sábado, novembro 03, 2007

Polêmica, a prática da reforma ( que acabamos esquecendo)


O leitor que lê os escritos de Martinho Lutero certamente fica um tanto chocado com seu estilo de escrever. Em seus escritos há uma dureza, firmeza e até mesmo ofensas dadas nos adversários. À primeira vista, sem algum tipo de compaixão e piedade. Os escritos de Calvino e outros reformadores também esboçam um pouco disso. Não é duvidoso que muitos hoje, caso esses homens estivessem vivos, os taxassem de fanáticos ou extremamente radicais. Lutero tinha um temperamento um tanto explosivo, e às vezes isso refletia bastante em seus escritos ( o suficiente para que seus críticos o taxem como vilão), porém quem conhecia esses homens e outros de seus escritos também entenderia um pouco mais de seus motivos. Em um escrito no qual fala sobre Melancton Lutero afirma:” nasci para lutar contra os partidos e demônios. Eis a razão de meus escritos estarem cheios de guerra e tempestade. Tenho de desarraigar troncos, tirar espinhos e abrolhos, aterrar charcos e atoleiros. Sou o rude cantoneiro que prepara as estardas e aplaina os caminhos. Filipe[ referindo-se a Melancton], mestres em artes, adianta-se tranquila e brandamente e, com alegria, planta, semeia, cultiva e rega, segundo os dons que deus lhe concedeu com tanta liberdade”.

É verdade que Lutero até mesmo reconheceu que tinha sido muito duro em seus escritos. Porém o que devemos notar é que a linguagem que Lutero utiliza é decorrência direta do método de “debate” , que é a polêmica. Em um sentido um tanto quanto cristão, polêmica é a refutação, à vezes agressiva ou firme, de proposições doutrinárias que vão muito além da ortodoxia do cristianismo. Difere-se do irenismo, prática que deriva-se do pai da igreja Irineu. Neste método, o debate é dentro do contexto de cristãos ortodoxos que discordam em algum ponto um tanto quanto controverso da Bíblia, mas sem ferir a ortodoxia. O debate é calmo e amigável, dentro do contexto do amor cristão. Hoje em dia, muitos cristãos detestam a polêmica e apegam-se muito mais ao irenismo, afirmando que é o “melhor caminho e demonstração de amor cristão”, já existe até dizeres onde afirma-se que quem inventou a polêmica fora Satanás.

É verdade que muitas vezes no cristianismo onde deveria-se usar o irenismo usou-se de demasiada polêmica, o que de certa forma, traumatizou as mentes cristãs mais sensíveis, polêmica ás vezes, é demonstrada com zelo, mas sem conhecimento. Por outro lado, o irenismo extremado é por demais perigoso, ás vezes tendendo para o ecumenismo e o liberalismo. Um exemplo disso é o livro de Roger Olson, História das Controvérsias na Teologia Cristã, apesar de conter informações preciosas,o livro é por demais conciliador, ao ponto de Olson simpatizar até com a doutrina do purgatório, proposta por Tomás de Aquino.

Não é justo esquecermos que a polêmica foi muitas vezes utilizada pelo apóstolo Paulo em suas cartas, assim como outros autores, muitas vezes é necessário despertarmos uma geração com brado e exortação, todavia, às veze até mesmo cristãos, que ainda se encontram no limite da ortodoxia, precisam ser alertados por doutrinas que certamente o levarão para um conceito beirando a heresia, se é que isso esse conceito já não os alcançou. É verdade que muitas vezes podemos ser taxados de frios e sem amor, mas muitas vezes os polêmicos são bastante dóceis, e não significam que não tenham compaixão. Certa vez em um dos primeiros artigos do blog, fiz uma crítica as revistas de EBD da CPAD utilizando uma linguagem bastante polêmica, caso alguém ligado às revistas leia, como o pastor Esdras, peço que me perdoe sinceramente, até porque errei em alguns pontos de minha análise e colocações, e, como Lutero, talvez tenha sido duro demais,em nenhum momento espero estragar minha admiração pelo pastor Esdras e pela revista, que me acompanha desde que eu conheci a escola dominical.

Todavia, a despeito de alguns erros, a polêmica é uma “arte” necessária nesses tempos controversos de hoje, e de forma alguma deve ser menosprezada no mundo cristão, incluindo os pentecostais, que por muito tempo utilizaram a linguagem polêmica. Obviamente que essa polêmica também seja temperada com sabedoria, conhecimento e amor cristão.

Soli Deo Gloria

5 comentários:

Eduardo Neves disse...

Paz do Senhor!

Irmão Victor esta sua frase fala tudo:
"È verdade que muitas vezes podemos ser taxados de frios e sem amor, mas muitas vezes os polêmicos são bastante dóceis, e não significam que não tenham compaixão."

Que nosso Deus e Salvador Jesus Cristo te ilumine cada vez mais! Amém.

Unknown disse...

Irmão Victor, a paz do SENHOR

Ontem, se iniciou um debate quente na EBD. Eu estava falando dos exageros e espetáculos que alguns fazem em torno da cura-divina, então uma de minhas alunas disse que havia assitido um vídeo de Benny Hinn, onde ela ficou muito emocionada.
Esclareci para a classe que Benny Hinn prega práticas anti-bíblicas, como o "cair no espírito". Nesse momento o debate esquentou, pois três alunos concordavam com essas práticas.
O fato interessante foi a fala de um dos alunos: "Eu tenho essa opinião e respeito a sua opinião" e outro que disse: "É a minha opinião". Na verdade eles queriam acabar com o debate, pois não concordavam com "a minha visão radical".
Eu vi um proveito pedagógico muito grande nesse debate, e o debate mostrou que alguns de meus alunos tem uma visão muito neopentecostal das experiências cristãs. No final da aula ficou marcado, que vamos continuar o debate na próxima semana, em forma de estudo bíblico. Se vê aí, como você escreveu em seu texto, o valor do debate.

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Carlos Roberto, Pr. disse...

Caro Víctor Leonardo!
Ponderado seu artigo!
Cada um tem uma chamada ministerial, a minha por exemplo não é tipicamente apologética, no entanto, as aberrações tem se alastrado tanto, que já me vejo atuando nessa área, até por conta da responsabilidade que temos que ter com o rebanho que não é nosso, mas do Senhor.
Há pouco fiz um comentário no blog do Pastor Ciro, onde registro que a exortação e a correção também são demonstrações do amor de Deus para com a nossa vida.
Deus corrige aqueles a quem ama e os tem como filhos.
Os que são contrários a qualquer correção, ignoram essa parte da bíblia.
Parabéns pelas considerações.

Victor Leonardo Barbosa disse...

Olá eduardo, ralmente os polêmicos são muitas vezes, diferentes do que aprentam ser quando estão em debate, por isso não devemos julgar segundo a apar~encia, mas segundo a reta justiça.


Olá Gutierres, concordo com você, hoje infelizmente os crentes menosprezam por demais os debates, afirmando que não leam a lugar nenhum. Eu particulaemnte discordo desta opinião.


Obrigado pastor Carlos, quem dera que todos aqueles que não utilizam a polêmica compreendessem a nossa real intenção, obrigado pelo apoio!!!

Eliseu Antonio Gomes disse...

Victor

Apenas para relembrança:

“Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus” – Tiago 1.19-20.

O apóstolo Tiago escreveu com a autoridade de líder máximo da igreja. E suas palavras se dirigiram para irmãos que estavam foragidos, longe de suas casas, escondidos para não morrer. Ele apregoava o ato de “dar a outra face” para pessoas que viviam em extrema pressão. Ele deve ter dito isto para a esposa que perdeu seu marido, o filho que havia perdido os pais, pessoas que perderam todos os seus bens por amor a Cristo.

Não existem modelos humanos a ser seguidos. O único a ser imitado e que existe risco zero de indução ao pecado é Jesus Cristo.

Apesar do inegável valor do seu trabalho ao cristianismo, apóstolo Paulo pecou. Todos os seres humanos pecam, ele não foi exceção nem após o encontro com o Senhor em Damasco.

Tenho ouvido e lido muito mais vezes do que o normal alguns versículos que Paulo escreveu. Entendo que estão sendo usados em demasia. São: Filipenses 3.17; 1ª Corintios 4.16; e outros correlatos: “Sejam meus imitadores”.

Mas devemos imitá-lo de olhos fechados? Não. Tem que ser igual os bereanos fizeram.

É preciso imitar a fé dos nossos líderes e não eles em si (Hebreus 13.7).

Para alguns apologetas os acertos de Paulo passam como desapercebidos.

Em nome da apologética alguns têm atacado os hereges e não as suas heresias, atacado os pecadores e não os seus pecados. Muitos estão ocupados em comentar os pecados do passado dos irmãos e se esquecendo de usar a Palavra de Deus para instruir a igreja para não se pecar no futuro.

Buscando bases para alicerçar a prática da execração pública de alguns pecadores, ou tidos como pecadores, eles usam os casos de Himeneu e Alexandre (1ª Timóteo 1.20; 2º Timóteo 2.18). Porém, é necessário contextualizar os dois versículos. Paulo não citou Himeneu e Alexandre em público. Comentou com o seu discípulo, apenas, nos versículos que fazem parte de cartas pastorais. Não encontramos nos Evangelhos e epístolas os nomes desses hereges em citações digiridas aos membros comuns da igreja, aos pecadores que estão perdidos no mundo e muito menos aos detratores do Evangelho de Cristo que usam esses casos para escarnecer mais de Deus e de nós cristãos.

Terminando, seja observando os exemplos de Paulo ou Martinho Lutero, façamos igual fizeram os crentes bereanos.

Abraço na paz do Senhor