sábado, dezembro 23, 2017

Natal: Celebrando a Encarnação do Verbo


Adoração dos Pastores, Rembrandt.

"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós. E vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai. Cheio de graça e de Verdade" (João 1.14).

"Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de EMANUEL. (EMANUEL, traduzido é: Deus Conosco) (Mateus 1.23).



É notável que lemos tanto no primeiro quanto no quarto evangelho declarações teológicas tão semelhantes,  o que não nos deveria surpreender, pois ainda que os evangelistas e apóstolos Mateus e João escreverem com perspectivas teológicas distintas, ambos testemunham do mesmo fato: a entrada do Deus eterno no tempo e no espaço, e , por que não poderíamos dizer, na própria humanidade? Na pessoa de Jesus, Deus esteve presente entre o homens. Andando, comendo, respirando.  No dizer de D. A. Carson, Mateus 1.23 evoca claramente João 1.14/18.1¹.  De maneira interessante, tanto Mateus quanto João, ao tratarem da encarnação, não utilizam propriamente nomes no sentido de “Jesus” ser o nome do messias, mas nomes-títulos ou nomes descritivos (Mateus usa “Emanuel”, João utiliza “Verbo”. No grego "Logos"). Tanto no evangelho segundo Mateus quanto em João, ambos os termos já não são mais utilizados, porém claramente definem Jesus e seu ministério também. Em João, ele é o verbo de Deus, o Logos que revela Deus o Pai e que assume a nossa natureza, enquanto que em Mateus ele é Emanuel, Deus que está entre o seu povo, pois foi concebido de maneira sobrenatural.

Em Cristo Jesus, vemos "Deus manifesto na carne", como muito bem expressou o apóstolo Paulo (1 Timóteo 3.16). As implicações disso não podem de maneira alguma passarem desapercebidas por nós.

Em Cristo, Deus nos falou de maneira plena e direta. Ainda que ele tivesse falado pessoalmente e de maneira infalível através dos profetas, vemos aqui que Deus nos fala por Meio do Filho (Hb 1.1), aquele que está em seu seio, que possui a mesma essência (João 1.18). Não há espaço para uma simples mitologia aqui, uma história com um fundo moral, mas sim uma declaração factual, de algo que ocorreu na história (Gl 4.4).

No natal,  celebramos não simplesmente o nascimento de um grande líder, ou um mestre judeu carismático, mas sim a vinda do Logos (Verbo, ou Palavra) de Deus a este mundo, assumindo a nossa natureza, porém sem pecado. Podemos celebrar a vinda daquele que veio nos salvar de nossos pecados, como seu próprio nome expressa: "O Senhor é a salvação". No dizer do teólogo anglicano Gerald Bray:

"A palavra não é um simples objeto, e sim o Filho de Deus, a Segunda pessoa da Trindade. Ao tornar-se carne, essa pessoa assumiu a natureza humana, não pelo desvestir da divindade, algo impossível, mas pela adição da segunda natureza - 'assumiu a humanidade em Deus', segundo os termo do credo atanasiano"².

Na pessoa de Jesus, o infinito se tornou também finito; o eterno, temporal; e o divino, igualmente assumiu  a natureza humana. Não há dúvida que nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente é  "Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da Eternidade, Princípe da Paz" (Is 9.6). Louvemos eternamente a Ele! confessemo-nos como Senhor e Salvador.

Ao contemplarmoes essas realidade e crermos em Deus, que nos enviou Jesus, não devemos jamais vacilar em nossa esperança que temos em Deus, pois sabemos que um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e esse menino cresceu, viveu sem pecado, morreu pelos nossos pecados, e ressuscitou para a nossa justificação, recebido na glória, para no Dia estabelecido retornar e reinar para sempre. Que as palavras de Inácio, pai da Igreja no século II, reluzam em nossos corações:
"Existe apenas um médico, carnal e espiritual, gerado e não-gerado, Deus feito carne,  Filho de Maria e Filho de Deus, vida verdadeira na morte, vida passível e agora impassível, Jesus Cristo nosso Senhor.
Um astro brilhou no céu mais do que todos os astros,  sua luz era indisível e sua novidade causou admiração. todos os astros, inclusive o sol e a lua, formaram um coro em torno do astro, e ele projetou sua luz mais do que todos. Houve admiração. Donde vinha a novidade tão estranha a eles? então, toda a magia foi destruída, todo laço de maldade foi abolido, toda ignorância foi dissipada e todo o reino foi arruinado, Quando Deus apareceu em forma humana, para uma novidade de vida eterna"³

O blog Servorum Dei deseja a todos os leitores um feliz natal, nas bençãos de Deus Pai, na proclamação de Cristo e no encorajamento do Divino e Santo Espírito.

Soli Deo Gloria


Notas:


1. CARSON, D. A. Comentário de Mateus. Tr. Lena Aranha e regina Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2011, p. 107.

2.BRAY, Gerald. Quem é Jesus? principais acontecimento de sua vida da preexistência à segunda vinda. Tr. Rogério Portella. São Paulo: Shedd publicações, 2008. p. 35.

3.ANTIOQUIA, Inácio de. In: Padres Apostólicos. Tr. Ivo Storniolo, euclides M. Balancin.  São Paulo: Paulus, 1995. p. 84; 88

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