terça-feira, outubro 21, 2014

A Justificação Pela Fé: Uma doutrina Distintamente evangélica.


Desde o século XVI, o mundo cristão testemunhou um dos maiores rompimentos dentro da igreja católica desde 1054, quando houve a separação entre os cristãos do ocidente (catolicismo romano) e do oriente (ortodoxia oriental). Encabeçada pelo monge alemão Martinho Lutero, a reforma protestante trouxe em seu bojo uma doutrina fundamental: A salvação, que provinha da graça, seria recebida unicamente pela fé em Cristo. No âmbito da igreja medieval, isso mexera com toda a estrutura católica. Lutero a classificou como doutrina fundamental, uma doutrina pela qual a igreja se firma ou cai1Na igreja católica da época de Lutero, as indulgências, os ritos penitenciais e outros elementos seriam meios para receber e garantir a salvação. Tudo isso tumultuou a vida de Lutero, pois ele reconhecia que não conseguia realmente ser aceito por Deus pelo ato de realizar obras meritórias, nem tampouco a “mediação dos santos” podia fazer algo a respeito. Após estudar profundamente a epístola ao Romanos, e depois Gálatas, as trevas desapareceram, e Lutero pôde entender o que Deus quer não são simplesmente atos externos e uma tentativa de comprar a salvação, mas sim a confiança nos méritos de Cristo, em sua morte e em sua ressurreição. Em outras palavras, a salvação é um dom de Deus, e não algo conquistado pelo esforço humano. Com isso, ocorreu um divisor de águas na teologia, na doutrina e na própria dinâmica da vida cristã.

A Bíblia está repleta de passagens onde mostra que o ser humano por si mesmo nada pode fazer por sua salvação, pois vive em estado de pecado (Cf. Sl 14.1-2; Rm 3.9-12), por isso sua justiça é repugnante  para Deus(Cf. Is 64.6). Portanto é Deus que providenciou a salvação humana enviando a seu filho Jesus Cristo, para que todo o que crê não pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3.16) e somente através d'Ele nos tornamos inocentes diante de Deus2. Contrariando o pensamento vigente na época em que Lutero escreveu suas 95 teses, e que ainda reverbera em muitas mentes, tanto católicas quanto protestantes que o ser humano, de alguma forma, deve se preparar e estar apto para receber a graça3 , a fé protestante evangélica sustenta que o ser humano se encontra no lamaçal do pecado e é Deus que providencia e opera a salvação no coração do homem. As obras não são condições básicas para a salvação. Como diz o teólogo Norman Geisler: “Se a salvação não fosse unicamente por fé, toda a mensagem do evangelho de João seria fraudulenta...Quando lhe perguntaram: 'Que faremos para executarmos as obras de Deus?' Jesus respondeu: 'a obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou' (Jo 6.29). Simplesmente falando, não existe mais nada que possamos fazer para a nossa justificação – Jesus já fez tudo (Jo 19.31)”4 .

Com isso, vemos que a Justificação pela fé (Sola fide) é algo a ser depositado unicamente em Cristo como único mediador entre Deus e os homens (Solus Christus - 1 Tm 2.5), com isso toda a mediação dos santos cai igualmente por terra. Portanto, a doutrina da justificação pela fé dá o entendimento necessário e adequado do que é ser um protestante e evangélico. Isso nos diferencia tanto histórica quanto teológica e doutrinariamente. Em dias de ecumenismo religioso pueril, onde muitos que ostentam o nome “protestante” devem lembrar realmente dos fundamentos da Reforma e da fé evangélica. Não há como classificar de genuinamente evangélica uma doutrina de fé que adiciona algo ao evangelho de Cristo (Gl 1.8). Desviar-se da doutrina da justificação pela fé é indubitavelmente afastar-se da própria verdade cristã.

Notas:

1 OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. Tr. Gordon Chow. São Paulo: Editora Vida, 2001.p. 399.

2 A palavra “justificar” (do gregro \”dikaio”), significa, basicamente ,”tornar justo”.

3 Uma interessante análise sobre isso se encontra em RUPP, E. Gordon. WATSON, Philip S(ORG). Lutero e Erasmo: Livre arbítrio e Salvação. Tr. Nélio Schineider. São Paulo: Editora Reflexão, 2014.

4 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática – volume 2.Tr. Marcelo Gonçalves e Degmar Ribas. Rio De Janeiro: CPAD, 2010. p.236.

Um comentário:

Joao Cruzue disse...

Aí, moçada do GQL: um grande abraço, Feliz Natal e um abençoado 2015 para vocês e suas distintas famílias. Em 2015 este Leão (GQL) vai rugir com muito entusiasmo.

Do irmão João Cruzué


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