sexta-feira, julho 08, 2016

Declaração de Fé Assembleiana: perigos e soluções.


Há algumas semanas atrás meu amigo e irmão em Cristo Gutierres Siqueira escreveu acerca da suposta “Confissão de Fé" assembleiana (termo utilizado pelo pastor Josué Gonçalves, que é um dos membros do comitê que elabora tal documento), termo esse que é na verdade rechaçado por outros pastores, que afirmam que na verdade não se trata de uma “Confissão de Fé” propriamente dita, mas sim de uma expansão do Cremos, que por sua vez é uma forma resumida da Declaração de Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus nos Estados Unidos1. Com o intuito de lidar com questões contemporâneas. Dentro disso, surgiu a questão da influência da doutrina calvinista dentro do meio assembleiano, algo que foi tratado por Gutierres como sendo de menor importância, um assunto secundário. Ainda que eu aprecie profundamente e recomende a confecção de um documento de tal envergadura e concorde com Gutierres em vários pontos, há certas preocupações que ainda se mantêm e questões que não são tão facilmente esclarecidas, as quais procurarei ver a seguir.

Primeiramente, Siqueira afirma que o uso do termo “Confissão de fé” é inapropriado, por ser algo associado às grandes confissões do período da Reforma e pós-reforma, como os Trinta e Nove Artigos da igreja Anglicana, a Fórmula de Concórdia dos luteranos, ou a célebre Confissão de Fé de Westminster, dos presbiterianos. Os “Credos” seriam os antigos documentos antigos da cristandade (Credo Apostólico, Atanasiano, Niceno, etc). Todavia, ainda que a síntese histórica de apresentada por Gutierres se justifique, as definições técnicas não correspondem totalmente com essa descrição. No dizer de Paulo Anglada: “Os credos são declarações de fé resumidas... as confissões distinguem-se dos credos em extensão, por serem mais detalhadas, e quanto à época em que foram escritas...”2

O termo “Confissão” foi empregado até meados do século XIX e se refere a um documento que declara a crença de determinada denominação de forma mais pormenorizada e sistemática, produzindo, como consequência, um sistema de teologia. Logo, o fato do pastor Josué Gonçalves denominar o documento assembleiano de “Confissão de Fé” não está longe da verdade como parece ser, ainda que, na era atual, a expressão “Declaração de Fé”, seja mais sofisticada.

Em segundo lugar, é interessante notar a questão da controvérsia calvinista e a produção dessa nova declaração. Acerca de não haver nenhum obreiro calvinista dentro do conselho, Gutierres comenta:

“Esse tipo de pergunta só faz quem não conhece a denominação. Os pastores calvinistas nas Assembleias de Deus são um grupo importante, mas ínfimo. A denominação tem milhares de pastores e milhões de obreiros, mas os declaradamente calvinistas não enchem um ônibus, especialmente entre aqueles com acesso a postos de influência nas convenções estaduais. É claro que é sempre bom ouvir a divergência, mas sem delimitação esse trabalho duraria anos ou até décadas”

Essa declaração pungente seria prontamente aceita por mim, se quase todos os envolvidos na confecção não fossem arminianos militantes e duramente contra o calvinismo e se essa Declaração não fosse escrita em meio a uma controvérsia envolvendo esse sistema teológico3.

Por um caminho melhor.

Não há problema, a meu ver, de uma Declaração de Fé, na verdade, penso ser um passo denominacional importante rumo a uma maturidade doutrinária, ordem em meio a confusão e erros do neopentecostalismo, e assume uma validade confessional necessária à denominação. Todavia, penso que tal documento precisa ser feito com cuidado e tolerância evangélica necessária com relação a questão principal envolvendo calvinismo e arminianismo, pelo menos seguindo um pouco a Declaração Doutrinária da Convenção Batitsa Brasileira, que dá certa liberdade a ambos os sistemas, ainda que tenha uma certa tendência arminiana em seu bojo doutrinário4.

Como será essa Declaração? Apenas o futuro dirá. Porém temos firme confiança num futuro dirigido pela providência perfeita do Rei dos Reis.


Amém!

Soli Deo Gloria!

1 Para saber mais sobre esta questão, leia dois \rtigos escritos por Gutierres Siquera disponíveis nos seguintes links:
2 ANGADA, Paulo. Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras. 2° ed. Ananideua: Knox Publicações, 2013 p. 21
3 O fato de serem poucos os estudiosos envolvidos nesta questão não desmerece o documento como uma Confissão representativa. No dizer de Anglada: “um credo ou confissão de Fé pode ser pessoal. Comumente, entretanto, esses termos são empregados para designar credos e confissões que, embora possam ter sido escritos por uma só pessoa, adquiriram representatividade, tendo sido adotados por igrejas, movimentos ou denominações” (Cf. ANGLADA, Op. Cit. p. 22)
4 Isso não só se refere a questão da controveŕsia Arminiano/Calvinista, mas pode também se aplicar em alguns pormenores, como por exemplo a questão do Dispensacionalismo Clássico/ Progressivo, a questão do pré/mid-tribulacionismo, ou até mesmo, com certo cuidado, a questão do Criacionismo Terra Jovem/Antiga (o Evolucionismo Teísta ou Criacionsimo Profressivo estaria totalmente fora de questão).

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