpo, discípulo do apóstolo João. Todavia, ao contrário da beleza arquitetônica da cidade, a igreja cristã localizada ali enfrentava os mais variados tipos de problemas.

Jesus fala para a igreja: "eu sei as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são, mas são sinagoga de Satanás" (Ap 2: 9), Jesus revela ter conhecimento das boas obras da igreja, assim conhecia a suas necessidades. Dentro disso é importante observar: Esmirna era uma igreja pobre, simples, maltratada, passando por tribulações e angústia, entre os motivos por causa de alguns judeus vindos de Satanás, pois estavam servindo ao seu propósito e não ao de Cristo.


“Mas tu és rico...”

Então, nessa hora, caso Jesus fosse formado na homilética da teologia da prosperidade, muito bem poderia ter dito: "Esmirna, não aceite isso, estou disposto a tirá-la desse sofrimento, decrete a mim que eu lhe tirarei dessa enrascada, lembrem-se que são príncipes!". Todavia, Jesus não se portou como os modernos pregadores da atualidade, pelo contrário, “Mas tu és rico”. Ela não possuía nada, mas tinha tudo! O que Jesus diz a essa igreja e a nós hoje é claro: Não precisamos ter um excesso de bens materiais para sermos vitoriosos e termos sucesso. Nosso lugar é no céu e não aqui. Se atentarmos somente para essa vida, seremos os mais miseráveis de todos os homens. Na igreja atual há certo inverso: há muitos ricos, mas que são pobres. Pobres de Cristo, infrutíferos espiritualmente, sem amor a Deus e a sua Palavra. Possuem o carro do mês e egos inflados, mas o poder de Deus e o enchimento do Espiríto estão longe deles; nessa hora que todos esses tipos de pessoas possam escutar a voz de Jesus, que nos dá uma aparente contradição de termos, mas que ilumina grandemente o nosso caminho.
a tribulação parecia só mais aumentar, o sol escurecer, a luz apagar, o que seria daquela sofredora igreja? Jesus diz algo surpreendente:

 "Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte..." ( Ap 2:10).

 Há certo paralelo com esse texto e aquele que encontramos em Lucas 22:30-32, onde Jesus afirma que Satanás estava disposto a cirandá-lo como trigo. O objetivo de Satanás talvez não fosse igual para a igreja de Esmirna, todavia bastante semelhante. Satanás queria que os pecados de Pedro ficassem à amostra, já com a igreja de Esmirna o que ele queria é que ela cometesse um pecado brutal: negasse o nome do Senhor (o mesmo que Pedro acabou cometendo), então Jesus diz: a prisão os aguardava, a maior provação até então haveria de vir, era necessário ser fiel até a morte. Jesus conclama Esmirna a perseverar em seu testemunho. Hoje em dia o conceito de martírio não abrange a gama de significados que refletia originalmente na língua grega, de onde se origina. O significado mais básico é dar testemunho (marturew), sendo que o mártir não seria necessariamente alguém que morre por uma causa, mas sim alguém que dá seu testemunho pessoal, sendo usado também no testemunho diante de um tribunal. Com o aumento das perseguições dos crentes pelo mundo romano, muito permaneciam dando testemunho de Cristo mesmo diante da morte. Com o passar do tempo, o termo mártir passou a estar associado com a “morte por uma causa”. Muitos genuinamente permaneceram fiéis até a morte. 50 anos depois que o livro de apocalipse foi escrito, Policarpo, discípulo de João bispo em Esmirna, experimentou a morte por martírio, aos 86 anos de idade. As últimas palavras de Policarpo, quando este estava sendo pressionado a renegar sua fé em Cristo, devem ecoar em nossos corações: “Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou? Eu sou um crente!” e assim, deu com o sangue um dos maiores testemunhos de Cristo. O medo que assolava Esmirna é o mesmo de muitos Crentes atuais: realmente conseguir pagar o preço para poder seguir a Cristo, ainda que esse preço seja tão caro que tenhamos que suportar a tribulação, a miséria e a morte. Mas a tribulação não duraria muito tempo. Teria um prazo de dez dias. Era necessário olhar para Cristo para poder passar esse difícil período. Essa experiência pode ser aplicada a cada um de nós a qualquer momento.

Nessa hora de tribulação, Cristo certamente não nos deixará sozinhos, pois Ele mesmo dá um belíssimo complemento: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida", o que exatamente constituía-se essa coroa? Seria esta uma coroa literal? É possível, mas ao que tudo indica pelo próprio contexto era o próprio Cristo, o Galardão, a herança eterna dos crentes fiéis, que não amaram a sua própria vida. No vale da sombra da morte, que possamos lembrar-nos disso: Olhemos para Jesus, e assim como Paulo, regozijemos em ter a honra de sofrer por Cristo, pois o que passamos aqui, comparado ao que vamos ter, é leve e momentâneo. Sim, Satanás fará de tudo para nos pegar, para nos peneirar como trigo, ele nos quer, mas lembremos: Deus também nos quer, é necessário ter vontade de perseverar, pois esse é o desejo de Deus e também o seu desejo é que Ele nos tenha! Que continuemos com firmeza a caminhada da vida cristã, ainda que seja difícil e repleta de dificuldades, porém jamais devemos negar o nome de Nosso Senhor. Tendo em mente constantemente essas palavras: "quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte" (Ap 2:11).

Soli Deo gloria

sexta-feira, abril 13, 2012

Éfeso, a Igreja do Amor Esquecido (subsídio para as Lições Bíblicas).

Em 2007, publiquei um comentário devocional sobre a carta à igreja de Éfeso, contida no Apocalipse do Apóstolo João. Esse comentário, que também continha elementos contextuais da igreja na ásia menor, foi revisto a adaptado como subsídio das lições bíblicas deste trimestre. Espero que este subsídio sirva de apoio aos irmãos que militam na Escola Dominical em favor da sã doutrina.


Biblioteca de Celso, nas ruínas da antiga Éfeso.

Fica claro no início do livro de Apocalipse que este se dirigia especificamente para as igrejas da Ásia: “João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e Paz sejam convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e dos sete espíritos que estão diante do seu trono.”(Ap 1:4). Pouco depois, Jesus aparece a João e ordena que ele escreva para as igrejas da Ásia, a começar por Éfeso: “Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta. Que dizia: Eu Sou o Alfa e o ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro. E envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia”(Ap 1:10-11).


Da cidade para uma igreja: Éfeso, uma introdução.


A cidade de Éfeso a presença evangelística do Apóstolo Paulo, que solidificou e praticamente fundou a igreja na região, pois lá encontrou pessoas que não haviam sido batizadas nem sabiam que havia o Espírito Santo (At 19: 1-2).  A visita de Paulo causou confusão na cidade, que era marcada por uma grande idolatria à deusa Diana. Os ourives da cidade, influenciados por Demétrio, que estava preocupado com seu emprego, desencadearam uma perseguição ao apóstolo, que só foi parado pela providencial mão de Deus sobre o escrivão da cidade (At 19:35-41). O fruto na cidade de Éfeso foi muito grande, pois milhares de livros esotéricos foram queimados.
A igreja também teve em sua companhia o amado Timóteo, que era como um filho adotivo de Paulo. Além dele, também tiveram o apostolo João, que permaneceu nessa igreja até a sua morte.


A carta de Jesus a Igreja em Éfeso:


Jesus começa elogiando grandemente a igreja em Éfeso: “conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que se dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste” (Ap 2:2).


O elogio de Jesus é importantíssimo para entendermos o contexto daquela igreja. Quando Paulo partiu definitivamente de Éfeso  ele alertou à igreja que se introduziriam falsos profetas que não poupariam o rebanho. O alerta foi em especial aos líderes daquela igreja (At 20: 28-32). Alguns comentaristas sugerem que os falsos obreiros a quem Paulo se refere são certos hereges gnósticos primitivos, o que é possível, mas tal sugestão é apenas especulativa, haja vista que o gnosticismo se torna mais latente na igreja primitiva no final do primeiro século. Mas então, o que aconteceu a Éfeso depois do discurso do Apóstolo? Ao que tudo indica realmente a palavra que Paulo pronunciou se cumpriu. Todavia, ele também sabendo da sua responsabilidade, enviou para a igreja seu filho na fé Timóteo, o que foi uma grande benção para aquela igreja, apesar de logo no inicio o rapaz apresentar timidez e ser novo demais para o pastorado, como Paulo revela na epístola para o jovem, que também fala que ele deveria refutar as falsas doutrinas e ser um exemplo de liderança na igreja. Depois de Timóteo, veio o Apóstolo João, que confirmou Éfeso como um importante centro apostólico.


Levando isso em conta, vemos porque Éfeso foi elogiada por Cristo. Ela havia lutado pelo Seu Nome, ela pôs à prova os que se diziam discípulos e não eram. Éfeso guerreou e permaneceu firme, e não se cansou! Ela foi como um boxeador inabalável, ainda que recebemos diversos golpes do adversário. Ela refutou as heresias e os mestres que a pregavam, mostrando que eles eram falsos apóstolos. Ela fora teologicamente equipada para isso, havia sido treinada por “um time de feras” experientes, “perfeitos”. Não é exagero classificarmos Éfeso como uma igreja completamente ortodoxa!,

“E sofreste...


 A batalha foi grande. A comunidade enfrentou a tribulação e angústia, porém trabalhou e não se cansou, continuaria o trabalhando a serviço de Cristo, pelejaria o quanto fosse necessário.

“Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor...”

Infelizmente há um “porém” em tudo isso. Éfeso havia perdido o seu primeiro amor. Cabe a nós perguntarmos: o que significa o primeiro amor? Os comentaristas não são tão unânimes como se imagina. Alguns afirmam que o primeiro amor se referia ao amor pelas almas perdidas, que não era mais o mesmo dos tempos do apóstolo Paulo, outros afirmam que o primeiro amor se referia à busca por Cristo, que não era mais fervorosa. Essas conclusões são complementares e não necessariamente contraditórias e nos ajudam a entender um pouco mais do contexto histórico daquela igreja. Todavia, falta algo. Muitos comentaristas são sensatos quando afirmam que na verdade o problema de Éfeso é que ela ERA UMA IGREJA EM POSIÇÃO DE BATALHA O TEMPO TODO. As lutas fizeram com que os cristãos efésios se concentrassem tanto em batalhas doutrinárias e em manter uma doutrina que deixaram o seu primeiro amor. A busca por Cristo não era mais zelosa e os cultos haviam se tornado rotineiros. Não somente a busca por Cristo, mas a comunhão com os irmãos, onde se mostraria o amar a Deus e amar ao próximo.


Observando tal quadro, lembramos da primeira carta do apóstolo João provavelmente escrita em Éfeso e destinada as igrejas sobre a sua supervisão,  que diz: “Se alguém diz: eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, a qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele também temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão”(1 Jo 4:20-21). As brigas estavam “esquentando” o ânimo da comunidade com ira e a contenda devia ser grande e já durara certo tempo, talvez foi por isso que o apóstolo Paulo escreveu a Timóteo sobre aquela igreja:” quero pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mão santas, sem ira nem contenda.”(1 Tm 2:8). A igreja não podia “sofrer”( que aqui, significa “suportar”) os maus, por isso estavam constantemente desconfiados, o relacionamento cristão estava abalado naquela comunidade. A repreensão de Jesus é clara: “lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu Castiçal, se não te arrependeres”, a igreja precisava voltar a ter aquela comunhão com Cristo e com os irmãos, ela não podia deixar que as lutas doutrinárias tomassem todo o tempo da sua atenção, tirassem a alegria da Salvação, a busca por Cristo e o amor ao próximo. Éfeso acabara se acomodando ao formalismo e o cristianismo regular, porém sem fervor espiritual.

Não podemos nos esquecer, todavia, o que Jesus fala para aquela que era uma das principais igrejas dos tempos bíblicos: “tens, porém, isto: que odeias as obras do nicolaítas, as quais também eu odeio” havia algo em Éfeso que fazia com que Jesus não derramasse sua ira, pelo menos temporariamente, ou então abrandasse o seu Juízo: ela odiava os nicolaítas. As opiniões sobre esse grupo divergem, alguns dizem que eram seguidores de Nicolau, o prosélito de Antioquia, que fora um dos sete diáconos escolhidos em Atos dos Apóstolos. Hoje essa não é a opinião dominante entre os estudiosos, sendo que é de difícil sustentar tal afirmação, haja vista que a Bíblia não faz nenhuma ligação a esse movimento com o diácono que, segundo o relato da Escritura, tinha um bom testemunho diante da congregação e era cheio do Espírito Santo (At . A maioria dos comentaristas  afirmam que eram pessoas que provocavam fornicações e outros pecados no povo de Deus. Seja qual for o caso, os nicolaítas pervertiam a doutrina apostólica e buscavam lançar um grave tropeço na causa do Evangelho.


A igreja em Éfeso: um péssimo exemplo?


É comum ouvirmos hoje em muitas pregações que a igreja está perdendo o seu primeiro amor por Cristo, o que é realmente uma verdade, porém muitas vezes isso se dá por causa da constante iniqüidade e não exatamente por aquilo que aconteceu a Éfeso. Muitos menosprezam essa igreja taxando-a de sem Cristo e sem fervor, uma igreja fria e seca, um péssimo exemplo para o cristianismo. Ainda que haja grande verdade em todas essas afirmações, não seria um equivocado procedimento atentarmos para o próprio elogio que Nosso Senhor dirige a Éfeso. Devemos lembrar-nos de tudo aquilo que Jesus disse sobre ela: a luta que enfrentou, os sofrimentos que passou, a paciência que exercitou, a Palavra que cumpriu. Tudo isso revela que Cristo verdadeiramente amava aquela igreja e jamais deixaria de reconhecer tudo aquilo que Ele fez de bom através dela, porém nosso Senhor falou, por amor a aquela grande comunidade cristã que era necessário se arrepender, voltar aos primeiros anos, lembrar de onde ela tinha caído. O problema aqui não é ela ser uma igreja que refutava as heresias, não, Cristo as elogia e até diz que ela tinha uma coisa importantíssima, ela odiava as obras más, que odiava, não os nicolaítas, mas suas obras diabólicas.


Muitos crentes hoje fazem uma divisão brutal entre ortodoxia e experiência, porém tal diferença não existe. Só teremos uma experiência correta com um pensamento correto, e um pensamento correto acerca de Deus, Salvação, fé, perseverança e Cruz só é possível através das Sagradas Escrituras.


Devemos sim imitar a Éfeso na luta contra as heresias, todavia devemos tomar cuidado,  em especial aqueles que pelejam bastante pela fé: não podemos esquecer de nosso primeiro amor, não podemos deixar de nos relacionar, não podemos deixar de amar aos homens, e acima de tudo a Nosso senhor Jesus Cristo. Devemos ter nossa consciência limpa, tanto para com Deus como para os homens. Sabendo que para com os homens que sempre praticamos o bem para a glória de Cristo. E ainda que não sejamos compreendidos, estejamos livres do sangue de todos, pois nunca deixamos de anunciar todo o conselho de Deus. Para com Deus, vigiemos, e nunca desviemos-nos de nosso primeiro amor para com Ele, lembrando que não estamos sós, pois Ele constantemente nos encoraja dizendo: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus” (Ap 2:7).



                                                                                Soli Deo Gloria.