terça-feira, março 01, 2011

O "Cume da montanha", a confiança e a glória de Deus




Em uma das suas obras mais recentes¹, o teológo J. I. Packer escreveu:

"...é verdade que Deus não permite, em qualquer caso, que seu povo viva no pico da montanha'. os discípulos tiveram de deixar o monte da transfiguração e retornar com Jesus ao mundo ordinário, ao rés do chão".


Os êxtases espirituais, à luz da Bíblia, são importantes; e quando me refiro a extâse espiritual me refiro (assim como Packer) também a períodos de intenso avivamento e experiências espirituais sadias. Tais experiências são importantes e produzem um profundo impacto duradouro, mas não podemos negar que, durante o decorrer do labor cristão, tudo parece se resumir em uma só palavra: Fracasso.

Em caso de possíveis objeções, nos é necessário nos voltar para os homens do passado, servos do Altíssimo.

Em um momento de profunda depressão, João Calvino exclamou: " Tudo que eu fiz não teve valor algum...os ímpios alegremente atacarão essa palavra. Mas repito tudo de novo: tudo que fiz não teve valor algum"². Sentimentos semelhantes são encontrados em homens como S. Bernardo: " Falhei em meus propósitos...As minhas palavras e meus escritos foram um fracasso".

Jonathan Edwards poder ser considerado um dos grandes avivalistas da história do cristianismo. Porém passados alguns anos após o avivamento, a mesma congregação o desligou de seu pastorado, e ele terminou o final dos seus dias como um obscuro missionário.

Depois de travar grandes lutas contra as grandes bestas que ameaçavam a doutrina cristã na inglaterra, Charles Spurgeon tombou de cansaço no campo de batalha, que segundo um de seus mais renomados biógrafos, foi uma das principais causas que o levou à morte, sendo que a apatia e o aparente fracasso entre muitos. "Em vez de o considerarem um líder da fé evangélica, muitos agora pensavam nele como um obstinado arauto de uma era ultrapassada 'O último dos Puritanos'".³ E há muitos outros que podem ser citados, como C. S. Lewis ao perder sua amada Joy, perto daqueles que seriam os últimos anos de sua vida.

O medo do fracasso também foi encontrado no Apóstolo dos Gentios: "Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco" (Gl 4:11).

Durante seis anos, fui um líder, pregador e professor,além de coordenador do ensino dominical em uma conceituada congregação de minha amada denominação. Acompanhei o início e fim de ministérios, o crescimento e a queda, a busca pela Palavra e as heresias de muitos. Busquei anunciar o Evangelho do Reino o máximo que pude e hoje, há momentos que também experimento a "ressaca" da realidade que estamos tratando neste artigo.

Por vezes, o trabalhador da seara passa por frustrações e medos, tristezas pessoais e ministeriais. Relacionamentos rompidos, antigas batalhas aparentemente ganhas ressurgindo com nova roupagem e com novo vigor, mais brutais como nunca se viram e o tempo da colheita não parece chegar. Dentro de tão imensa seara, a vontade é de ficar, assim como Esdras, perplexo diante de tal situação espiritual apresentada diante dele. A única alternativa que temos parece ser olhar para os infrutuosos campos. Mas o quadro não estaria completo, falta algo mais a ser dito...


- A grande verdade, que não podemos jamais esquecer, é que não somos o Senhor da Seara.

Os picos de montanha virão, mas devemos sempre estar preparados para sofrer, e por certo, esperar situações de grande desânimo, tristeza e incerteza ministerial. Aquele que nos chamou a sermos fiéis também consolará os nossos corações, pois nosso Senhor não está indiferente com nossa fidelidade e tudo que fazemos pela fé em sua Maravilhosa graça. Confiemos No Senhor que nos chamou, e não em nosso próprio braço.

"Lembra-te de mim, Deus meu, para o bem"(Nm 13:31)

- Jamais teremos uma plena compreensão do fruto do nosso trabalho nesta vida.

Nossa coroa de glória está reservada, porém só poderemos contemplá-la no dia certo da coroação feita pelo Rei dos reis. Faz parte do propósito divino não nos mostrar todas a bençãos espirituais que podemos realizar quando somos fiéis ao Evangelho. O veterano Ockenga nunca imaginou que, ao ter a voz ecoando em um leito de um centro de saúde, pudesse se instrumento de conversão de um moribundo jovem, que hoje conhecemos por seu nome: John Piper.


- O fruto virá a tempo certo.

De imediato, o resultado parece ser desanimador diante da catástrofe espiritual que ronda nossas igrejas, infectadas doutrinária e eticamente; porém não é a toa que Aquele que nos chama "verá o fruto do trabalho de sua alma e ficará satisfeito" (Is 53:11b).

O mesmo Apóstolo receoso também pôde divinamente inspirado afirmar:

"Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor" (I Co 15:57-58).

Diante da murmuração dos discípulos, O Senhor falou acerca de maria, irmã de Lázaro, após ter derramado seu precioso perfume para o sepultamento de Jesus:

" Por que afligis esta mulher? pois praticou uma boa ação para comigo...Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua"(Mt 26: 10b,13)

O Deus que glorifica seu nome através de seus servos nunca os esquecerá. Podemos estar certos também que nunca os deixará de honrar, segundo o Louvor do Seu santo Nome. O resultado pode não ser de imediato, mas é certo que ele aparecerá, quer nesta geração, quer na outra. Que possamos nos deleitar e nos satisfazer em nosso maravilhoso Deus, que nos dá tão importantes promessas em sua Palavra.

Cabe aqui o testemunho convicto do Príncipe dos Pregadores:

"De minha parte, estou disposto a ser comido pelos cães nos próximos cinqüenta anos, mas o futuro mais distante me vindicará".

Cinqüenta anos se passaram, e ninguém pode deixar de mencionar a defesa e o amor pelo evangelho, sem citar ou ser influenciado por Charles Spurgeon.

Suportemos a fornalha da aflição, pois o Nosso Senhor estará conosco e glorificará Seu Nome.

Que o Nome de Jesus seja glorificado!!!

Soli Deo Gloria.


Notas:

[1] PACKER, J. I. Neemias, paixão pela fidelidade. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

[2] Com exceção de Spurgeon, as citações foram oriundas do excelente artigo escrito por David Wilkerson, que trata de forma muito mais magistral esse importante tema, para lê-lo, clique aqui.

[3] MURRAY,Iain. Spurgeon Versus Hipercavinismo: A Batalha pela Pregação do Evangelho.São Paulo: Editora PES, 2006.


Um comentário:

Nilton Rodolfo disse...

Parabéns pelo post, meu amigo!

Que Deus te abençoe- e seja bem-vindo ao ano de 2011 rsrs.

Creio que esta reflexão sobre o nosso ministério é crucial para este ano. Vejo que cada vez mais precisamos deixar de confiar em nossas próprias forças, estudos e até espiritualidade; e passar a confiar com mais intensidade na soberana graça de Deus.

"Oro a Deus para que quando nos depararmos com a escuridão destes dias; olhemos para o alto, e vejamos, como nunca antes, a sublime e gloriosa graça de Deus- e experimentar quão suficiente ela é para nós."

Que Deus abençoe a todos em Cristo.

Um abraço.