segunda-feira, abril 18, 2011

Uma Rosa para o Centenário


"Fechei-lhe os olhos, e uma tristeza infinita invadiu-me a alma. Estava prestes a transbordar em torrentes de lágrimas. Contudo, por um violento ato de vontade, meus olhos as absorveram até secar-lhes a fonte.

"[...]Depois, pouco a pouco, voltava a recordar os primeiros pensamentos sobre tua serva, seu comportamento piedoso para contigo, tão solícito e discreto para conosco, e do qual eu fora subitamente privado; e queria ainda chorar diante de ti, a respeito dela e por ela, a respeito de mim e por mim. Afinal, não mais reprimi as lágrimas, que correram à vontade; e sobre elas pousei o coração, que nelas encontrou repouso."[1]


A dor da perda aflui no coração de todos os tipos de homens- mesmo os mais fortes. Como relatado há algumas semanas, também não fiquei livre deste tipo de dor, a qual é extremamente difícil expressar em palavras.

Maria Baeta, conhecida entre os íntimos pelo apelido de "Bebé"- apelido este dado por seu pai, o português Abilio-, nasceu poucos anos depois de sua amada denominação.

Sendo o seu pai caxeiro-viajante, fora criada juntamente com suas irmãs por sua piedosa mãe; piedade oriunda da ação de Deus através dos missionários que evangelizaram o interior do estado do Pará.

Ela testemunhou o crescimento da maior denominação evangélica deste país. Batizada por Nels Nelson, o amado pastor de sua congregação, ela nunca esquecera os princípios do Evangelho. Princípios estes que, direta e indiretamente, permearam a criação de seus filhos, sendo meu pai o primogênito.

Nestes primeiros dias sem sua presença, não há como não sentir falta das conversas, do gênio tipicamente português, de seu apoio, de seu afeto. Não há como esquecer do testemunho dado ao neto, desde a mais tenra infância, oriundo de um coração que tinha o jeito de uma criança.

Com minha avó, pude logo ver o que era um cristianismo bíblico, e mais maduro, também pude contemplar a Assembleia de Deus que ela tanto amara, contada através de seus olhares. Pude ver a seriedade de homens como Nels Nelson, a gentileza e a simplicidade de Samuel Nistrom, e o genuíno caráter pastoral de Francisco Pereira- grande amigo seu e de sua família.

Bebé tinha um considerável medo da morte. Porém naquele dia, deitada naquele leito de hospital, vi uma pessoa tranquila e sem pavor, com um olhar não mais tão atento aos assuntos pertinentes a esta vida. Antes de sair daquele hospital, ainda contemplei seu sorriso, e tive a graça de lhe dar o beijo costumeiro.

Eu não podia deixar de agradecer a Papai, que por Sua graça me mostrou o quanto a Ele é preciosa a morte de seus santos[2].

Nestes dias, vários são os pedidos de contribuição para o centenário da Assembleia de Deus. Creio que mais valioso que o dinheiro é a memória desta mulher- bela como uma rosa, que não contemplou o centenário da igreja que tanto amava, mas ensinou, com seu testemunho, a todos em seu redor.

Celebraremos o centenário, para a memória dela e para a glória de Deus- de quem ela testificou do amor.

Que saudade de ti, ó Bebé.


Soli Deo Gloria.

(Escrito por Victor Leonardo)

Notas:
[1] Agostinho de Hipona. Confissões.
[2] Cf. Sl 116.15




2 comentários:

Memórias das Assembleias de Deus disse...

Linda homenagem! Também tenho saudades dos meus avós, que muito me ensinaram com seus testemunhos de fé e de vida. No meio de tanta confusão, de tantas polêmicas, esses exemplos nos dão força para acreditar na beleza e no poder do evangelho.

Um grande abraço!

daladier.blogspot.com disse...

Infelizmente candura e inocência já não faz parte do ideário de muitos de nossos líderes. Não era para ser assim, mas...