quarta-feira, setembro 01, 2010

Lute pelas manhãs de domingo


Toda a manhã de domingo travo uma verdadeira guerra. Logo nos primeiros minutos pós-sono, a primeira guerra que travo é contra a preguiça misturada com o cansaço do dia anterior, que por vezes é repleto de atividades, tanto eclesiásticas quanto sociais.

Todavia, esse não é o maior embate que um professor de Escola Dominical enfrenta. Nesses poucos anos de como professor a infra-estrutura e o descaso de muitos colegas do mesmo ofício prejudicam o bom desempenho de uma escola dominical, às vezes dando quase uma noção na qual os incentivos que vemos em revistas de EBD não passam de mera suposição, dada a luta que nos aguarda em nossas congregações locais, quer sejam elas grandes ou pequenas. As pequenas possuem falta de espaço, enquanto que as grandes possuem um espaço extremamente mal distribuído, onde muitas vezes os carros, estacionamentos e monumentos imponentes são mais prioritários do que o rebanho de Cristo. Por isso, todo o professor que realmente busca se dedicar no ensino de Cristo, deve estar consciente que possivelmente travará uma guerra por sua própria aula.

Porém uma das maiores lutas, posso afirmar com certeza, não é simplesmente a falta de espaço ou o descaso quanto ao ensino bíblico dado pela liderança eclesial, mas por vezes o descaso que o próprio educando (em especial, os adolescentes) possui para com aquilo que está sendo ministrado, e pelo menos dentro de um contexto cristão, tenho por certo que não se pode simplesmente responsabilizar o professor( quando este se esforça no ensino). As razões não são poucas e ajuntam-se formando um só obstáculo. Creio que posso melhor expressar isso dentro de um contexto de faixa etária adolescente, faixa no qual já trabalho há certo tempo.

Preocupações com esta vida e pouca prática na leitura bíblica constituem um obstáculo considerável, porém nada se compara muitas vezes com o menosprezo dos pais pelo progresso dos filhos no conhecimento bíblico, sendo que focalizam mais o trabalho e a vida estudantil destes. Coisas importantes, porém não se comparam com coisas relacionadas ao seu futuro eterno! Porém há algo mais.

Todas as razões levantadas acima possuem validade e estão juntas, porém o maior problema que considero, sem dúvida, é algo que está muito acima do professor e da própria EBD: a falta de conversão de nossos alunos, juntamente com poucos exemplos de dedicação à suficiência das Escrituras testemunhados perante nosso alunos já convertidos. Diante de tais fatos, o que fazer? Como lutar pelas manhã de domingo? Creio que três elementos são indispensáveis para alguém que se propõe a ensinar:

1) Fidelidade às Escrituras: Quantos de nossos educadores dominicais possuem carisma e o dom da oratória, porém péssimos conhecedores da Bíblia, sendo que muitas vezes pouco se dedicam no aperfeiçoamento da aula e nada mais fazem do que transmitir clichês e frases de pára-choque de caminhões. Engana-se quem pensa que isso passa despercebido pelos alunos! Quanto maior profundidade bíblico teológica tiver sua aula, mais possibilidade você terá de testemunhar da glória de Deus na face de Cristo Jesus, pois a partir disso, é quase que impossível não despertar o interesse do aluno, pois o conhecimento de Deus será mostrado, o que muitas vezes pode chocá-los, amedrontá-los, encorajá-los, levá-los ao deleite ou então até mesmo causar violenta rejeição, porém a impassibilidade dificilmente será mantida.


2)Testemunho cristão: Por mais importante que seja a fidelidade do professor quanto à palavra revelada, isto por si mesmo pode não causar o impacto devido por um simples fato: o testemunho cristão é totalmente essencial. devemos viver aquilo que ensinamos e pregamos todos as manhãs de domingo no decorrer da semana. Acerca disso, Richard Baxter, em sua magnum opus Manual Pastoral do Discipulado (Cultura Cristã)¹ afirma:

"Preguem para sim mesmos os sermões que estudam, antes de pregar a outros. tal prática será para seu próprio bem e jamais será trabalho perdido; entretanto, eu falo sobre responsabilidade ministerial, isto é, que isso seja feito também para o bem da igreja. quando suas mentes se acertarem em santificação e paz, suas congregações participarão dos frutos do seu crescimento. suas orações, seu louvor e doutrina lhes serão como delícias celestiais. seus ouvintes perceberão que os senhores estiveram com Deus; aquilo que estiver em seus corações estará nos ouvidos deles".

O comentário de Baxter aplica-se perfeitamente a qualquer um que afirme ser mestre da palavra.

3) Oração perseverante: por mais que nos esforcemos, precisamos levar em conta que a Deus pertence a salvação e não a nós (Jn 2:9). Nossa tarefa é ensinar, crendo que o Espírito de Deus fará a obra nos corações (Mt 28:19). nossa responsabilidade está em orar de forma perseverante em favor daqueles a quem estamos ministrando, para que sejam salvos e dêem fruto. Nossa oração deve ser tão perseverante quanto a da viúva persistente(Lc 18:1-8) e do amigo importuno (Lc 11:5-10). Confiemos no bondoso Senhor, muito pode a oração do justo quando acompanhada de confissão de pecados (Tg 5:16).


Devemos lutar não somente pelas amanhã de domingo, mas lutar pela alegria de se deleitar em Deus ao conhecê-lo, não somente a nossa, mas também a de nossos próprios alunos.

Soli Deo Gloria


Nota:

[1] O título original desta é obra é mais conhecido como O Pastor Reformado, sendo extremamente recomendado para os ministros da Palavra, tanto experientes quanto os mais novos.

Um comentário:

Nilton Rodolfo disse...

Caro irmão e amigo, Victor. Como é interessante vê-lo escrever sobre tal tema de suma importância para as pessoas. Gostaria de acrescentar algo: tanto pastores quanto líderes tem a tentação de usarem as suas obrigações fora do púlpito como desculpas para que eles preguem sem preparo- principalmente se eles tem bastante responsabilidades que exigem tempo. Entretanto, nada pode se comparar com a pregação do Evangelho. Se Deus realmente nos chamou para tão grande obra, que nos preparemos com todas as nossas forças para realizá-la(clamando por Deus, estudando a Palavra,...)!
Como Spurgeon disse:" A força do sermão depende do que aconteceu antes do sermão."

Um grande abraço a todos.